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EPISÓDIO # 06 - A VISÃO ESPÍRITA DA MORTE

  • Foto do escritor: Carlos A. Biella
    Carlos A. Biella
  • 1 de ago. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 23 de jul. de 2023


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A visão espírita da morte.


Morte, desencarne, passagem, seja lá o termo que utilizemos, a grande maioria das pessoas teme esta situação, comum a todos, que chamamos de morte. E o Espírita? Deveria o Espírita temer a morte? E você, teme a morte? É sobre isso que falaremos hoje. Sejam todos muito bem-vindos e aproveitem...

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Saudações a todos Este é o podcast espírita Mundo Espiritual, um podcast para difundir a mensagem espírita através da internet. A produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e falo da cidade de Jataí, aqui em Goiás. Você pode ouvir, baixar o podcast ou o conteúdo do episódio ou ainda entrar em contato conosco, através dos endereços https://podcastmundoespiritual.blogspot.com/ e http://mundoespiritual.podcloud.site/. Estamos também no Facebook (https://www.facebook.com/podcastmundoespiritual) e no Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCvE-E-zthITBCsrNNJa0ytw Caso queira, você pode nos encontrar no Spotify, Deezer, Google Podcast e também no iTunes, basta procurar por Mundo Espiritual na sessão de podcast. Ouça o áudio, leia o texto, curta, opine, comente, compartilhe...este é o Podcast Mundo Espiritual Bem, se vamos falar sobre a morte, nada melhor do que abrir o programa com uma música que nos fale de despedida, afinal, na morte deixamos de conviver com aqueles que por aqui ficam e seguimos nosso caminho. Na morte, sempre existe um sentimento de adeus. Assim, então, a Valsa do Adeus foi escolhida para abrir o episódio de hoje. A Valsa do Adeus foi composta por Frédéric François Chopin, ilustre compositor polonês, radicado na França, que viveu no século XIX. Essa valsa, chamada originalmente de Valsa em lá bemol maior Opus 69 No. 1, ficou conhecida como Valse de l’adieu (ou Valsa do Adeus). Foi composta em 1830, sendo dedicada, segundo alguns autores, provavelmente a Maria Wodzinsk, que, à época era uma jovem com apenas 16 anos e, segundo consta, estaria noiva de Chopin, mas seu casamento fora proibido, devido à frágil saúde do compositor, o que fez com que eles se separassem. Por isso a Valsa do Adeus! Desde as mais remotas civilizações, a morte é considerado um aspecto que fascina e aterroriza a humanidade, de uma forma geral. A morte e os eventos que ocorrem posteriormente, são fontes riquíssimas de inspiração filosófica e religiosa, ao longo da história humana, além de serem uma fonte sem fim de temores, angústias e ansiedades para praticamente todos nós. A imagem da morte, aquela representando um ceifador, uma esquelética figura vestida de negro e portando uma foice nas mãos, é, na realidade, uma mescla de culturas e histórias que foram se somando ao longo dos tempos. O Anjo da Morte, a que muitos se referem à figura do ceifador, pode se associar ao trigo, que na Bíblia representa a vida, sendo, portanto, sua colheita, pelo ceifador, a representação da morte. Essa figura representativa da morte, seja talvez mais próxima da cultura celta, já que uma história lá do século 13, traz uma representação de uma esquelética criatura chamada Ankou, que era considerada o “guia de almas”. Já a vestimenta preta teria sido acrescentada posteriormente, simbolizando luto. Ariano Suassuna, poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo e professor, autor do delicioso Auto da Compadecida, enviou, certa vez, uma carta ao jornalista Gerson Camarotti, respondendo a uma pergunta feita pelo jornalista sobre se, ele, Ariano tinha algum traço do caráter do personagem Chicó, que demonstrava covardia diante da morte, morte a quem Ariano costumava chamar de “Caetana”. A carta foi lida no programa da Rede Globo de televisão, Conversa com Bial, no dia 16 de junho de 2017 e dizia o seguinte: Meu caro GERSON CAMAROTTI Você me fez uma pergunta sobre a covardia de Chicó, indagando se eu me pareço com ele nesse traço. Não sei. Acho que, na vida, até hoje, só houve, para mim, uma situação de sério risco de vida: eu vinha em avião que começou a pegar fogo. Eu me portei bem, mas não sei se foi por coragem ou por ser uma pessoa que, por temperamento, sempre acha que tudo vai dar certo. Quer dizer: pode ter sido coragem, mas pode também ter sido otimismo imbecil. Por isso, acho que não sou covarde, como Chicó; mas também não posso afirmar que tenha coragem. Acho que só poderei saber isto se, no momento da morte – e caso minha agonia me dê tempo e condições para avaliar o que está acontecendo – eu olhar sem pavor a aproximação da Moça Caetana. Um abraço de Ariano Suassuna E já que citei o grande Ariano Suassuna e sua obra Auto da Compadecida, aqui estamos ouvindo Presepada, música de Sérgio Campello, que faz parte da trilha sonora do filme Auto da Compadecida, trilha essa executada pelo grupo instrumental pernambucano SaGrama. Talvez a morte seja um dos temas que mais causam medo e incerteza nas pessoas. Independente da classe social, da raça, do cargo que ocupa, todos vamos morrer um dia. Talvez essa certeza de que um dia a morte nos encontrará é que nos remeta mais medo. E o espírita, também teme a morte? No livro As vidas de Chico Xavier, escrito por Marcel Souto Maior, e eu li a sua 2ª edição, lançada em 2003 pela editora Planeta, encontramos a passagem citada por Chico Xavier no programa “Pinga Fogo”, da extinta TV Tupi de São Paulo. Ainda farei um episódio especial sobre o Chico... Neste programa, que foi ao ar no ano de 1971, Chico relata que se encontrava em um avião entre Uberaba e Belo Horizonte, no ano de 1959 e diante de uma situação de perigo, manifestou seu medo de morrer, ao que foi imediatamente repreendido por Emmanuel, seu guia espiritual. Mas, é melhor nós ouvirmos a história na voz do próprio Chico, quando indagado pelo apresentador Saulo Gomes, sobre o fato. Vamos lá, voltando a 1971, direto do túnel do tempo... (https://youtu.be/qSj_1WTH-9I) Grande Chico Xavier, mostrado que também era humano, como todos nós, inclusive com medo de morrer. Todos somos Espíritos, criados por Deus, simples e ignorantes e todos temos um longo caminho de evolução a percorrer, sendo que nossa evolução depende de inúmeras experiências na vida material. A cada nova experiência, nascemos, vivemos e... morremos! A morte é inevitável e, sendo assim, devemos aprender a lidar com ela, afinal de contas: Todos vamos morrer! Porém, a maior parte das pessoas dizem: - Não quero pensar na morte! - Não quero ir embora desta vida! - Morrer é ruim! - Tenho medo do que exista do “outro lado”! Mas, uma coisa é certa, e aqui, cá entre nós, eu vou te contar um segredo: Você, também vai morrer! Você já morreu outra tantas vezes e você irá morrer muitas outras. E cá entre nós, vou te contar outro segredo: a morte é um fato da vida! Todos nos preocupamos em viver! Corremos atrás de nossos sonhos, buscamos ganhar dinheiro para termos uma vida confortável. Por que, então, não ganharmos conhecimento para termos uma morte confortável? Assim, entender a morte é algo que pode nos trazer grandes benefícios. Um dos grandes problemas do ser humano é o apego. Todo apego dificulta no momento da morte. Na nossa morte, se estamos apegados a coisas materiais, a assuntos não resolvidos, a questões diversas, dificultamos o nosso processo de passagem para o plano espiritual, levando, assim, mais tempo para que os laços que prendem nosso espírito ao corpo físico, sejam rompidos. Na morte do outro, se ficamos questionando, o que será da nossa vida sem o outro, o porquê do outro ter nos deixado, e coisa deste tipo, prejudicamos o processo de passagem deste outro para o plano espiritual. Temos que entender que a surpresa que a morte nos provoca é compreensível, assim como são compreensíveis o sentimento de ausência e a saudade. Até mesmo a tristeza é compreensível. Ao fundo estamos ouvindo a música Drão, de Gilberto Gil, aqui com um belo e delicado arranjo que encontrei no Youtube, com o pianista, compositor e arranjador Cristóvão Bastos, com Ricardo Costa na bateria, Bruno Aguilar no baixo e Mauro Senise no sax. É realmente fantástico esse arranjo. Mas, o que dizer do sentimento de perda, que acompanha aqueles que ficam? Perdi meu pai...a arte brasileira perdeu um grande nome... Devemos encarar a morte não como um sentimento de perda. Devemos pensar que, caso essa pessoa que se “perdeu”, tenha sido uma grande pessoa para nós e para a comunidade, ela cumpriu seu papel, deu bons exemplos e foi, na realidade, um grande ganho termos convivido com ela. Lembre-se que Deus nunca pune nem premia, ou seja, não há injustiça divina. Nós somos donos de nosso próprio destino. Muito dizem, referindo-se à morte de alguém: Mas, ele morreu tão cedo... Mas, o que é o cedo? Todos nós vivemos o tempo que precisamos viver, mas também, todos nós vivemos da maneira que escolhemos viver. Queremos e buscamos viver muito e no entanto, não nos preocupamos em viver bem e isso está no nosso controle, já que vivemos da maneira que nós escolhemos viver. Ruim é chegar ao momento da morte e nos darmos conta que nossa vida foi vazia. Desta maneira, é importante chegarmos ao momento da morte com a certeza de termos feito um bom papel, de termos vivido bem. Afinal de contas, nossa vida, assim como o amor, é como um grão, uma semente de ilusão, que tem que morrer pra germinar, plantar nalgum lugar, ressuscitar do chão. Quem poderá fazer, aquele amor morrer, se o amor é como um grão, morre, nasce trigo, vive, morre pão. A música Drão é uma canção composta por Gilberto Gil em 1981 e lançada em 1982, faz parte do disco Um Banda Um, trata do divórcio de uma forma muito especial, com Gil compondo versos dedicados à sua separação de sua esposa Sandra Gadelha, conhecida pelo apelido de Drão. A letra da música é repleta de afeto, carinho e respeito. A música é, antes de tudo, uma lindíssima homenagem à ex-mulher de Gil e mãe de três dos seus filhos (Pedro, Preta e Maria). Sobre a canção, Gil conta no livro Todas As Letras (Cia das Letras, 2000): Sua criação apresentou altos graus de dificuldades porque ela lidava com um assunto denso – o amor e o desamor, o rompimento, o final de um casamento; porque era uma canção para Sandra e para mim. “Como é que eu vou passar tantas coisas numa canção só?”, eu me perguntava. Será que ele conseguiu passar tudo isso em uma música? Bom, é só conferir... Muitos devem se perguntar sobre como conversar com quem morreu, em um momento de oração. Bem, por que falar com quem morreu de um modo diferente do que falávamos durante sua vida conosco? Fale com intimidade, alegria e informalidade. Fale como se ainda estivesse ao seu lado. Ore por ele e ore com ele. Mas, lembre-se, não é por ter morrido que alguém irá se transformar em um “santo”. Meus caros amigos, ao morrer, não espere por nenhuma mágica: você continuará agindo da mesma maneira que agia ao viver. Certa vez ouvi uma palestra do Haroldo Dutra Dias em que ele conta uma história sobre um homem que era alcoólatra. Ele bebia tanto, tanto, até cair. E tinha uma esposa que reclamava e reclamava tanto! Certo dia, o marido desencarna e a esposa, que tanto reclamava do marido, agora não tendo mais do que reclamar, acabou desencarnando uma semana depois. Tempos depois, o filho do casal procura Divaldo Franco pedindo notícias dos seus pais. Como está o papai, perguntou ele. Divaldo respondeu: a mesma coisa, continua bebendo. E a mamãe, questiona o filho. Ao que Divaldo responde: a mesma coisa, continua reclamando... Pois é, a maneira como vivemos, segue conosco, mesmo após a morte. Não fique pedindo aos que morreram que intercedam a seu favor em todas as coisas. Peça a Deus, ao seu espírito protetor, à espiritualidade superior. Deixe os que morreram seguir o seu caminho, deixe que o espírito após a morte siga seu processo evolutivo. Lembremos que, mesmo sem chamarmos, aqueles que nos amam querem estar a nosso lado, seja uma mãe, um pai, um amigo... Devemos deixar que eles sigam seu caminho, sem se preocuparem conosco. Deixar claro que foram muito importantes para nós enquanto conviveram conosco, mas que devem seguir em frente. E quanto a saudade? Existe a saudade boa, que é lembrar das coisas boas que foram compartilhadas com aquele que morreu e existe a saudade ruim, tentar trazer de volta aquele que já partiu; aquela cobrança sobre termos ficado sozinho; de termos sido abandonado. Agindo deste modo, estaremos funcionando como uma âncora, a segurar o espírito que deve buscar sua evolução. Abro espaço aqui para reproduzir o lindo depoimento de uma filha após a morte de seu pai. Em fevereiro de 2014, ao cobrir uma manifestação contra o aumento da tarifa do transporte público no centro do Rio de Janeiro, o cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, foi atingido por um rojão, vindo a desencarnar quatro dias depois. Sua filha, Vanessa Andrade, postou uma mensagem sobre o pai no Facebook, contando como foi sua despedida do pai. “Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada no seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar de minha mãe e dos meus avós. Ele estava quietinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se despediu. Sei que ele está bem. Claro que está. E eu sou a continuação da vida dele. Um dia meus futuros filhos saberão quem foi Santiago Andrade, o avô deles. Mas eu, somente eu, saberei o orgulho de ter o nome dele na minha identidade. Obrigada, meu Deus. Porque tive a chance de amar e ser amada. Tive todas as alegrias e tristezas de pai e filha. Eu tive um pai. E ele teve uma filha. Obrigada a todos. Ele também agradece. Eu sou Vanessa Andrade, tenho 29 anos e os anjinhos do céu acabam de ganhar um pai”. Tudo que Vanessa fez na morte do pai foi enternecer-se e agradecer a Deus, ao pai e a todos, a alegria do convívio com seu pai. Relatou que, como todos, ela teve alegrias e tristezas. Como todos, ela diz ter tido falhas. Mas como poucos, Vanessa reconhece e agradece a beleza do convívio que teve junto a seu pai. Que bom será quando todos nós formos como ela. Que bom será quando todos nós soubermos reconhecer o ganho que é vivermos e convivermos com todos os que estão à nossa volta. Quando isso acontecer, a morte desses e a nossa morte não passarão de apenas mais um belo marco nas nossas vidas. Afinal de contas, conforme a música da banda inglesa Queen, Who wants to live forever? Who wants to live forever? Quem quer viver para sempre? Música do álbum A Kind of Magic (1986), composta por Brian May e tema do filme Highlander, aqui apresentada pela London Symphony Orchestra. Mas, como um grande fã da banda Queen, não vou perder a oportunidade de ouvir, nem que seja um pouquinho, a música com eles... chega mais, Freddie Mercury! No livro Religiões da Humanidade, de 1991, o autor Waldomiro Piazza diz que vários mitos, especialmente africanos, falam que a morte não estava nos planos do criador. A morte teria advindo ao homem por culpa deste, ou então, de um mensageiro infiel que não soube transmitir ao homem a boa nova da imortalidade, trocando a mensagem pela notícia da morte universal, o que faz com que a morte seja um “acidente imprevisto” nos planos do criador, mas que é permitida, pelo criador, para fins pedagógicos. Temos uma ilusão de que a morte coloca um fim em tudo. Não é assim. André Luiz, inicia a introdução do livro Nosso lar, dizendo: A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é o jogo escuro das ilusões. E a primeira ilusão que a morte mata é a ilusão que nós morremos. Ninguém morre! O que morre é o corpo físico e o que cessa é nossa experiência nesta vida material. Ficam aqui, três coisas para serem sempre lembradas sobre a morte: A morte é um fenômeno biológico comum, A morte é apenas uma transição, A morte é um instante em meio a um caminho infinito. Mas, e se você desencarnasse agora? Voltaria ao plano espiritual com qual das malas cheias? Virtudes ou vícios? Boas ações ou maldades? Temos, sempre, que nos lembrar da Lei de ação e reação, ou seja, colhemos o que plantamos. Outra ilusão que a morte mata é a de que, depois de morrermos, vamos encontrar uma realidade diferente da que vivemos por aqui. Lembre-se que a morte não faz nenhuma mágica que transforma o indivíduo. Realmente, a morte não é um ponto final. Algum tempo atrás montei uma palestra sobre este tema, a morte. Fiz uma apresentação de slides, repleta de fotos muito bonitas e apresentei todos os textos sem nenhum ponto final nas frases e ao final da palestra, no último slide, terminei com a palavra morte, seguida por três pontos. Então, eu disse que a morte não é um ponto final. Ela indica uma continuação, por isso os três pontos após a palavra. Nesta apresentação, como citei, usei inúmeras imagens de jardins belíssimos, com canteiros floridos, lago, grama aparada, flores coloridas...um verdadeiro refúgio para um momento de descanso e de meditação. Todas as fotos foram feitas no cemitério de Zollikon, uma pequena comunidade suíça, encostada em Zurique. Aproveitei para comentar como temos uma visão enegrecida da morte e quis passar uma visão mais bonita, conforme as imagens que usei. Assim, a morte indica não um final, mas uma continuação e nesta continuação, as consequências futuras irão refletir as ações praticadas nesta vida material que estará cessando. Praticar o bem, a caridade. Aprender a perdoar. Aprender a amar. Aprender a seguir os ensinamentos do Cristo. E você, tem medo da morte? Está se preparando para quando o Ceifador aparecer para te buscar? Não se entristeça, nem tampouco se desespere... todos iremos morrer, mais cedo ou mais tarde. O que realmente importa é seguirmos vivendo, da melhor maneira possível. O escritor, psicanalista e professor Rubem Alves, de quem sou um grande admirador, escreveu no caderno Sinapse, do jornal Folha de São Paulo, na edição de 12 de outubro de 2003, o texto “Sobre a morte e o morrer”, cujo link está no roteiro deste episódio, para quem quiser conferir. (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1210200309.htm). Trago aqui alguns trechos daquele texto. Rubem Alves começa o texto dizendo: Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora... Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade. Mais a frente ele conta sobre a Dona Clara... Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa..." E segue dizendo: Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza. Essa passagem do texto me chamou muito a atenção: Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?". Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que frequentemente se dá o nome de ética. Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelângelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo. O escritor libanês Khalil Gibran, no genial livro O Profeta, lançado em 1923, traz uma resposta ao questionamento a respeito da morte. Quereis conhecer o segredo da morte. Mas como podereis descobri-lo se não o procurardes no coração da vida? A coruja, cujos olhos, feitos para a noite, são velados ao dia, não pode descortinar o mistério da luz. Se quereis realmente contemplar o espírito da morte, abri amplamente as portas do vosso coração ao corpo da vida. Pois a vida e a morte são uma e a mesma coisa, como o rio e o mar são uma e a mesma coisa. Na profundeza de vossas esperanças e aspirações dorme vosso silencioso conhecimento do além; e como sementes sonhando sob a neve, assim vosso coração sonha com a primavera. Confiai nos sonhos, pois neles se ocultam as portas da eternidade. Vosso temor da morte é semelhante ao temor do camponês quando comparece diante do rei, e este lhe estende a mão em sinal de consideração. Não se regozija o camponês, apesar do seu temor, de receber as insígnias do rei? Contudo, não está ele mais atento ao seu temor do que à distinção recebida? Pois, que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol? E que é cessar de respirar senão libertar o hálito de suas marés agitadas, afim de que se levante e se expanda e procure a Deus livremente? É somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar. É somente quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir. É quando a terra reivindicar vossos membros que podereis verdadeiramente dançar. Deste modo, quando entendemos que a morte faz parte do viver, entendemos que Deus é maior... maior é Deus... E assim, ao som de Clareou, música de Serginho Meriti e Rodrigo Leite, aqui com Diogo Nogueira, música que faz parte do álbum Alma Brasileira, de 2016, que vamos chegando ao final do episódio de hoje. Os Espíritos Superiores nos deixaram um alento no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, quando disseram: conforme avançarmos em nossa caminhada evolutiva, a morte, longe de causar pavor, é considerada uma transformação feliz, por isso que lá (nos mundos mais adiantados) não existe a dúvida sobre o porvir. E assim vamos todos nós, avançando... Vamos caminhando para o final do episódio e a respeito do tema de hoje, a morte, tem um livro muito gostoso de ler, que é A morte na visão do Espiritismo, de Alexandre Caldini Neto, onde Caldini explica para uma adolescente cuja mãe havia acabado de desencarnar, como o Espiritismo entende o tema. Traz, numa linguagem clara e direta, algumas dicas de como lidar com a morte de alguém que amamos e também com nossa própria morte. É uma boa leitura. Confiram. Este é o podcast espírita Mundo Espiritual. A produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e falo da cidade de Jataí em Goiás. Lembrando que você pode ouvir, baixar o podcast ou o conteúdo do episódio ou ainda entrar em contato conosco, através dos endereços https://podcastmundoespiritual.blogspot.com/ e http://mundoespiritual.podcloud.site/. Você também pode encontrar todos os episódios no endereço http://mundoespiritual.podcloud.site/ Estamos também no Facebook (https://www.facebook.com/podcastmundoespiritual) e no Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCvE-E-zthITBCsrNNJa0ytw Caso queira, você pode nos encontrar no Spotify, Deezer, Google Podcast e também no iTunes, basta procurar por Mundo Espiritual na sessão de podcast. Ouça o áudio, leia o texto, curta, opine, comente, compartilhe...este é o Podcast Mundo Espiritual Para finalizar, um trecho da carta de despedida de Rubem Alves endereçada à seus filhos: Sou grato pela minha vida. Não terei últimas palavras a dizer. As que tinha para dizer, disse durante a minha vida. Recebi Muito. Fui muito amado. Tive muitos amigos. Plantei árvores, fiz jardins. Construí fontes, escrevi livros. Tive filhos, viajei, experimentei a beleza, lutei pelos meus sonhos. Que mais pode um homem desejar? Eu procurei fazer aquilo que meu coração pedia. Fique todos em paz e até o nosso próximo episódio.


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