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EPISÓDIO # 26 - SUICÍDIO, UMA FALSA SOLUÇÃO

  • Foto do escritor: Carlos A. Biella
    Carlos A. Biella
  • 30 de set. de 2021
  • 1 min de leitura

Atualizado: 23 de jul. de 2023


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Suicídio, uma falsa solução


A desesperança é como uma bola de neve rolando montanha abaixo, ganhando velocidade e aumentando de tamanho. Os pensamentos vão se emaranhando e parece que não há solução para os problemas. A angústia cresce e a pessoa passa a crer que a morte é a única solução para aliviar a dor... Será sobre isso que falaremos hoje. Sejam todos muito bem-vindos e aproveitem.

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Saudações a todos. Este é o podcast Mundo Espiritual. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas. Já a arte das capas dos episódios é feita pelo Gustavo Crispim. Ouça ou baixe o podcast, confira o conteúdo do episódio e entre em contato conosco. Confira os endereços na transcrição do episódio (https://podcastmundoespiritual.blogspot.com/ e http://mundoespiritual.podcloud.site/). Estamos também no Facebook (https://www.facebook.com/podcastmundoespiritual), Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCvE-E-zthITBCsrNNJa0ytw) e Instagram (https://www.instagram.com/podcastmundoespiritual/). Você também nos encontra nas diversas plataformas players de podcast. Procure por Podcast Mundo Espiritual. É, esse é um assunto que muita gente não quer nem ouvir falar e que, exatamente por isso, acaba se transformando num tabu. Mas, vamos falar um pouco sobre isso, aproveitando o Setembro Amarelo, o mês de prevenção ao suicídio. Etimologicamente, encontrei algumas definições para a palavra suicídio e em uma delas, temos que vem do latim, suicidium, numa junção de dois elementos, sui, indicando a si mesmo ou próprio, e o cidium, referente à assassinato, estando associado a caedere, que se refere ao ato de matar. Teríamos, então que suicídio seria matar a si mesmo. O suicídio é um ato multicausal, podendo se dar, entre diversos outros fatores, por um elevado grau de desesperança e sofrimento, na maioria das vezes relacionado às emoções e sentimentos. E eu começo esse episódio com a música Fight For It, da cantora e compositora britânica Luccy Spraggan, que ficou conhecida por participar do programa The X Factor, em 2012. Era uma das favoritas para vencer, mas abandonou a competição para tratar sua depressão. Suas letras falam muito sobre saúde mental. “Eu quero lembrar as pessoas que quando você se sente no seu pior e sente que não pode continuar, existe alguém por perto que sente o mesmo. (…) Nós temos que continuar juntos para melhorar.” Diz Luccy. Como diz a letra da música Fight For It: Não me diga que você vai fugir disso agora. Você vai ficar aqui e lutar por isso. (https://youtu.be/F3tIzynkcWY). A atitude da sociedade humana em relação ao suicídio, vem mudando ao longo dos séculos, mas, as opiniões que tínhamos anteriormente, não ficaram no passado, nós as carregamos dentro de cada um de nós e, conforme a situação, eles podem aflorar. Entre os gregos e romanos da Antiguidade, o suicídio, não era considerado, como passou a ser visto na Idade Média, um pecado. Ele era um direito do homem livre, ou seja, escravos não podiam se matar, mas um homem livre poderia ter a autorização para cometer tal ato. Na Idade Média, o suicídio passou a ser visto como uma instigação do demônio, como um pecado, sendo o inferno reservado para quem o cometesse. Com o Iluminismo, o Renascimento, vem a ideia que o homem é a medida de todas as coisas, passa-se, o suicídio, a ser visto como um dilema humano. Surgem os primeiros tratados científicos que buscam a compreensão do suicídio, como um dos mais famosos da história da depressão, que é o tratado Anatomia da Melancolia, de Robert Burton, acadêmico inglês e vigário da Oxford University, publicada em 1621. Burton diz que “Se na Terra há um inferno, deve estar no coração do homem melancólico”. Lembrando que antigamente não havia o termo depressão e sim melancolia, que indicava situações de profunda tristeza e desencanto com a vida. Os números são alarmantes. Anualmente, são mais de 1 milhão de casos em todo mundo, aproximadamente 1 caso a cada 40 segundos. Aqui no Brasil, cerca de 30 pessoas cometem suicídio todos os dias. O suicida, muitas vezes, não quer a morte, ele quer e procura uma saída e não consegue encontrar, daí a necessidade de ajuda, seja espiritual seja fisiológica. O suicida está procurando por acabar com o sofrimento que experimentam. Por isso, o sentimento de pertencimento é muito importante. Pertencimento à vida. Ao sentirmos perda deste pertencimento, começamos a sofrer até o ponto em que esse sentimento de não pertencimento se torna tão grande que o viver acaba por se tornar um grande fardo. O que nos leva a suportar as adversidades que a vida nos dá, é, exatamente, nossa esperança de um futuro melhor. O psiquiatra austríaco Viktor Frankl, disse “o que o homem realmente quer, em derradeira instância, não é a felicidade propriamente dita, mas, sim, um motivo para ser feliz.” Ele foi sobrevivente dos campos de concentração durante a 2ª Guerra e observou que aqueles que tinham algum projeto futuro, que tinham esperança de sair vivos dos campos de concentração, esses tinham mais resistência às doenças e o sofrimento físico e mental pelos quais todos passavam. Assim, quando temos um sentido na vida, quando temos algo em que acreditar, temos a vontade de viver. Em relação a isso, assisti certa vez uma entrevista do padre Fabio de Melo para o jornalista e escritor espírita André Trigueiro, em que Fabio de Melo disse que teve pensamentos suicidas e que em determinado momento lembrou-se de suas plantas: “quem irá cuidar delas se eu não estiver aqui?”. Enfim, nós não viemos a essa vida para sofrer. Viemos para crescer e evoluir. O sofrimento faz parte do aprendizado e aqueles que não conseguem entender que o sofrimento nos engrandece, acabam sucumbindo perante às adversidades que se apresentam. Allan Kardec buscou respostas para essas questões, como vemos em O Livro dos Espíritos, na questão 943: “Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?” “Efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade. Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera”. Vejam bem, ociosidade, falta de fé e saciedade, são sinais bem nítidos atualmente. A saciedade é visível na nossa sociedade atual, uma vez que nada parece satisfazer as pessoas e, não sentindo-se saciado, o indivíduo quer sempre mais e acaba se frustrando facilmente, quando não consegue essa saciedade. A sociedade atual se prima pela utilidade dos seres que a compõem e, caso um ser não se mostre útil, ele é colocado à margem. Assim, aquele que se sente inútil, pode não se sentir pertencendo a essa sociedade, entrando em estado depressivo e preferindo deixar de viver. Por isso tantos aposentados, tantos idosos, tantos doentes, buscam o suicídio. A tecnologia nos trouxe um enorme benefício, mas nos trouxe, também, uma realidade complicada, uma vez que as mídias sociais estão aí para que todos possam se mostrar, seja sua realidade ou sua utopia. Muitos não conseguem se enquadrar nesses “perfis” sociais e sentem-se rejeitados. Outro dano que a tecnologia nos trouxe é que, facilmente temos, todos, inclusive as crianças, roteiros, passo-a-passo de como suicidar. Atualmente, a internet e as redes sociais passaram a desempenhar um importante papel tanto na prevenção quanto na promulgação dos atos contra a própria vida. Os sites de procura registraram mais acessos à “Como se matar” do que à sites de prevenção do suicídio. Desafios que de vez em quando surgem na internet contribuem muito com isso. Jogos como Baleia Azul, Jogo da Fada e outros similares, são uma grande ameaça principalmente para crianças e jovens que ainda não tem um certo preparo emocional. Muitos jovens estão com medo de entrar na vida adulta e retardam ao máximo sua adolescência, por medo de enfrentar todas as demandas que competem aos adultos. A fé, não em termos de se ter uma religião, simplesmente, mas a espiritualidade é um caminho que pode auxiliar na prevenção aos atos suicidas. A banda Quatro Quartos, de Criciúma, resolveu falar sobre depressão por meio de uma canção. A música Setembro foi lançada em 2020 e a ideia surgiu do Kabelo, guitarrista do grupo, e Dudu, um dos membros da banda, disse que falar sobre depressão é necessário, sendo o nome da música uma referência ao Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio. (https://youtu.be/IZp2rFRziXI) O que é interessante é que a OMS indica que mais de 90% dos casos de suicídio seriam tratáveis., mas, a grande maioria dos casos poderia ser evitada. Transtornos de humor, depressão, transtornos relacionados ao uso de drogas lícitas ou ilícitas, esquizofrenia, transtorno de personalidade, transtornos psicóticos, transtornos de ansiedade, todos eles são tratáveis. Desta maneira, não basta apenas ficarmos lamentando nem tampouco ficarmos apenas rezando. É preciso fazer com que o tema suicídio deixe de ser tabu e passe a ser discutido de forma mais aberta. É preciso agir! O suicídio é multicausal, como já falamos, com vários distúrbios de ordem psíquicas influenciando, mas, não nos esqueçamos do bullying, do machismo, ainda tão proeminente em sociedades patriarcais, a não aceitação do homossexualismo e tantas outras causas de aflições e dores. Envenenamentos com agroquímicos, muitos deles utilizados sem critério por agricultores, levam a distúrbios neurológicos que podem desencadear situações suicidas. Comunidades aculturadas, como indígenas e refugiados, sentem-se excluídos e podem desencadear distúrbios que levem ao suicídio. Muita coisa na vida, escapa do nosso controle. Envelhecer, adoecer, perder alguém que amamos. Temos que aprender a conviver com isso e não nos deixar levar pelo sofrimento que essas coisas nos trazem. O que não é nada fácil, especialmente fazer isso, sozinho. Muitos de nós não consegue suportar o pesado fardo que carrega e muitas vezes, desiste de viver. Para alguns, estamos nos desviando dos caminhos de Deus quando praticamos o suicídio ou buscamos o chamado suicídio assistido, permitido em alguns estados norte-americanos e também na Holanda, Suíça, Bélgica e Luxemburgo. O suicídio assistido é normalmente realizado através da ingestão de barbitúricos; em cinco minutos o paciente costuma ficar inconsciente, e em 25 minutos em média ele morre. 95% dos suicídios assistidos acontecem em casa, e quase todos atestam dores insuportáveis e o fato de se tornarem um fardo para família como motivos complementares à decisão. Para aqueles que sentem o peso da vida e das aflições, lembrem do que disse o Cristo, conforme consta no Evangelho de Mateus (Mt 11:28): Vinde a mim todos vos que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. E aqui temos Nando Cordel, com a música Suicídio não! A vida continua... Música lançada em 2020 para a Campanha Setembro Amarelo. (https://youtu.be/nCom_uiIrp8) A Doutrina Espírita não é a salvação, ele não veio para salvar as almas das pessoas que sofrem. Ela vem trazer a consolação, uma vez que busca trazer, exatamente, o que as palavras de Jesus traziam: consolo. Não só a Doutrina Espírita, mas posso dizer que todas as religiões deveriam ter como objetivo trazer consolo para aquele que está sofrendo. Muitas vezes é esse consolo que um indivíduo que busca o suicídio, estava procurando e não encontrou. A família deveria ser um verdadeiro porto seguro no mar revolto de nossas existências (frase atribuída à Chico Xavier). A família é a base que temos que ter para todas as nossas aflições. Quem cresce num ambiente cercado de amor, afeto e carinho, pode, com toda certeza, fazer a diferença naqueles momentos em que estamos deprimidos, para baixo, inseguros, tristes e nos sentindo sozinhos. Nossa vida é um roteiro repleto de lutas, desde o nosso projeto de concepção. Um entre milhões de espermatozoides se mostrou o mais capaz para fecundar um único óvulo. Um único que foi capaz de gerar quem nós somos. Assim, valorizemos mais nosso corpo, valorizemos mais nossa vida e valorizemos mais nossa existência. A vida pode ser uma longa escalada repleta de obstáculos, mas, como disse nossa grande poetisa goiana Cora Coralina: Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores. O suicídio é um elemento tão intrigante para aqueles que estudam comportamento humano que acabou gerando uma ciência própria. A Suicidologia é o estudo do comportamento e causas suicidas realizado, principalmente por profissionais da Psiquiatria ou da Psicologia e teria surgido em 1967, na Escola de Medicina da Universidade John Hopkins, nos EUA, num curso patrocinado pelo Centro de Estudos para a Prevenção do Suicídio e pelo Instituto Nacional de Higiene Mental. O psicólogo norte-americano Edwin Shneidman é considerado por muitos como o fundador da Suicidologia. Você já ouviu falar no Efeito Werther? Lançado em 1774, “Os sofrimentos do jovem Werther”, do escritor alemão, Johann Wolfgang Goethe é considerado o livro que inaugura o romantismo no mundo. O personagem Werther conta a um amigo, sua história de amor impossível por Charlotte, prometida em casamento para outro. Ao final do livro, pela desilusão que o romance não concretizado acarretou, Werther se mata com um tiro de pistola na cabeça. O bispo Lorde Bristol acusou o autor de ter escrito um livro imoral, que gerou uma série de suicídios. Em verdade, após o lançamento do livro, vários jovens europeus, românticos, passaram a se vestir como o personagem e muitos, sentindo-se desiludidos e frustrados em seus amores, se mataram, de maneira semelhante ao que ocorreu na história. Isso demonstra o chamado mimetismo, o efeito de se copiar um ato, efeito esse, que faz com que muitos suicidas se inspirem em livros, filmes, músicas, exemplos de vida de pessoas famosas e mesmo na forma com que as notícias de suicídio são veiculadas. Pois então, quando o pesquisador norte-americano David Phillips, em 1974, constatou existir uma relação entre notícias de suicídio dadas na primeira página do New York Times, entre 1946 e 1968, e a ocorrência de casos de suicídios nas semanas seguintes, ele denominou de Efeito Werther tal fenômeno. Por exemplo, alguns apontam que a morte de Marilyn Monroe, em 4 de agosto de 1962, supostamente por ingestão excessiva de medicamentos barbitúricos, provocou uma onda de quase 200 mortes pelo mesmo processo. Vários casos de suicídio, diretos ou indiretos, entre músicos famosos, acabaram por criar o chamado “Clube dos 27”. Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e Ami Winehouse, são alguns destes músicos, todos mortos aos 27 anos de idade, em situações que remetem ao suicídio e que tiveram um potencial efeito nefasto para vários jovens mais emocionalmente vulneráveis. Para quem quiser se inteirar um pouco mais sobre isso, sugiro o do podcast Café Brasil 424, “Aos Vinte e Sete” (https://portalcafebrasil.com.br/podcasts/424-aos-vinte-e-sete/) e também o Drops 16, “O clube dos 27” (https://www.clubedamusicaautoral.com.br/drops16/), do podcast Clube da Música Autoral, cujos links encontram-se na transcrição deste episódio. Em 5 de agosto de 1994, morria o líder da banda Nirvana, Kurt Cobain, supostamente, por suicídio. E aqui temos uma das mais famosas músicas do Nirvana, Smell like teen spirit, cantada pela havaiana Malia J. Essa versão ficou muito boa! (https://youtu.be/4-nkRX4FQEc) Graças ao fanatismo e porque não dizer a paranoia de certos líderes que se colocam como religiosos, muitos suicídios coletivos são cometidos. Em 18 de novembro de 1978, mais de 900 pessoas morreram por suicídio ou assinadas em Jonestown, na Guiana, uma comunidade criada por Jim Jones, fundador do Templo Popular, uma seita pentecostal cristã de orientação socialista. Nas Filipinas, em 1985, mais de 60 pessoas supostamente se mataram a mando do guru Datu Mangayanon. Em 1987, na Coreia do Sul, 32 pessoas foram encontradas mortas. Todos seriam membros de uma seita cuja líder, Park Soon-Ja, também foi encontrada morta. Outros casos como na Suíça, em 1994, onde Luc Jouret o líder e seguidores da seita Ordem do Templo do Sol foram encontrados mortos em uma fazenda e em um chalé, em duas localidades suíças. Outros casos de suicídio coletivo ocorreram no Vietnã em 1993, na França, em 1995 e nos EUA em 1997. Episódios como esses demonstram o grande perigo da manipulação da psicologia de massas. Essa é Jeremy (https://youtu.be/MS91knuzoOA), uma das canções mais conhecidas da banda norte-americana de rock alternativo, formada em 1990 em Seattle, Pearl Jam. A letra foi escrita por Eddie Vedder, vocalista da banda, baseada em uma notícia de jornal sobre o suicídio do jovem Jeremy Wade Delle em uma sala de aula. Jeremy estava com 15 anos e estudava na Richardson High School, uma escola do Texas. No dia 8 de janeiro de 1991, Jeremy chegou atrasado para a aula e sua professora pediu que ele pegasse uma autorização com o diretor, para poder assistir à aula. Jeremy saiu da sala e ao retornar, puxou um revólver e teria dito: senhorita, eu peguei o que tinha ido buscar. Colocou a arma em sua boca, matando-se diante de seus colegas. O refrão da música diz “Jeremy spoke in class today” (Jeremy falou na aula hoje), uma alusão ao comportamento do jovem, que era tido como sempre quieto nas aulas. Chocante, não? Se você gosta de rock alternativo ou grunge e quer saber um pouco mais sobre essa música do Pearl Jam, confira o episódio 43 do podcast Clube da Música Autoral (https://www.clubedamusicaautoral.com.br/43-jeremy/) do meu amigo e conterrâneo lá de Novo Horizonte, interior de São Paulo, Gilson de Lazari. Deixei o link na transcrição deste episódio. E quais as consequências do suicídio de acordo com a Doutrina Espírita? Na questão 957 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta: “Quais, em geral, com relação ao estado do Espírito, as consequências do suicídio?” E a resposta foi: “Muito diversas são as consequências do suicídio. Não há penas determinadas e, em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar; é o desapontamento. Mas, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam a falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam”. Assim, o sofrimento continua depois da morte do corpo físico, na consciência que o espírito tem. Para a Doutrina Espírita, o suicida é um Espírito que não encontrará a paz que busca em seu ato de tirar a própria vida. Não existem penas eternas, mas todo o período de desequilibro que sucederá ao ato do suicídio, pode ser muito longo, dependendo do caso, é obvio, mas invariavelmente, doloroso. Existem suicidas que se afundam em depressão, existem os que se apresentam problemas financeiros, familiares, entre outros e acabam planejando o suicídio, existem os que se deixam levar pelo entorpecimento da mente com o uso de drogas e acabam por se matar, ou seja, depende muito da intenção do suicida. Quem se lembra de Divaldo Franco falando sobre um indivíduo que havia se jogado na frente de um trem? Pois então, Divaldo disse que fazia preces diariamente para este espírito, mesmo sem conhece-lo e quando teve contato com este espírito, ele relatou que era constante a sensação do trem passando por cima dele, de ter o corpo dilacerado, e que somente nos momentos da prece que lhe era destinada, podia ter um pouco de paz. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo V – Bem-aventurados os aflitos, no item O suicídio e a loucura, temos algumas colocações importantes. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E o que é a vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias. Esses são os catarinenses Simone, Crema e Vinícius, participando da campanha "Fé na Vida" da FEB - Federação Espírita Brasileira, com a música A vida é pra valer, de autoria de Alexandre Siqueira e André Henrique de Siqueira. (https://youtu.be/35veFwB7SxU) Como diz a letra, “eu tenho fé, a vida é pra valer, vencer na vida é viver”. Mas, há casos e casos e suas consequências não serão as mesmas. Vejamos o que nos diz o item Sacrifício da própria vida, no mesmo capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo: Aquele que se acha desgostoso da vida, mas que não quer extingui-la por suas próprias mãos, será culpado se procurar a morte num campo de batalha, com o propósito de tornar útil sua morte? Que o homem se mate ele próprio, ou faça que outrem o mate, seu propósito é sempre cortar o fio da existência: há, por conseguinte, suicídio intencional, se não de fato. Buscar a morte com premeditada intenção, expondo-se a um perigo, ainda que para prestar serviço, anula o mérito da ação. Se um homem se expõe a um perigo iminente para salvar a vida a um de seus semelhantes, sabendo de antemão que sucumbirá, pode o seu ato ser considerado suicídio? Desde que no ato não entre a intenção de buscar a morte, não há suicídio e, sim, apenas, devotamento e abnegação, embora também haja a certeza de que morrera. Mas, quem pode ter essa certeza? Lembrando o livro Nosso Lar, onde André Luiz relata sua história no plano espiritual e todo o tempo que passou em sofrimento após sua morte física, em decorrência de doença relacionada aos excessos que praticava, como consumo de álcool, fumo e não preocupação com sua saúde. Por isso foi acusado de suicida durante o período que passou no umbral. Esse é o suicídio indireto. Já no livro Memórias de um suicida, do espírito Camilo Cândido Botelho e psicografia de Yvonne do Amaral Pereira, lançado em 1958, temos o relato de suicídio direto. O livro traz relato de cinco espíritos que buscaram dar fim a seus sofrimentos no suicídio e somente depois das andanças pelo chamado Vale dos suicidas, é que passaram a enxergar a vida de uma forma diferente, sabendo que erraram, sentindo o remorso a lhes machucar a consciência. Existe uma relação entre mente e cérebro, com a mente sendo um produto da química do cérebro (conforme o pensamento materialista) e que pode ser comprovado por imagens que mostram que as diferentes áreas do cérebro são ativadas, conforme os pensamentos e as sensações ocorrem. Os pensamentos e a imaginação, promovem uma resposta bioquímica e, consequentemente, celular, tecidual e orgânica. Assim, nosso cérebro traduz aquilo que o espírito comunica. Somos um espírito que tem um corpo que se expressa no ambiente onde este corpo se encontra. A imaginação movimenta o cérebro e, muitas vezes, precisamos reorientar o cérebro de quem está passando por algum problema. É importante lembrar que as ideias fixas promovem um padrão de funcionamento dos neurotransmissores, responsáveis por expressar no cérebro aquelas ideias fixas. Esse padrão vai se repetindo e o cérebro acaba por fixar, também, esse padrão neuroquímico, fazendo com que a química dos neurotransmissores também se fixe, gerando um processo cíclico, cristalizado. Assim, mesmo que o indivíduo procure somente ajuda na espiritualidade, na meditação, na autoajuda, ele não conseguira resultado, pois as ligações químicas dos neurotransmissores estão “travadas”. Aqui se faz necessária a intervenção médica, com medicamento que auxiliem a quebra deste travamento, possibilitando que novas ações neuroquímicas possam ocorrer, facilitando, também, o auxílio da espiritualidade. Mas, de nada adianta somente tomar a medicação e não mudar as ideias, senão, novamente se dará este travamento. E olha que interessante. Vocês já devem ter ouvido a frase “mens sana in corpore sano” (mente sã em corpo são), conforme disse o poeta romano Juvenal. Muitas vezes se faz necessário a reorganização do corpo, ou da química cerebral, para que possamos ter uma mente saudável. Assim se faz necessária uma intervenção clínica, psicológica e também espiritual. Todas as nossas vibrações podem ser amplificadas, tanto as positivas quanto as negativas. Deste modo, quando temos somente pensamentos ruins, vamos amplificando estas vibrações e elas acabarão por se conectar às mesmas vibrações que se encontram circulando no fluido universal, por onde caminha tanto a energia quanto o pensamento, e vão se amplificando. Ao buscarmos bons pensamentos, estas boas vibrações terão o mesmo caminho e serão, também, amplificadas. Aqui temos Renato Russo com Mais uma vez, música dele e de Flávio Venturini, composta em 1986 e lançada como primeiro single do álbum Sete, da banda 14 Bis, em 1987. (https://youtu.be/tSKN0iRiSTc). No livro Obras Póstumas, lançado em 1890, no capítulo intitulado Regeneração da Humanidade, de 25 de abril de 1866, temos uma colocação, falando do processo de transição planetária, com a Terra passando de um mundo de provas e expiações para um mundo de regeneração. E, como se a destruição não caminhasse bastante rápida, ver-se-ão os suicídios se multiplicarem, numa proporção inaudita, até entre as crianças. A loucura jamais terá ferido um maior número de homens que serão, antes da morte, riscados do número dos vivos. Estão aí os verdadeiros sinais dos tempos. Lembrando que essa mensagem foi enviada em 1866! E chegando ao final de nosso episódio, trago aqui uma mensagem de um escritor, colunista de O Globo, fotógrafo e porque não dizer, um amigo, mesmo que seja virtual, Eduardo Affonso, que nos brinda com este brilhante texto escrito para sua coluna de O Globo, do dia 11 de setembro de 2020. Ao fundo escutamos a música Tati, a garota, música que foi citada no texto. Aqui com Nana Caymmi, música de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, lançada no disco Renascer, de 1976. A música fez parte da trilha sonora do filme de mesmo nome, com direção de Bruno Barreto, lançado em 1973. Esse foi o primeiro longa dirigido por Bruno Barreto, então com apenas 18 anos. (https://youtu.be/Kop2-_kk6U4). Então, com vocês, O Mistério da Tristeza, por Eduardo Affonso. (https://oglobo.globo.com/opiniao/o-misterio-da-tristeza-24633773?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar&fbclid=IwAR2zQk6s2G-ejcBY88_lQRPpazSm0rNkrALaNStrF0DQkpcAixBM3rwtKf8) Já na infância, me acontecia com frequência o que, por falta de vocabulário, eu chamava de “a onda”. Vinha sem aviso, me inundava e me arrastava a um abismo de onde eu não via como escapar. “A onda” era imprevisível. E aterradora. Eu encontrava conforto num dos volumes d’“O mundo da criança”, mais especificamente na fotografia do que hoje sei tratar-se de um depósito de gás, esférico, de cujo topo emergia uma escadinha helicoidal. Meu sonho infantil não era ser médico, como meu tio, ou advogado, como meu pai — mas encontrar aquela escada e escapar do mundo. Para estar a salvo da “onda”. Me ensinaram a ler, e li compulsivamente. Nos livros, encontrei onde me proteger do desamparo. Ninguém se deu conta dos sinais — o isolamento, a falta de amigos, de energia (pais sempre têm mais com o que se ocupar, professores têm provas a corrigir). O sofrimento era mudo, incomunicável. Invisível. Na adolescência, conheci a canção de Paulo César Pinheiro e Dori Caymmi: “Era uma criança tão singela / Só que Deus pôs dentro dela / O mistério da tristeza”. Ainda sem conhecer a palavra “depressão” — e ainda acreditando em Deus — me vi ali, e passei a recorrer a “o mistério da tristeza” quando queria tentar me explicar o inexplicável, entender o ininteligível. Não aprendi, até hoje, a conviver com a depressão, mas a sobreviver a ela. Descobri que não é incompatível com as responsabilidades que assumi, com o humor que cultivo. Intuí que tem cura — só é preciso corrigir a química cerebral para entender como funciona a linha de montagem dessa angústia aguda e prolongada, mas não infinita. Me permiti conversar com a ideia de suicídio, com o alívio de saber que, se tudo o mais falhasse, sempre haveria a escadinha helicoidal para me pôr a salvo das ondas e tristezas cuja origem era um mistério. Tornei-me atento aos gatilhos da engrenagem que faz “a onda” se erguer. E aos presságios que antecedem o tsunami: irritabilidade, insônia crônica, sonolência incessante, apatia. O mundo perder a graça, extinguirem-se o apetite, o tesão. A cada setembro, aparecem os laços amarelos da campanha de prevenção ao suicídio. E me ocorre que a melhor prevenção seja desmitificar essa palavra, desatá-la do seu estigma. E acolher sem julgamento. Compreender que depressão não é falta de fé ou de força. Que não é preciso estar prostrado ou descuidado da higiene para merecer apoio — o mal costuma estar silencioso, encoberto. Que, além da morte física, há a psíquica. Que nada substitui a compaixão, essa intangível capacidade de sentir o que outro sente. A depressão é uma doença à qual ninguém é invulnerável. Por traços genéticos ou pelas circunstâncias, somos todos suscetíveis a seu assédio. Ela é a principal causa do suicídio, mas quem tem depressão não quer morrer: quer se livrar da dor. E pode chegar o momento em que dor e vida se confundam de tal forma que a vida se torne o preço a pagar para que cesse o sofrimento. Não há romantização possível para o suicídio, seja ele o desespero de quem se atira do edifício ou o ato longamente amadurecido de deixar autorizada a ortotanásia no testamento vital. Tampouco deve ser tabu. É preciso falar dele, ouvir a voz dos que sucumbiram, como Robin Williams e toda a sociedade dos poetas suicidas — Sá-Carneiro, Sylvia Plath, Torquato Neto, Florbela Espanca, Ana Cristina César. Pensar que talvez seu desconsolo não fosse uma sina, que o desfecho que deram à sua dor não era inevitável. Não, não sou depressivo. A depressão não me define. Ela me afeta, me limita. Me obriga a estar atento aos gatilhos, a buscar (e aceitar) ajuda. Confere um peso à minha vida, que é compensado com um olhar mais leve, irônico, de quem sabe que viver só faz sentido enquanto valer a pena. Que a qualquer momento uma onda pode vir e levar tudo, e que a felicidade — assim como a tristeza sem fundo, esse demônio do meio-dia — nunca vai deixar de ser um mistério. Este é o podcast Mundo Espiritual e a produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e o Gustavo Crispim é que faz a arte das capas dos episódios. Ouça ou baixe o podcast, confira o conteúdo do episódio e entre em contato conosco pelos endereços que estão na transcrição do episódio (https://podcastmundoespiritual.blogspot.com/ e http://mundoespiritual.podcloud.site/). Estamos também no Facebook (https://www.facebook.com/podcastmundoespiritual), Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCvE-E-zthITBCsrNNJa0ytw) e Instagram (https://www.instagram.com/podcastmundoespiritual/). Procure-nos nas diversas plataformas players de podcast. Procure por Podcast Mundo Espiritual. Meus amigos, precisamos aprender a auxiliar, a estender a mão àquele que está sofrendo. É isso que o CVV, Centro de Valorização da Vida faz: ouve aquele que está passando por aflições. Ampara! O CVV foi criado em 1962 por alunos de uma escola espírita que se reunia em São Paulo para trabalhos fraternos em bairros periféricos da capital. A inspiração veio dos procedimentos educativos presentes no livro Memórias de um suicida, que citei anteriormente. Assim, o CVV existe para valorizar a vida, pois pessoas precisam de pessoas e a vida vale a pena ser valorizada. Deixo aqui a música Mais uma vez, com Renato Russo, lembrando que, como diz a letra, “é claro que o sol vai voltar amanhã”. Então, não percamos nossa esperança. Fiquem todos em paz e até nosso próximo episódio.


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