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EPISÓDIO # 33 - TEMET NOSCE

  • Foto do escritor: Carlos A. Biella
    Carlos A. Biella
  • 14 de abr. de 2022
  • 1 min de leitura

Atualizado: 23 de jul. de 2023


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Temet nosce.


Talvez você não tenha entendido o título deste episódio. Trata-se de um termo em latim. Confira agora, seu significado. Sejam todos muito bem vindos e aproveitem.

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Saudações a todos. Este é o podcast Mundo Espiritual. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas. Já a arte das capas dos episódios é feita pelo Gustavo Crispim. Ouça ou baixe o podcast, confira o conteúdo do episódio e entre em contato conosco. Os endereços estão na transcrição do episódio (https://podcastmundoespiritual.blogspot.com/ e http://mundoespiritual.podcloud.site/). Estamos também no Facebook (https://www.facebook.com/podcastmundoespiritual), e Instagram (https://www.instagram.com/podcastmundoespiritual/). Procure por podcast Mundo Espiritual nas diversas plataformas players de podcast. Temet nosce ou nosce te ipsum, são duas expressões em latim que possuem o mesmo significado: conhece a ti mesmo ou conheça a si mesmo. E este episódio nasceu, basicamente, da leitura de três textos, que não tem muita conexão entre si, mas que trazem mensagens que se completam. Um texto é espírita, recebido por Chico Xavier, de autoria do Espírito Emmanuel. Outro texto é de minha amiga, pois assim a considero, apesar de não a conhecer pessoalmente., a jornalista e escritora Sonia Zaghetto. Já o terceiro texto é do grande Rubem Alves. Os três textos falam sobre a busca interior ou sobre a necessidade de uma interiorização. Por isso, o título do episódio de hoje: Temet Nosce, conheça a si mesmo. E começo o episódio com A Sombra, música da baiana Pitty, que faz parte do álbum Chiaroscuro, de 2009. Como diz a música: Eu quero saber me querer, com toda a beleza e abominação que há em mim. Ou seja, é preciso saber lidar não somente com as flores que temos em nós, mas também com nossos espinhos. Bem, um dos textos é de Emmanuel, com o título A Viagem e está no livro Agora é o tempo, sob psicografia de Chico Xavier, livro lançado em 1984. O texto é o seguinte: O aprendiz chegou ao recanto de antigo orientador da vida cristã e perguntou, em seguida às saudações costumeiras: - Instrutor, posso acaso receber as suas indicações quanto ao melhor caminho para o encontro com Deus? A resposta do mentor não se fez esperar: - A viagem para o encontro com Deus é repleta de obstáculos por vencer... Espinheirais, precipícios, charcos e pedreiras perigosas... Silenciando o interpelado, o moço prosseguiu: -Isso tudo conheço... Já visitei vários templos da Índia, quando estive por vários dias na intimidade de faquires famosos, todos eles revestidos de faculdades supranormais; arrisquei-me a cair nos despenhadeiros do Tibete para conviver com os monges santos; orei na Grande Pirâmide do Egito; demorei-me na impressões da paisagem na qual Jesus viveu, no entanto, estou saciado de excursões à procura da Divina Providência... O orientador escutou com humildade e esclareceu, em seguida: -Sim, é verdade que todas essas peregrinações e práticas auxiliam na busca do Supremo Senhor, mas, ao que me parece, há um engano de sua parte... E rematou: - A viagem para o encontro com Deus é para dentro de nós. Emmanuel nos mostra, aqui, que buscamos por Deus nas coisas externas, sem, contudo, buscar esse conhecimento onde ele realmente se encontra, dentro de nós, o que demonstra essa necessidade de nos conhecer a nós mesmos. O outro texto é da jornalista e escritora Sonia Zaghetto, de 11 de agosto de 2021 e se encontra no site soniazaghetto.com, com o título Mil passos (https://soniazaghetto.com/2021/08/11/mil-passos/). Deixei o endereço do texto na transcrição do episódio. A dor por causa do meu filho me feria. Mente desequilibrada, louca, desnuda, cabelo despenteado, Eu andava de um lugar para outro. Descansando em montes de lixo nas ruas, em cemitérios e em estradas, Vaguei por três anos, sempre com fome e com sede. Então eu vi o Sugata (um dos nomes pelo qual é conhecido Sidartha Gautama, o Buda) indo em direção a Mithila (uma região da Índia), domador do indomado, inteiramente desperto, sem temer nada ou ninguém. Deu-me de volta a minha mente sã, eu o amei e me aproximei. Gentilmente, o Gautama me ensinou o dhamma (a lei moral. Os princípios básicos da existência individual e cósmica. O que está em conformidade com o dever ético e a natureza). Eu escutei o que ele dizia, e fui em frente, nas ruas, ainda sem-teto, formando em mim o que o Mestre disse. Conheci finalmente o estado de bem-aventurança. Todas as tristezas foram cortadas, deixadas para trás, este é o seu fim. Agora eu compreendo as coisas. Como a tristeza poderia começar de novo? Este poema, escrito há dois mil anos pela monja budista Vasetthi, reflete o longo caminho para se alcançar a paz interior. Em meio ao acidentado percurso da existência, há mil formas de sofrimento. Pequenos alfinetes e grandes agulhadas a perfurar o delicado tecido dos sentimentos. A mente torna-se um turbilhão de expectativas frustradas: oscila, chora, sofre demasiado quando a vida toma rumos inesperados. Perdemos coisas e pessoas pelo caminho; derramamos lágrimas pela incompreensão dos seres amados, amarga-se a solidão nas horas de dor. Como sobreviver a essa avalanche de sentimentos desencontrados que nos toma? Como acalmar o coração? O sofrimento de Vasetthi pelo filho morto é semelhante, em essência, ao de todos os demais humanos atormentados pela dor moral. Vaga-se, desnudo e louco, sedento de paz e faminto de consolação, até que um dia se enxerga a solução perfeita: o autodomínio. Ele existe, é uma distante meta. Há um caminho para alcançá-lo, e ele se perde no horizonte. Começa-se devagar a percorrê-lo. Mil passos, talvez? Milhões deles. Dá-se o primeiro passo, ainda trôpego, com a visão turva pelo choro recente. Aos poucos aprende-se a distinguir entre fantasia e realidade, a aceitar a impermanência de tudo, a compreender que não conhecemos o que vai no coração alheio e que nos relacionamos com imagens que nós mesmos criamos. Aprende-se a arte do desapego, do perdão, do amar a si mesmo. É necessário persistir, ignorar o cansaço, aprender a andar sem medo, levantar a cabeça e erguer-se após as quedas. O caminho é individual e prazeroso. A solidão torna-se amiga. Aos poucos, forma em si a fortaleza e a serenidade. Dia chegará em que os lamentos ficarão para trás. E o mais belo é o fato de se alcançar esse estado trabalhando o mundo interior a cada dia, em grande gesto de amor por si mesmo, forjando um herói interno cujo prêmio ninguém mais precisa conhecer. Por isso, é muito tolo exigir perfeição de quem está no caminho da meditação. Esse alguém está em meio à busca. Um dia chegará a um estado de paz possível aos seres humanos. Não ria dele quando falhar, não ironize seus esforços. Ninguém neste mundo é perfeito. Todos estamos na estrada, em busca de algo que nos conforte quando os embates da vida nos esmagam. Grande Sonia Zaghetto, maravilhosa, como sempre. Chamo a atenção para o final do texto, quando ela diz que “Ninguém neste mundo é perfeito. Todos estamos na estrada, em busca de algo que nos conforte quando os embates da vida nos esmagam”. Sônia Zaghetto traz, também, a necessidade de nos interiorizarmos, de buscarmos a nós mesmos, quando diz “trabalhando o mundo interior a cada dia, em grande gesto de amor por si mesmo, forjando um herói interno cujo prêmio ninguém mais precisa conhecer”. Obrigada, minha amiga, por mais um lindo e profundo texto. Eu lembro aqui a questão 919 de O Livro dos Espíritos: Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? A resposta foi: “Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.” Essa frase é um dos aforismos mais famosos da história e se encontrava, segundo consta, no pórtico de entrada do templo ao deus Apolo, em Delfos, cidade da Grécia, lá do século IV a. C. Um aforismo é um pensamento que é expresso de maneira breve, em poucas palavras. Não se sabe, exatamente que é seu autor, podendo tratar-se de um dito popular grego. Em todo caso, seria uma mensagem do deus Apolo para toda a humanidade, que a grande tarefa de cada um, seria buscar o conhecimento de si e, com isso, poder conhecer a verdade sobre o mundo. Sócrates, filósofo grego que viveu cerca de 400 anos antes de Cristo é um dos mais citados como autor da frase. Querofonte, amigo de Sócrates, teria feito uma consulta ao oráculo de Delfos, tendo perguntado à pitonisa se haveria alguém mais sábio que seu amigo. Uma pitonisa seria uma espécie de sacerdotisa, uma médium que recebia mensagens dos deuses e as transmitia aos mortais. A resposta foi que não havia ninguém mais sábio que Sócrates. Incomodado com essa revelação, Sócrates faz uma imersão em si mesmo e constatou que a única certeza que tinha era que nada sabia. Daí surge a famosa frase: “Só sei, que nada sei”. A partir disso, Sócrates passou a adotar a frase como forma de lembrar os gregos da necessidade de se autoconhecerem. Esse conhecer a si mesmo seria uma chamada à humildade, que é o início do verdadeiro conhecimento, uma vez que, ao sermos humildes quanto ao que desconhecemos, já estamos no processo do conhecimento, ou, como disse Sócrates, passamos a entender que nada sabemos. Esse mergulho interior em busca do autoconhecimento seria o início do caminho para o verdadeiro saber. Sócrates daria origem ao chamado período antropológico da filosofia grega, sendo a ideia de que o conhecimento de si, seria a base para todos os outros conhecimentos sobre o mundo. Alguns autores dizem que a frase completa que se encontrava no pórtico de entrada do templo de Apolo seria: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum.” Por isso a necessidade de buscarmos, sempre, primeiro dentro de nós mesmos, ou seja, o autoconhecimento. Mineiro de Belo Horizonte, mas residindo em Alagoas, Denis Soares, lançou esta música chamada Autoconhecimento, em 2008, no álbum Viajante do Universo. https://youtu.be/mP_jbBtMhx4 Voltando a questão 919 de O Livro dos Espíritos, Kardec prosseguiu questionando sobre a resposta dada: Conhece-te a ti mesmo...Conhecemos toda a sabedoria desta máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer- -se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo? Santo Agostinho responde a pergunta dizendo para fazermos o que ele fazia, quando vivia na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. E ele nos faz um desafio: Se aprouvesse a Deus chamar-te neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado? E então, o que você responderia, hein? Segue Santo Agostinho dizendo... O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na podereis ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo. [...] dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida. Lembram-se do mito da caverna, de Platão? Nele, havia um grupo de pessoas que viviam presos numa grande caverna, somente conseguindo ver a parede que ficava no fundo da caverna. Atrás dessas pessoas, existia uma fogueira e outros indivíduos transportavam objetos, que tinham as suas sombras projetadas na parede da caverna, onde os prisioneiros ficavam observando. Como eles somente vivam as sombras, achavam que aquelas projeções seriam a própria realidade. Uma das pessoas consegue se libertar e sai da caverna. A princípio, a luz do sol e a diversidade de cores e formas o assustam, no entanto, com o tempo, ele acaba por se admirar com tudo o que vê. Tomado por compaixão, decide voltar para a caverna e compartilhar com os outros prisioneiros todas as informações sobre o mundo exterior. Só que aqueles que estavam na caverna, não acreditaram no que ele contava, achando-o louco e, para evitar que suas ideias atraíssem outros para sua loucura, o mataram. Existe uma certa semelhança ao que acontece com o personagem Neo, do filme Matrix, lançado em 1999. Tanto na caverna como no mundo em que Neo vive, os seres encontram-se em condições de prisioneiros, sem ter consciência disso. Em ambos os casos, os seres humanos vivem numa simulação da realidade. No roteiro das irmãs Wachowski, Neo, é convidado a escolher ente a realidade e a falsidade de sua vida vivida até o momento em que encontra com Morpheus. Para quem assistiu ao filme, existe uma referência à frase que dá título ao nosso episódio de hoje. Em dado momento do filme, Neo faz uma visita à personagem Oráculo e sobre uma das portas da casa existe um quadro onde está a mensagem “Temet Nosce”, numa referência à Sócrates. Tanto no mito da caverna quanto em Matrix, existe uma busca pelo conhecimento de si mesmo, com os dois personagens, o que sai da caverna e Neo, libertando-se de uma vida controlada, que seria falsa, para uma compreensão da realidade. Então, liberte-se das correntes que o prendem no fundo da caverna, engula a pílula vermelha (para quem assistiu ao filme Matrix) e busque descobrir quem você realmente é. Ou seja, tira, a máscara que cobre o seu rosto. Novamente Pitty, agora com a música Máscara, lançada no álbum Admirável Chip Novo, de 2003. Como diz a letra: O importante é ser você, mesmo que seja estranho, seja você. Mesmo que seja bizarro. https://youtu.be/W4-G-itMgjI Pois então, conhecer a nós mesmos não é tarefa fácil, torna-se, mesmo, um verdadeiro desafio e essa busca interior é capaz de nos mostrar nossas conquistas e nossos sofrimentos. É de fundamental importância que possamos conhecer a nós mesmos para, posteriormente, buscarmos conhecer tanto as pessoas quanto o mundo onde estamos inseridos. Será que estamos preparados para isso? Seguindo o que disse Santo Agostinho, o processo de autoconhecimento deve ser realizado diariamente, com a finalidade de conhecer os nossos próprios sentimentos, conhecer nossos pensamentos, nossos padrões, os mecanismos de autodefesa que utilizamos ou então os mecanismos de autossabotagem. Somente assim poderemos seguir em frente e viver melhor a vida. Existe uma tirinha da personagem Mafalda, criada pelo cartunista argentino Quino, em que Mafalda está conversando com seu amigo Felipe. Mafalda diz: o que te parece esta frase, Felipe, conhece-te a ti mesmo? E Felipe responde: me parece excelente. De hoje em diante começarei a coloca-la em prática. Mas, Felipe ao se dar conta da frase, diz: Deus meu! E se eu não gostar de mim? Muitos de nós, ao buscar conhecer a si mesmo, acabam por não gostar do que encontram, mas é necessário que possamos nos conhecer. Talvez esse conhecimento de nós mesmos nos traga algumas coisas desagradáveis, coisas essas que constantemente enxergamos nos outros, mas não percebemos que também as temos. Lembram-se do que perguntou o Cristo: Por que vês o cisco no olho de teu irmão e não percebes a viga no teu olho? (Lucas 6:37-42 e Mateus (7: 1-5). Aí está um grande ensinamento do Cristo, não julgar! É necessário que nos conheçamos para poder emitir qualquer julgamento, não concordam? Lembram-se desta outra fala do Cristo: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. (João 8:2-11) Mais uma vez vemos a necessidade de buscar em nós mesmos aquilo que condenamos nos outros. Por isso todos deixaram suas pedras e se retiraram, naquela passagem conhecida como a da mulher adúltera. Aqui a música Crer sendo, do cantor e compositor carioca, Castello Branco, música que está no álbum Serviço, de 2013. Como diz a letra da música: Preciso amar eu só; que é só que só me encontro dentro. https://youtu.be/l2fpuNj8ab0 Então, quando falamos na necessidade de mergulharmos dentro de nós mesmos, podemos utilizar a metáfora do iceberg, que apresenta apenas uma pequena parte visível, que seria nosso consciente e, submerso, mais escondido, estaria a maior parte, o inconsciente. Nesta metáfora o iceberg seria dividido em três partes, conforme nos mostra a Psicologia. Na parte superior, teríamos o correspondente a 10% de nossa mente, a parte consciente, o ego, onde estão o comportamento, o pensamento e as capacidades e habilidades. Um pouco abaixo, teríamos o correspondente a outros 10%, que seria o inconsciente individual, responsável pelas crenças e valores, onde estão as percepções, memorias e o conhecimento. Já a maior parte do iceberg, os 80% restantes, corresponderia ao inconsciente coletivo, onde se encontra nosso processo de identidade, nossas necessidades, medos, impulsos e motivações, além dos chamados fatores hereditários. Assim, cada vez que formos mais fundo em nós mesmos, mais iremos realmente nos conhecer. E, finalmente, o terceiro texto que motivou esse episódio é de Rubem Alves. Trata-se do delicioso texto A Pipoca, que está no livro O amor que acende a lua, onde Rubem Alves nos fala, de forma simples, sobre coisas que são essenciais à nossa vida, especialmente em nosso processo de autoconhecimento, fazendo, para isso, uma comparação entre nós e o milho de pipoca. Trago aqui um trecho do texto. “[...] a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer; pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão - sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! - e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante”. Isso é Rubem Alves! Bem, como nos mostra Rubem Alves, esse é o caminho para o autoconhecimento, para o conhecer a si mesmo. Infelizmente, para aquele que não segue esse caminho, esse, como um milho de pipoca que não estoura, transforma-se em piruá, termo que designa o milho de pipoca que fica, no fundo da panela, sem estourar, sem se transformar. E Rubem Alves coloca isso em seu texto... “Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito de elas serem. Ignoram o dito de Jesus: quem preservar a sua vida perde-la-á. Sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo”. Este é o podcast Mundo Espiritual e a produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e o Gustavo Crispim é que faz a arte das capas dos episódios. Ouça ou baixe o podcast, confira o conteúdo do episódio e entre em contato conosco pelos endereços que estão na transcrição do episódio (https://podcastmundoespiritual.blogspot.com/ e http://mundoespiritual.podcloud.site/). Estamos também no Facebook (https://www.facebook.com/podcastmundoespiritual) e Instagram (https://www.instagram.com/podcastmundoespiritual/). Procure por podcast Mundo Espiritual nas diversas plataformas players de podcast. Finalizo esse episódio, novamente trazendo Rubem Alves, com a frase que finaliza o texto A Pipoca. “Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira”. Fiquem todos em paz e até nosso próximo programa.


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