EPISÓDIO # 28 - SAUDADES
- Carlos A. Biella

- 11 de nov. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: 23 de jul. de 2023

Saudades.
É, a saudade é algo que vem e nos arrasta para o passado, para lembranças felizes daqueles momentos que já não existem mais. E é sobre saudade que falaremos hoje. Então, sejam todos muito bem-vindos e aproveitem.
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Saudações a todos. Este é o podcast Mundo Espiritual. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas. A arte das capas dos episódios é feita pelo Gustavo Crispim.
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E aí, gostaram da música que abriu esse episódio? Pois é, já começo com tudo! A dor da saudade, é uma música de Elpídio dos Santos, na interpretação do saudoso Mazzaropi, música feita para o filme Casinha Pequenina, de 1963 (https://youtu.be/0TxlnN5Xk6Q).
E´, a dor da saudade, quem é que não tem...
Saudade é um sentimento que nos remete a coisas boas, embora, para os poetas e compositores, a saudade vem acompanhada de dor e nostalgia.
Ninguém tem saudades de uma dor de dente, de ter caído de uma árvore, de uma surra que levou quando criança. Com certeza teremos saudades dos doces que comemos e nos levaram a ter dor de dente; das brincadeiras nos jardins, subindo e caindo das árvores e das travessuras feitas e que mereceram uma surra.
Saudade deve ser o resultado de coisas que nos fizeram bem um dia, mesmo que tenham ficado esquecidas no passado, como disse o grande Mario Quintana: Para sempre é muito tempo. O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo…
Então, vamos lá, começando a falar sobre saudades...
Dizem que a palavra saudade só existe na língua portuguesa, o que, não é verdade, uma vez que muitas línguas possuem uma palavra para designar o mesmo sentido da palavra saudade.
Existe muita especulação sobre a origem desta palavra, com alguns dizendo que seria derivada do latim solitas, com o significado de solidão, desamparo, retiro, de onde derivaram palavras como solitário e solidão.
Em certos idiomas, o significado de solitas, se manteve, como no castelhano soledad, no italiano solitudine, no francês solitude e no galego soidade. Em muitos destes casos, quando alguém diz que tem saudades de casa, estaria sentindo uma solidão por não estar em casa.
Mas, há os que defendem que saudade viria do árabe clássico saudah, que teria como significado, negro ou escuridão, e que, segundo alguns especialistas, derivaria palavras em árabe que teriam como significado “negro dentro do coração”. Alguns árabes utilizam o termo saudah, em palavras quando se referem a doenças do fígado, consideradas como “melancolia do paciente”.
Uma perfeita metáfora para se referir a alguém que carrega uma profunda tristeza no coração, que pode ser causada pela saudade, deixando um sentimento de escuridão dentro do peito.
Podemos dizer, então que saudade e solidão seriam palavras que teriam a mesma raiz e seriam quase que sinônimos.
A melancolia me parece ser um dos termos que mais se identificam com a saudade, e isso pode ser visto na definição de saudade que consta no dicionário Houaiss: sentimento mais ou menos melancólico de incompletude, ligado pela memória a situações de privação da presença de alguém ou de algo, de afastamento de um lugar ou de uma coisa, ou à ausência de certas experiências e determinados prazeres já vividos e considerados pela pessoa em causa como um bem desejável.
Assim, saudade pode representar um conjunto de sentimentos, que normalmente são causados pela distância ou ausência de algo ou de alguém. Pode ser uma ausência física ou não. Podemos ter saudade ao término de uma amizade, por exemplo, ou então de algo que não mais tenhamos em nossa posse. Portanto, a palavra saudade expressa um sentimento que envolve afetividade, e seu efeito, normalmente, se deve à ausência.
Seja qual for a origem da palavra, os portugueses foram atribuindo diversos significados a saudade, com alguns dizendo que essa palavra passou a fazer parte dos dicionários portugueses nos tempos das colonizações, uma vez que poderia definir a solidão que os portugueses tinham da sua terra natal, seus familiares e amigos, quando estes partiam para suas colônias, como o Brasil.
A saudade é algo que cada um de nós a sente de uma maneira, sendo um sentimento tão profundo e importante, que acabou ganhando um dia específico para ser comemorado, o dia 30 de janeiro, o Dia da Saudade.
Devido à suas características de melancolia e tristeza, a palavra saudade costuma passear por poesias, poemas e músicas, demonstrando os sentimentos de seus autores, muitas vezes, a fim de mostrar o lado romântico da vida, existente nas relações afetivas, nos amores perdidos, na família ausente, nos amigos que se foram, nos animais que partiram, nas viagens que ficaram no passado e tantas outras coisas.
Essa é Saudade da Bahia, música de Dorival Caymi, aqui na interpretação de Beto Caletti, argentino que canta músicas brasileiras. Esta música está no álbum Notorius en vivo, de 2003.
Ah, que saudade da Bahia!
E hoje vamos usar e abusar de textos, poemas, poesias e músicas que expressem, cada qual a sua maneira, o sentimento da saudade. Sei que existem inúmeras músicas que falam da saudade, mas escolhi algumas entre elas.
Então, sabemos que a sensação de saudade não é lá muito agradável, afinal de contas, não é muito confortável sentir a falta de alguém ou mesmo de algo que por algum motivo não se encontra mais ao nosso lado.
Quanta saudade sentimos daqueles que amamos e que não mais se encontram mais conosco, não é mesmo?
Saudade que se manifesta num simples contemplar de um amanhecer, como nos traz, novamente, o poeta gaúcho, Mario Quintana:
Na solidão, na penumbra do amanhecer/Via você na noite, nas estrelas, nos planetas/nos mares, no brilho do sol e no anoitecer. Via você no ontem, no hoje, no amanhã.../Mas não via você no momento/Que saudade...
Esse é Sebastiao Rodrigues Maia, o Tim Maia, cantando Gostava tanto de você, música composta por ele e Edson Trindade e lançada em 1973, no álbum Tim Maia. (https://youtu.be/cxSzri346W0).
Ai que saudade!
E existem diversos tipos de saudades, como a saudade do que passou, daqueles tempos que ficaram no passado e das pessoas e coisas que ficaram por lá e não nos acompanham mais.
Lembranças de nossa infância e juventude, dos lugares, de todos os diversos ciclos que foram encerrados e ficaram lá no passado.
Saudade da família reunida e que, devido à distância que acabou nos separando, acabamos ficando longos períodos sem poder nos encontrar.
Saudade de algo que ficou guardado lá no cantinho da memória, mas, que mesmo um pequeno objeto pode nos levar até ele, mesmo que seja um pequeno confete de um baile de carnaval.
Esse é Francisco Alves, com Confetti, marcha de carnaval composta por David Nasser e Jota Júnior, lançada por Francisco Alves, pela gravadora Odeon, em 1952. (https://youtu.be/KMAk2OuX6FU).
Para quem não se lembra, David Nasser era jornalista e foi ele que, juntamente com o fotógrafo Jean Manzon, em 1944 foi até Pedro Leopoldo, a fim de entrevistar Chico Xavier, usando nomes falsos.
Eita, saudade dos carnavais de minha juventude....
Temos, muitas vezes, saudade de uma casa em que moramos. Muitos de nós sentimos saudade de nossos lares, porque eles nos trazem segurança, conforto e liberdade.
E o que falar da saudade dos amores, em especial do primeiro amor.
O amor é aquele sentimento que achamos que dura para sempre e cada pequeno detalhe, uma lembrança, um cheiro, uma imagem, é capaz de desencadear diversas emoções em nós.
E por falar no primeiro amor, aqui temos Meu primeiro amor, com Joanna e Fagner, música de Hermínio Gimenez, Jose Fortuna e Rafael Hidalgo, que está no álbum Pedras que Cantam, de 1991 (https://youtu.be/jIOHiD-nJ-U).
Quantos de nós não tem saudade de alguma coisa, nem que seja do badalar de um sino...e é sobre isso que o poeta português Fernando Pessoa escreveu num poema intitulado Saudade. E pesquisando sobre esse poema, acabei o encontrando no site Multipessoa.net, na voz da atriz portuguesa Teresa Faria:
Ó sino da minha aldeia/Dolente na tarde calma/Cada tua badalada/Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar/Tão como triste da vida/Que já a primeira pancada/Tem o som de repetida. Por mais que me tanjas perto/Quando passo, sempre errante/És para mim como um sonho/Soas-me na alma distante. A cada pancada tua/Vibrante no céu aberto/Sinto mais longe o passado/Sinto a saudade mais perto.
E quanto à saudade de quem se foi? Talvez seja essa uma das piores saudades, porque não temos como aplaca-la. Essa saudade deve ser compreendida para ser aceita, para que não cause um impacto negativo para quem a sente e nem para quem se foi.
Essa saudade de quem se foi, é um dos sentimentos que, talvez, seja mais complicado de se lidar.
Caso todos nós tivéssemos consciência que aqueles que estão hoje conosco, podem partir a qualquer momento, provavelmente estabeleceríamos um laço mais forte enquanto estamos juntos nessa vida.
O Espiritismo é considerado como uma doutrina consoladora e seu entendimento pode auxiliar a lidarmos melhor com a saudade motivada pela ausência física daqueles que amamos e que nos separamos através da morte física.
É lógico que, mesmo sabendo e aceitando que a vida continua, não amenizaremos a saudade, uma vez que não é nada fácil superar a falta de alguém que conviveu conosco. Isso realmente dói.
Um dos grandes perigos da saudade é a melancolia, a tristeza e a depressão que ela pode provocar em nós. Temos que buscar nos manter ocupados com coisas úteis e prazerosas, para que possamos nos desligar um pouco do sentimento da saudade.
Sei que é difícil, mas, nos momentos que a saudade bater forte, não permita que ela te aprisione emocionalmente, te impedindo de aproveitar a vida, impedindo que você domine seu pensamento, que você domine as lágrimas, o desânimo que, com certeza, estará batendo à sua porta, de forma ameaçadora.
Sabemos que as dores são provas que todos vamos passar, em algum momento. São aprendizados que servirão para nos aprimorar.
Em 1863, o espírito Sanson, um ex-membro da Sociedade Espírita de Paris, contribuiu com as instruções do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo quando, no item 21 disse sobre como superar a dor da perda de um ente querido.
“Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo. Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus."
Deste modo, quanto maior o conhecimento da Doutrina Espírita, mais poderemos entender essa transitoriedade da vida material e isso irá nos fortalecendo e auxiliando na superação da saudade daqueles que partiram antes de nós. Partiram sim, mas não desapareceram para sempre. Essa é a consolação que o Espiritismo nos concede!
A saudade daqueles que se foram permanece em nosso coração, como um espinho, difícil de retirar e que teima em nos cutucar, provocando dor.
Mas, mesmo a saudade de quem ainda se encontra no mesmo plano material que nos encontramos, também nos traz dor.
O isolamento social que a maioria de nós se colocou, provocou muitos afastamentos entre familiares e amigos. Muitos de nós choramos a dor dessa saudade, também.
A saudade de um abraço apertado, de um sorriso amigo, de uma conversa gostosa.
Pense bem nisso e quando puder estar novamente ao lado das pessoas que ama, aproveite ao máximo, viva intensamente cada pequeno detalhe, cada momento.
O reencontro é sempre mais saboroso depois de se sentir saudade, não é mesmo?
Então, lembre-se que podemos reencontrar aqueles que já se foram. A vida não se finda na fechar os olhos da matéria. Não! A vida continua no despertar da nossa imortalidade.
E aqui temos a linda música Naquela mesa, de Sérgio Bittencourt, em homenagem a seu pai, Jacob do Bandolim e lançada em 1972 no disco Naquela Mesa, com Sérgio Bittencourt e Elizeth Cardoso (https://youtu.be/dMkGiVgPgMg). Essa música foi regravada por diversos cantores e cantoras e ganhou uma versão orquestrada pelo maestro e arranjador francês Paul Mauriat (https://youtu.be/XgddpptI-Zg), que estamos ouvindo ao fundo.
Mas, não pense que a saudade que nos bate após a separação de alguém que amamos só é sentida por aqueles que por aqui ficam. Como disse, Chico Xavier: “Saudade é uma dor que fere nos dois mundos…”
Então, entenda isso. Quando deixamos que a dor da saudade de alguém que partiu desta vida material, se transforme em melancolia, isso o afetará, seja lá onde esse espírito se encontrar.
Nossas vibrações negativas irão alcança-lo e ele não conseguirá seguir em paz em sua jornada espiritual. Isso pode ser entendido como um processo de obsessão de alguém encarnado sobre um desencarnado.
Não se esqueça de que a frase “eu perdi alguém que amava”, não é correta, uma vez que não perdemos aquilo que não nos pertence. E, se a vida continua, esse alguém continuará ao nosso lado, nos ouvindo e sentindo as vibrações que emanamos em sua direção.
Então, Espírita não deve chorar? Quem disse que não? Todos somos humanos e temos sentimentos e a dor da separação nos atinge a todos, sem distinção. Mas, entendamos que o sentimento de gratidão e amor em relação aquele que partiu, sempre auxiliará no sentido de essa pessoa querida, entender que tudo está bem e que seguiremos em frente, desejando que ele se sinta amado, sempre.
E aqui a música Naquela mesa, com Sergio Bittencourt e Elizeth Cardoso. Eu sou um grande admirador desta música. Ela sempre me encheu de saudades.
Mas, e quando a saudade nos bate sem entendermos a razão? E quando, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos nossos corações e nos leva a considerar amarga a vida? Pois é, essa é uma pergunta que está no item 25 do capítulo 5 do livro O Evangelho segundo o Espiritismo. E a resposta para ela é muito interessante. Resumidamente, temos saudades de nossa vida espiritual e de tudo que lá deixamos para vir a este mundo de matéria, conforme instrução assinada pelo espírito François de Genève, feita em Bordeaux, na França. Ele teria sido François de Sales, nascido na França em 1567, sendo bispo de Genebra em 1602. Em 1665, 23 anos após sua morte, o Papa Alexandre o elevou à categoria de santo da igreja católica, com o nome de São Francisco de Sales.
Ela é algo complexo, intenso e profundo. Creio que não exista quem não tenha experimentado esse sentimento que é tão difícil de se explicar, mas que pode ser rapidamente identificado ao se experimentar.
Uma das causas mais intensas de sentir saudades é daquilo que já tivemos um dia e hoje não temos mais.
Independentemente de ser mais suave ou mais intensa, seja por qual motivo for, a saudade representa uma falta, uma ausência e esse sentimento de rompimento, de melancolia e de tristeza, tão comuns quando sentimos saudade, assim como os outros sentimentos que temos, também se origina e se desenvolve dentro de um dos nossos principais órgãos: o cérebro.
No episódio 21 – Pensamentos e sentimentos, falei um pouco sobre a resposta fisiológica de nossos sentimentos e emoções e nos episódios 22 e 23, relacionei música e emoções. Quantas músicas nos trazem lembranças que desencadeiam o sentimento da saudade, não é mesmo?
Essa é a música Tanta saudade, de Djavan e Chico Buarque, que fez parte da trilha sonora do filme Para viver um grande amor, de Miguel Faria Jr, de 1983. Aqui temos Ana Carolina e Seu Jorge, ao vivo, no disco Ana e Jorge, de 2005. (https://youtu.be/i3m_Inq6TKQ).
Como todo sentimento e emoção acabam por influenciar nossa fisiologia, gerando uma resposta orgânica, a saudade também desencadeia uma série de reações em nosso organismo, com várias ações metabólicas.
Quando amamos alguém, esse sentimento ocasiona uma avalanche de efeitos, com liberação de muitas substâncias que provocam felicidade. Quando amamos alguém, a paixão, o amor, a relação calma e duradora que ligam muitos pares, acaba por promover a liberação de ocitocina, responsável pelas sensações de prazer e afeto, por isso é conhecida como “hormônio do amor”, que contribui para a sensação de bem-estar geral, além de liberar vasopressina, hormônio responsável pela regulação cardiovascular e no controle da pressão sanguínea.
Desta maneira, quando estamos ligados com outra pessoa, através do amor, esses hormônios atuam em nosso organismo.
Como tudo que é bom, o sentimento de amor, de companheirismo e de amizade, tão comuns nos relacionamentos, acabam por provocar quase que uma dependência química em nosso organismo, que passa a ter a necessidade química destes hormônios para se sentir bem. Assim, a presença daqueles que amamos, nos deixa, fisiologicamente, felizes.
No entanto, quando nos separamos daquele que amamos, seja por qual razão for, entramos como que numa síndrome de abstinência, pela não mais liberação dos hormônios e de seus consequentes efeitos.
Bem como ocorre nos vícios por substâncias químicas diversas, nosso organismo se acostuma com os efeitos de bem-estar e felicidade e a retirada brusca destas substâncias que produzem esses efeitos, pode trazer consequências, em alguns casos, severas.
A saudade pode desencadear alguns sintomas como episódios de irritabilidade, tristeza, apatia, insônia, falta de apetite e mal estar, muitas vezes generalizado.
O tempo e o equilíbrio psicológico se encarregam de normalizar isso tudo. Mas, em alguns casos, isso pode trazer consequências mais sérias, como a melancolia profunda, a depressão e até mesmo levar um indivíduo a buscar dar fim a sua vida.
Devemos sempre ter em mente que não tem como atravessarmos o curso de nossa vida sem deixar algo para trás. Isso faz parte de nosso processo de aprendizagem. Essas partes que são como que arrancadas de nós e que vamos deixando pelo caminho, muitas vezes nos fazem muita falta, daí a saudade de cada pedaço que vamos deixando para trás.
Um estudo conduzido pela Universidade de Southampton, na Inglaterra, e publicado em 2016 na revista científica Emotion, da American Psychological Association, concluiu que a nostalgia ou como a conhecemos, a saudade, seria um anseio sentimental pelo passado, sendo uma emoção que surge de memórias sociais e auto relevantes. A saudade funciona, em parte, para promover o que se chama auto continuidade, que seria um senso de conexão entre o passado e o presente. Através de alguns experimentos, o estudo concluiu que a saudade funciona como uma resposta imunológica psicológica, podendo ser de grande importância para dar uma sensação de auto continuidade e ajudar a criar uma narrativa de sentido para a vida. Enfim, a saudade seria uma conexão com o passado para compreender melhor o presente, se tornando um mecanismo de defesa que nos prepara para as próximas vezes que esse sentimento surgir.
Essa é uma música que também fala de saudade. A música é Casca do ovo, de Paulo Novaes, cantor e compositor paulista, que a lançou em 2020, no álbum Minha cabeça. (https://youtu.be/mR_-VqcH0no).
Enfim, aceite sua saudade, envolva-a como uma amiga, e aprenda com ela. Entenda seus sentimentos e não se deixe levar pelo desanimo e pela tristeza. Aproveite e aprenda com a saudade. Deixa que ela te conduza a um processo evolutivo pessoal.
É preciso conhecer e mergulhar na escuridão para que possamos valorizar a claridade.
E vamos nos aproximando do final deste episódio, trazendo Clarice Lispector, escritora e jornalista brasileira nascida na Ucrânia, que no seu lindo poema Saudade, diz:
Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades…
Então, cheio de saudades, este episódio vai chegando ao seu final...dizendo, chega de saudades, pelo menos na voz de Tom Jobim, nesta música composta por ele e Vinicius de Moraes, em 1956. (https://youtu.be/tlp8iY4g--4).
Antes de finalizar, vou me valer do grande escritor Rubem Alves e seu delicioso livro A Grande Arte de Ser Feliz, de 2014, de quem peço a permissão para usar algumas de suas palavras.
Ao fundo escutamos Jovens tardes de domingo, música de Roberto e Erasmo Carlos, aqui com o Rei, música que foi lançada no álbum Roberto Carlos 1977 (https://youtu.be/TBk9E63UlMQ).
Enquanto eu lia o livro A grande arte de ser feliz, muitas vezes a saudade me bateu forte. A memória me tomou em seus braços e me levou em suas asas a passear pela minha infância, na pequena Novo Horizonte, lá no interior de São Paulo. Me vi brincando naquele imenso e mágico quintal de casa, que depois a vida adulta me mostrou, com frieza, que não era mágico e nem tão grande assim. Vaguei por momentos felizes com meus queridos amigos, as casas de minhas avós, meus primos, as nossas brincadeiras...
Passei pela minha juventude. Os primeiros amores e aquela paixão que se iniciou naquele beijo, naquela noite, no início do mês de fevereiro, onde juntinhos fomos abençoados por uma estrela cadente que nos mantem juntos até hoje, minha querida Vanessa.
O nascimento dos filhos um por um. Primeiro o Franco, depois um presente que nos foi entregue, o Giuliano, o nascimento da Laura e depois do Hugo.
Lembranças da Chris, minha irmã e de meus queridos pais.
Ah, que saudades das conversas e dos abraços gostosos que meus pais me davam quando eu retornava à cidade natal, nos breves momentos que a vida me reservava.
Saudades do cafezinho que minha doce mãe me levava, quando eu acordava.
Saudades...
Me lembro de quando Hugo, meu pai, e depois Laila, minha mãe, começaram a remar sua canoa rumo à terceira margem do rio, que é a saudade, como disse Rubem Alves. Eles se foram pelo rio afora, deixando meu coração cheio de saudades.
E hoje, jogo mais um ano de vida no rio da saudade. Já são 61 vezes que faço isso. A vela de meu barco vai ficando cada vez mais curta, ao mesmo tempo em que a saudade se mostra cada vez maior.
Este é o podcast Mundo Espiritual e a produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e o Gustavo Crispim é que faz a arte das capas dos episódios.
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E finalizo o episódio com um poema chamado Apenas uma saudade
Uma lágrima escorrendo em um rosto triste.
Da lembrança, um momento.
Na memória, uma saudade.
Na boca, o gosto da boca beijada.
Na memória, uma saudade.
Triste sorriso de quem foi feliz. Por um instante apenas, apenas por um instante.
Um momento, uma vida. Um sonho.
Baixam-se os braços...A flor se desfaz...O pássaro se vai... e a chuva cessa.
Do riso ao choro, apenas um momento, uma saudade.
Uma pedra atirada... vidro quebrado.
Apenas um momento, da felicidade à tristeza.
Na lembrança, uma saudade...
Um cheiro de terra molhada. Não há mais terra!
A sensação de felicidade. Não há mais felicidade!
Crianças sorrindo, brincando. Não há mais crianças!
Sonho. Não se sonha mais!
Da lembrança, apenas uma saudade...
Ah, o poema é meu mesmo, escrito tempos atrás. Deixo vocês com a música Bicho saudade, de Lenine e Joao Cavalcanti, lançada no álbum Em trânsito, de 2018. (https://youtu.be/--QzTsWcBDQ).
Fiquem todos em paz e até nosso próximo episódio.





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