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EPISÓDIO # 17 - PEGAR UM SONHO E PARTIR

  • Foto do escritor: Carlos A. Biella
    Carlos A. Biella
  • 18 de fev. de 2021
  • 1 min de leitura

Atualizado: 23 de jul. de 2023


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Pegar um sonho e partir.


Quantas vezes nós pegamos um sonho e partimos e, no meio da jornada, acabamos por abandonar este sonho, não é mesmo?

Então, peguem seus sonhos, sejam todos muito benvindos e aproveitem.

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Saudações a todos Este é o podcast Mundo Espiritual e nós estamos de volta, iniciando nossa segunda temporada. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas. Já a arte das capas dos episódios é feita pelo Gustavo Crispim. Lembrando que você pode ouvir, baixar o podcast ou o conteúdo do episódio ou ainda entrar em contato conosco, através dos endereços que estão na transcrição deste episódio (https://podcastmundoespiritual.blogspot.com/ e http://mundoespiritual.podcloud.site/). Estamos também no Facebook (https://www.facebook.com/podcastmundoespiritual) e no Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCvE-E-zthITBCsrNNJa0ytw). E caso queira, você pode nos encontrar no Spotify, Deezer, Google Podcast e no iTunes, basta procurar por Mundo Espiritual na sessão de podcast. Ouça o áudio, leia o texto, curta, opine, comente, compartilhe...este é o Podcast Mundo Espiritual. Começamos esta segunda temporada em alto estilo, com uma música de Gonzaguinha, aqui na interpretação do saudoso Emílio Santiago. Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o querido Gonzaguinha, que eu tanto gosto, era filho de um dos grandes cantores e compositores brasileiros, o pernambucano Luiz Gonzaga, o “rei do baião”. Foi criado no Morro de São Carlos, no bairro de Estácio, no Rio de Janeiro por seus padrinhos, Henrique Xavier e Leopoldina de Castro Xavier, a “Dina” de que fala a música Com a perna no mundo, lançada em 1979, no álbum Gonzaguinha da vida. Música esta que serviu de inspiração para este episódio. Acreditava na vida... Pois é, a vida é isso, um constante ciclo de passado, presente e futuro, que vai se repetindo a medida em que vamos nos aprimorando, moral e intelectualmente. Temos uma vida material, que se inicia no nascimento e se encerra com a morte do corpo físico. Mas, temos a nossa verdadeira vida, que se iniciou na nossa criação como espírito e que segue rumo ao infinito. Se pegarmos um pedaço de linha, destas de costura e o esticarmos, segurando suas pontas com as duas mãos, podemos imaginar nossa vida material, iniciando numa ponta e terminando noutra. No entanto, não sabemos quando e onde este ponto final está. Hoje, estamos em algum lugar ao longo desta linha, estamos vivendo o que chamamos de presente, sendo o que está para trás deste ponto, o passado e, para frente deste ponto, o futuro. A música diz: passado, é um pé no chão e um sabiá... são as lembranças do que passou, o que já vivemos e que não volta mais. O passado, nós não mudamos mais. Presente, é uma porta aberta. Aberta a novas descobertas, a novas atitudes, a novas oportunidades que podemos assumir a cada novo dia. Quantas portas surgem em nossa vida e, muitas vezes por receio, não as abrimos. Quem sabe quantas oportunidades são deixadas, fechadas nas inúmeras portas que se abrem a nossa frente e que as ignoramos? E o futuro? Conforme diz a letra da música, o futuro é o que virá! Lembrando que o presente influencia o futuro. Quem sabe quanto tempo ainda temos nessa vida material em que estamos? Quem sabe em que ponto exato estamos ao longo de nossa linha da vida? É, não é para se pensar sobre isso, de vez em quando? Pegar um sonho e partir, conforme a letra discorre. Quantas vezes não fazemos isso? Será que podemos fazer uma analogia ao processo reencarnatório? Afinal, a cada nova reencarnação, fazemos todo um planejamento e nos dirigimos para nosso destino na vida material. Não seria isso, como pegar um sonho e partir? Assim, a reencarnação é a porta aberta para uma nova oportunidade e uma nova oportunidade de pegarmos o sonho que trouxemos ao renascer em um novo corpo físico e buscar realiza-lo. Então, será que estamos preparados para realizar aquilo que sonhamos, quando partimos para uma nova experiência corporal? Isso, sem dúvida, depende unicamente de cada um de nós. Quantos de nós não sonhamos com tanta coisa que não conseguimos realizar... Quantos de nós não planejou sua reencarnação e não consegue realizar... Ainda somos espíritos imaturos, vivendo em um mundo ainda imaturo, que passa por um processo de transição. Nosso destino é viver, conforme disse o Cristo, num mundo de felicidade, o Reino de Deus, ou o Reino dos Céus, que não é esse em que vivemos encarnados. Lembram-se que ele dizia que seu reino não era deste mundo. Esse é o objetivo de tantas encarnações, de tantas provas e de tanta dor que passamos ao longo de nossas existências corporais. Estamos preparados para nossa felicidade plena? Com certeza, ainda não. Mas, será que estamos nos preparando para alcançarmos essa verdadeira felicidade, o mais breve possível? Aí, depende de cada um de nós responder. Jesus falava muito por parábolas e assim o fazia para poder levar sua mensagem a todos os grupos de pessoas da sociedade em que vivia, independente de classe social, de idade, de sexo... Na chamada parábola do Bom samaritano, que pode ser conferida no Novo Testamento, no Evangelho de Lucas (Lucas 10:25-37), um doutor da lei diz a Jesus: Mestre, o que tenho que fazer para alcançar a vida eterna? E Jesus lhe pergunta: o que está escrito na lei? Diz então o doutor da lei: Amarás o senhor teu Deus de todo coração e teu próximo como a ti mesmo. Jesus, então diz: Faça isso, então! Mas, o doutor da lei, não satisfeito, ainda questiona: mas, quem é o meu próximo? Aí, então, Jesus conta uma história, que ficou conhecida como sendo a parábola do Bom Samaritano... E eu vou usar aqui a tradução do Haroldo Dutra Dias de O Novo Testamento, para narrar esta parábola. Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes, os quais, depois de havê-lo despojado e espancado, retiraram-se, deixando-o semimorto. Por coincidência, certo sacerdote descia por aquele caminho e, ao vê-lo, passou pelo lado oposto. De forma semelhante, também um levita, que vinha por aquele lugar, ao vê-lo, passou pelo lado oposto. Certo samaritano, em viagem, veio até ele e, ao vê-lo, compadeceu-se. E aproximando-se, atou os ferimentos dele, derramando óleo de oliva e vinho. Após colocá-lo sobre seu próprio animal de carga, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao hospedeiro, e disse: Cuida dele, e o que gastares a mais, quando eu retornar, te pagarei. A título de observação, o denário era uma pequena moeda de prata, que circulava pelo Império Romano e correspondia ao salário pago por um dia de trabalho no campo. Então, perguntou Jesus: Qual destes três te parece ter-se tornado o próximo do que caiu nas mãos dos assaltantes? E o doutor da lei respondeu: O que praticou a misericórdia com ele. E Jesus lhe disse: Vá e faze tu do mesmo modo. Este é o grupo espírita Acorde, de João Pessoa, criado em 1994, aqui com a música Bom Samaritano, do álbum 25 anos, lançado em 2019. Pois bem, Cristo chama atenção ao “amar ao próximo” e coloca como o “mocinho” da história, um samaritano, e os samaritanos não eram bem vistos pelos hebreus, uma vez que eram considerados como traidores dos costumes hebreus. Cristo queria mostrar ao doutor da lei que para amar ao próximo, não basta que você tenha consciência da lei, você precisa introjeta-la, precisa coloca-la dentro de si. Quando o doutor da lei questiona, Quem é meu próximo, havia todo um contexto a ser entendido aqui, uma vez que os hebreus não se davam bem com alguns grupos daquela época, como os samaritanos, os gentios, os publicanos, os romanos... A parábola diz que o homem descia de Jerusalém para Jericó. Aqui temos uma importante observação. Jerusalém era a Cidade do Templo e pode simbolizar a sacralidade, pode simbolizar a espiritualidade. Já a cidade de Jericó era a Cidade do Comércio e pode simbolizar a materialidade. Quando ele diz que o homem descia, podemos entender que ele estava em queda, dos valores espirituais para os valores materiais. Normalmente, quando estamos em queda, os atropelos nos alcançam e, nessa queda, o homem é assaltado. Segue a parábola dizendo que um sacerdote ia pelo mesmo caminho e não ajudou. O sacerdote é o responsável pelos valores espirituais e, como ia no mesmo caminho que o homem que foi assaltado, também estava em queda. O sacerdote não prestou auxílio. Um levita ia pelo mesmo modo, veja bem, pelo mesmo modo, ou seja, também estava em queda, e também não o ajudou. O levita era o estudioso, responsável pela ordem no Templo. Assim, nem o conhecimento técnico, no caso o levita, nem o conhecimento religioso, no caso o sacerdote, foram suficientes para auxiliar o próximo. Quem está em queda, não consegue enxergar os necessitados, por isso, não auxiliaram o assaltado. Mas, um samaritano aparece na narrativa. Os samaritanos eram, para os judeus, heréticos, sendo assim, desprezados e perseguidos. E esse samaritano não ia pelo mesmo caminho ou pelo mesmo modo, ou sejam ele não estava em queda, ele ia em viagem, ou seja, estava em missão, estava a trabalho e, quem está em viagem, se prepara para o caminho. E a narrativa diz que este samaritano, aproximou-se do assaltado, movido de íntima compaixão, ou seja, movido por compaixão interior. E ajudou plenamente a este homem, seu próximo. Assim, durante nossa vida, surgem inúmeras oportunidades para que possamos evoluir moral e intelectualmente, mas, como ainda estamos em queda, na maioria das vezes, passamos ao longe, como fizeram o sacerdote e o levita. As atitudes e os exemplos foram o maior legado que Cristo nos deixou. Atitudes e exemplos, tão simples, mas tão difíceis de seguir. E nossos comportamentos e atitudes mostram quem somos na realidade. Será que temos nos comportado corretamente perante nosso próximo? Será que temos aproveitado a oportunidade que nos foi dada? A nossa vida! Os exemplos do Cristo são as sementes jogadas para serem semeadas, em cada ser humano que já habitou ou ainda habitará este planeta. Lembremos da parábola do semeador, que sai a semear e espalha sementes em diferentes locais. Algumas sementes caíram na beira do caminho e foram comidas pelos pássaros. Outras sementes caíram em solo pedregoso e, sem a terra para sustentar as raízes, rapidamente morreram. Outras ainda caíram em meio aos espinheiros e, logo após germinarem, foram mortas por sufocamento. Algumas sementes caíram em solo fértil e estas germinaram e deram frutos. Como nós recebemos a mensagem do Cristo? O que somos perante a palavra de Cristo? Sementes soltas, devoradas pelos pássaros? Um solo pedregoso, que não dá a mínima chance de germinação? Um espinheiro, onde sua mensagem, mesmo começando a germinar, é logo sufocada pelos espinhos? Ou somos um solo fértil, prontos para recebermos a mensagem do Cristo e deixarmos ela germinar e frutificar? Temos aqui o Coral Palestrina, grupo musical católico paranaense da cidade de Apucarana, fundado em 1970, com a música O Semeador, que faz parte do álbum Cantos de Abertura e Comunhão, lançado em 2019. Então, quais são as nossas atitudes e comportamentos perante nosso próximo e perante Deus? Nossas escolhas baseiam-se naquilo que trazemos como comportamento e esse nosso comportamento pode ser resultado de experiências adquiridas com as diferentes reencarnações. Então, é muito difícil mudarmos nossa maneira de ser, de pensar e agir, não é mesmo? Com certeza, difícil sim, mas não impossível. Primeiramente é necessário enxergar a si mesmo Quem realmente somos? Tiremos nossas máscaras e mostremos quem realmente somos, para nós mesmos, primeiro. Talvez, muitos de nós não consigam aceitar como realmente são. Esse processo de autodescobrimento, talvez seja um dos mais difíceis de se fazer. Temos facilidade em enxergar a situação do outro, o problema do outro, o erro do outro. Vemos o cisco no olho do nosso irmão e não vemos a trave que está em nosso olho, como dito nos Evangelhos de Mateus (Mt 7:3) e Lucas (Lc 6:41). É muito mais fácil apontarmos o erro do outro. É muito mais fácil condenarmos o outro por seus erros, como na passagem conhecida como a da mulher adúltera, conforme narrado no Evangelho de João (Jo 8:1-11). Necessitamos mudar nossas atitudes e comportamentos errados. A atitude é uma intenção de se comportar de uma certa maneira, boa ou ruim. Esta intenção pode ou não ser consumada, dependendo da situação ou das circunstâncias. Por exemplo, para quem é fumante, a intenção é de parar de fumar, mas pode ser que se fique só na intenção...sem que esta seja consumada. É preciso nos conhecer melhor, pois, como disse Juan Ramón Jiménez, poeta espanhol: Vai devagar, não corras, pois aonde tens que ir é só a ti! Sigamos, então, os nossos sonhos, sem pressa e sem medo, pois os sonhos, como os artistas, nunca envelhecem... Conta o livro “Roberto Carlos em Detalhes”, de Paulo Cesar de Araújo, lançado em 2006, que no início de 1978, Caetano Veloso encontrou Roberto Carlos, pelos corredores da TV Globo. Roberto comentou que Caetano estava um garotão bonito, como se o tempo não passasse para ele. Caetano teria retribuído dizendo "Você também, Roberto, está muito bem". Disse então, Roberto Carlos, "É, bicho, artista nunca envelhece". Nascia ali a linda música Força Estranha, composta pelo baiano de Santo Amaro, Caetano Veloso e lançada por Roberto no mesmo ano de 1978, no álbum Roberto Carlos. Aqui temos a gravação ao vivo para o álbum Ofertório, de 2018, onde Caetano canta com seus filhos, Moreno Veloso, Tom Veloso e Zeca Veloso. Ao pegarmos um sonho e partirmos, muitas vezes não nos atentamos aos perigos da jornada, como um veleiro que navega em águas perigosas, sem seguir o farol. E Cristo é esse farol que nos guia. Cristo ilumina nossa jornada, nos mostrando o melhor caminho para que possamos velejar em segurança, evitando os rochedos. E somos impelidos a nos afastar da luz do farol por orgulho, vaidade, cobiça, rancor, inveja, e tantas outras coisas que indicam nossas fraquezas materiais. Ignorando essa luz, nos lançamos, de encontro as rochas, nos machucando. Daí as doenças, as dores e o sofrimento. Ninguém vem ao mundo para sofrer. Todos estamos aqui em busca de crescimento (o sonho que pegamos ao partir). Nossas escolhas indicam nosso caminho. Assim, ninguém é predestinado a sofrer, a vida reage de acordo com nossas ações. Essa é a lei de ação e reação ou de causa e consequência. Atualmente temos visto muitos casos de depressão e suicídio, com os números crescendo ano a ano. Temos uma verdadeira epidemia de problemas e distúrbios mentais e psicológicos, muitas vezes devido ao tipo de vida que temos e as escolhas que fazemos. Quantos de nós passamos por problemas decorrentes de nossas próprias escolhas? Basta seguirmos as leis naturais, as leis divinas, para sermos mais felizes. E lembrando que as leis divinas estão na consciência, conforme consta na questão 621 do Livro dos Espíritos, ou seja, não estão escritas e sim inscritas. As leis divinas estão dentro de nós. Cristo dizia que o reino de Deus estaria dentro de nós, o que revela a necessidade da interiorização. E esta interiorização é o que mais precisamos para melhor nos conhecer. Então, busquemos ser mais humildes e seguir nosso guia e modelo, conforme a questão 625 do Livro dos Espíritos. Seguir o Cristo, que nos deu vários exemplos de humildade, do nascimento até sua morte. Deixemos de ostentar uma aparência que não reflita quem realmente somos. Sejamos mais humildes e menos orgulhosos. As portas do presente se abrem diante de nós, para que possamos realizar os sonhos que pegamos ao partir. Mas, e quanto ao amanhã? E quanto ao futuro? O futuro é o que virá. Nosso futuro dependerá de nossas escolhas atuais, ou seja, se passamos ou não pelas portas que se abrem em nosso presente. Assim, se queres ter um futuro melhor, atue agora. Mas, e se os sonhos se perderem no passar do tempo? Corramos atrás dele agora, hoje. Esqueça o passado e faça do presente, algo que seja, realmente inesquecível. Aqui temos o grande sucesso Unforggetable, música de Irving Gordon, na voz do cantor e pianista de jazz norte-americano, Nat King Cole, lançada em 1952 no disco Unforgettable. Essa é, realmente, unforgettable. Essa é Parade of the Charrioteers, tema do filme Bem Hur, de 1959, composta pelo compositor húngaro Miklos Rozsa, que ganhou o Oscar de melhor trilha sonora original em 1960. Essa música, para quem conhece, era tema do programa da Cultura FM Diário da Manhã, apresentado pelo jornalista Salomão Schvartzman, programa que eu ouvia muito. Pois então, no dia 14 de abril de 2014, estava eu ouvindo o programa Diário da Manhã, da rádio Cultura FM, quando ouvi um relato, lido pelo saudoso jornalista Salomão Schvartzman. Era uma carta de um motorista de táxi de Curitiba, no Paraná, carta essa que chegou às mãos do jornalista, enviado por um amigo. A carta falava sobre uma situação que mudou a vida deste motorista. Lembro-me que a história me tocou muito e, após entrar em contato com a Rede Cultura, obtive a autorização da família de Salomão Schvartzman para que eu pudesse compartilhar essa carta com vocês. Assim, agradeço à família de Salomão Schvartzman pela atenção à minha solicitação. Houve um tempo que eu ganhava a vida como motorista de táxi: os passageiros embarcavam, totalmente anônimos e as vezes me contavam episódios de suas vidas, suas alegrias e suas tristezas. Encontrei pessoas que me surpreenderam, mas nenhuma como aquela de uma noite de julho, do último ano em que trabalhei na praça. Havia recebido uma chamada já tarde da noite, uma chamada vinda de um pequeno prédio numa rua tranquila, perto do largo do Centro Histórico de Curitiba. O prédio estava escuro, com exceção de uma única janela do térreo. Nessas circunstâncias, outros teriam buzinado duas ou três vezes, esperariam um pouco e depois iriam embora. Mas eu sabia que muitas pessoas dependiam de táxi, como único meio de transporte, especialmente na tal hora. Assim, fui até a porta e bati. - Um minutinho, respondeu uma voz fraca e idosa. Depois de uma pausa longa, a porta abriu-se. Vi-me diante de uma senhora bem idosa, pequenina e de frágil aparência. Dava para ver que a mobília estava toda coberta com lençóis. Não havia relógios, roupas ou adornos sobre os móveis. Num canto jazia uma caixa aberta com fotografias e vidros. - O senhor poderia ajudar-me com a mala? Perguntou-me a velha senhora, esboçando um sorriso. Peguei a mala e caminhamos lentamente até o carro. Enquanto se acomodava ela ficou me agradecendo. Deu-me o endereço e pediu-me: - O senhor poderia ir pelo centro da cidade? Este não é o trajeto mais curto, alertei-a prontamente. - Não me importo, eu não estou com pressa. Meu destino é último, o asilo dos velhos. Surpreso, olhei pelo retrovisor. Os olhos da velhinha brilhavam marejados. - Eu não tenho mais família e meu médico disse-me que tenho muito pouco tempo. Disfarçadamente desliguei o taxímetro e perguntei: - Qual o caminho que a senhora deseja que eu tome? Nas horas seguintes nós dirigimos por toda a cidade. Mostrou-me edifício onde havia trabalhado de ascensorista. Passamos pelas cercanias do centro cívico onde ela e o esposo tinha vindo quando recém-casados e também pelo Perpétuo Socorro no Alto da Glória onde iam sempre e onde comemoraram as Bodas de Ouro. Vez em quando pedia-me para dirigir vagarosamente em frente a um edifício ou esquina, quando ela ficava com os olhos fixos na escuridão, sem dizer nada e olhava e suspirava. E assim rodamos a noite inteirinha. Passamos por parques, praças, restaurantes, tudo o que vinha vindo na imaginação da doce senhora. Quando o primeiro raio de sol surgiu no horizonte ela disse, de repente: - Estou cansada e pronta, vamos agora. Seguimos, então, para o endereço que ala havia me dado. Chegamos a uma pequena casa de repouso. Duas atendentes caminharam até o táxi, assim que paramos. Eram amáveis e logo se acercaram da velha senhora, a quem pareciam esperar. Abri o porta-malas do carro e levei a pequena valise até a porta. A senhora, já sentada em uma cadeira de rodas, perguntou-me pelo custo da corrida: - Quanto lhe devo, ela perguntou, pegando a bolsa? Nada, eu disse. - Você tem que ganhar a vida, meu jovem. Há outros passageiros, respondi. Mas ela insistiu, disse que não precisava mais de dinheiro e colocou dois mil reais no bolso da minha camisa. Eu não quis aceitar mas ela foi incisiva. Quase sem pensar curvei-me e lhe dei um abraço. Ela me envolveu comovidamente e retribui com um beijo afetuoso, repleto da mais pura gratidão, e disse: - Olha, sei que sou idosa mas fique sempre comigo porque é assim que a vida dá. Apertei sua mão pela última vez e caminhei até o carro. No centro da cidade, amanhecendo ao fundo e eu não conseguia parar de chorar e pensar como vivemos e ao que damos valor, se daqui não levamos nada. Naquele dia, não peguei mais passageiros. Dois dias depois, tomei coragem e voltei ao asilo para ver como estava minha mais nova amiga e, quem sabe, passear com ela de novo. Me disseram então que, na noite anterior, seu coração parou durante a noite e ela adormecera para sempre, em paz. Fiquei a pensar se a senhora tivesse pegado um motorista que estava ansioso para terminar seu turno. Deus, Deus! E se eu tivesse recusado a corrida? Ou tivesse buzinado uma vez e ido embora? Em geral nos condicionamos a pensar que nossas vidas são os objetivos e o futuro, mas ela gira em grandes momentos. Todavia, os grandes momentos frequentemente nos pegam desprevenidos e ficam guardados em recantos que quase todo mundo considera sem importância e quando nos damos conta, já passou! E ao fundo ouvimos a linda música Somewhere in Time, composta pelo maestro e compositor britânico John Barry, responsável por diversas trilhas sonoras de filmes e vencedor de cinco prêmios Oscar de melhor trilha sonora. Essa é a música composta para o filme Somewhere in Time (Em algum lugar no passado), de 1980. Realmente, é assim mesmo. Os grandes momentos nos pegam desprevenidos e ficam guardados em recantos que quase todo mundo considera sem importância e quando nos damos conta, já passou e ficam guardados, em algum lugar do passado. Bem, vamos chegando ao final deste episódio que buscou mostrar a necessidade que temos de pegar nossos sonhos e partirmos para sua realização. Este é o podcast Mundo Espiritual. A produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e a arte das capas dos episódios são feitas pelo Gustavo Crispim. Você pode ouvir, baixar o podcast ou o conteúdo do episódio ou ainda entrar em contato conosco, através dos endereços que estão na transcrição deste episódio (https://podcastmundoespiritual.blogspot.com/ e http://mundoespiritual.podcloud.site/). Estamos também no Facebook (https://www.facebook.com/podcastmundoespiritual) e no Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCvE-E-zthITBCsrNNJa0ytw). Caso queira, você pode nos encontrar no Spotify, Deezer, Google Podcast e também no iTunes, basta procurar por Mundo Espiritual na sessão de podcast. Ouça o áudio, leia o texto, curta, opine, comente, compartilhe...este é o Podcast Mundo Espiritual. Deixo um grande abraço para a família do saudoso jornalista Salomão Schvartzman e, para finalizar, deixo com vocês a música que me inspirou a criar este episódio: Com a perna no mundo, agora com o próprio Gonzaguinha. Mas, antes de encerrar, trago aqui o grande Rubem Alves: Todas as coisas mais cruéis foram feitas com o saber e com a ciência. O mundo bom não se faz com o saber. O mundo bom se faz com a bondade. Há pessoas que só têm saber, mas não têm bondade. Elas só contribuem para a construção de um mundo mais frio. [...]. Quem não sonha fica feio. Fiquem todos em paz e até nosso próximo episódio.


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