EPISÓDIO # 34 - MARIA, A MÃE DE JESUS
- Carlos A. Biella

- 5 de mai. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 23 de jul. de 2023

Maria, a mãe de Jesus.
Imagina você que é mulher, receber a visita de um anjo que fala que você irá engravidar e dará à luz aquele que irá salvar o mundo! Como você reagiria? Pois foi isso que aconteceu com Maria. Sejam todos muito bem-vindos e aproveitem.
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Saudações a todos. Este é o podcast Mundo Espiritual. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas. E o Gustavo Crispim é que faz a arte das capas dos episódios. Ouça ou baixe o podcast, confira o conteúdo do episódio e entre em contato conosco. Os endereços estão na transcrição do episódio (https://podcastmundoespiritual.blogspot.com/ e http://mundoespiritual.podcloud.site/). Estamos também no Facebook (https://www.facebook.com/podcastmundoespiritual), e Instagram (https://www.instagram.com/podcastmundoespiritual/). Procure por podcast Mundo Espiritual nas diversas plataformas players de podcast. E começo este episódio, com o Hino à Maria, com o Grupo Luz, daqui da cidade de Jataí, em Goiás, música que faz parte do álbum O Amor é Tudo, de 2010 (https://youtu.be/BUtz10kqNDs). Este episódio é especial, pois é uma homenagem ao Dia das Mães que está próximo. Por isso, o episódio de hoje falará sobre Maria, a mãe de Jesus e de todos nós. Assim como vários Espíritas que conheço, eu nasci em uma família católica e acabei por me encontrar na Doutrina Espírita, quando então passei a trabalhar em prol do Espiritismo de várias formas, como evangelizador e como divulgador da doutrina através de palestras e posteriormente com este podcasts. Considero que sou um cristão, apaixonado pela trajetória de Cristo em nosso meio terrestre, estudando sempre que posso, a literatura a respeito de sua vida, seus exemplos e seus ensinamentos. E entre várias figuras em sua vida sua mãe, Maria, sempre me chamou a atenção. Comecei a ler tudo que conseguia a respeito de Maria, voltando várias vezes aos Evangelhos, especialmente Lucas, buscando subsídios para entender um pouco mais sobre esta importante figura da vida do Cristo. Ah, como eu disse, nasci em um lar católico e até fui batizado, mas tem um detalhe, fui batizado na basílica da cidade de Aparecida, no interior de São Paulo, onde fui colocado nos braços da imagem de Nossa Senhora Aparecida que ficou sendo, assim, minha madrinha. Outro detalhe interessante em minha vida. Quando pequeno, quase desencanei engasgado com uma pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida. Pois é, quase que minha madrinha me levou de volta para o mundo espiritual. Lembro aqui que Nossa Senhora Aparecida foi proclamada como padroeira do Brasil em 1930, após um decreto do papa Pio XI. Sei que não tenho bagagem suficiente, mas, trago neste episódio, um pouco sobre esta mulher tão especial, que teve toda a alegria de ser mãe e que sofreu a dor suprema de ver seu filho sendo morto. Esta mulher de fibra, humilde e forte, chamada Maria. Uma mulher que acabou sendo considerada a mãe de toda a humanidade. E para enriquecer este episódio, utilizei os livros Lázaro Redivivo e Boa Nova, de Humberto de Campos, com psicografia de Chico Xavier, Memórias de um suicida, de Ivone do Amaral Pereira, os textos evangélicos de Mateus, Lucas e João, também o protoevangelho de Tiago, diversos livros sobre Maria de Nazaré, além de um lindo texto que lerei no final do episódio. E utilizaremos hoje uma trilha sonora sugerida no próprio texto que utilizo no final do episódio. Trata-se de Stabat Mater, de Giovanni Battista Pergolesi. É um hino cristão do século 13, cuja autoria não se sabe e que narra o sofrimento de Maria, durante a crucificação. Temos aqui a condução da maestrina Nathalie Stutzmann, com o contratenor Philippe Jaroussky e a soprano Emöke Barath, gravado na Chapelle de la Trinité, no Château de Fontainebleau na França, em abril de 2014. O filósofo Jean-Jacques Rousseau, um admirador desta obra, disse que o movimento de abertura: “É o dueto mais perfeito e tocante que saiu da pena de qualquer compositor”. Maria, ou Myrian, é um nome que significa “senhora soberana” e, para receber um ser, como foi Jesus, era preciso outro ser, de grande condição moral. Portanto, Maria não foi uma mulher qualquer que recebeu uma dádiva de Deus e sim um Espírito evoluído, que permitiu que Jesus desenvolvesse sua missão, bem como o era José, seu marido. Assim, não podemos dissociar a missão de Jesus à existência de Maria, que permitiu que “seu” filho desempenhasse seu trabalho entre os homens. Infelizmente não temos muita informação sobre a vida de Maria, nem mesmo com relação à sua formação familiar. Joaquim, teria sido seu pai e Ana sua mãe, contudo, a história de Maria é tão importante. Ela foi um símbolo de dignidade mesmo em uma época em que a sociedade era patriarcal. E vejam isso. Nos quatro Evangelhos, Maria tem apenas sete falas referenciadas e uma passagem constante no Ato dos Apóstolos, onde ela não tem fala. Suas falas aparecem nas narrativas da Anunciação, na ocasião em que ela visita sua prima Isabel, na apresentação de Jesus no Templo e na passagem das bodas de Caná. Apenas oito frases constam como sendo a ela dirigida e há somente três frases onde ela é citada. Mesmo sendo tão pouco citada nos textos evangélicos, ela tem uma enorme importância, tanto que recebeu uma referência especial dentro do Alcorão, considerado o Livro Sagrado dos Muçulmanos, aqueles que seguem o Islamismo. O Alcorão contém as revelações feitas por Deus (Allah) ao Profeta Maomé (Mohammad). Apesar de os muçulmanos tratarem Jesus com muito respeito, eles não aceitam que ele seja o filho de Deus, uma das três partes da “Santíssima Trindade”, como afirmam alguns cristãos. No entanto, sua mãe, Maria, é retratada como figura especial, que foi escolhida diretamente por Deus para gerar um de seus principais profetas. Por sinal, Maria recebe mais destaque dentro do Alcorão, que o próprio Jesus. Mohammad (Maomé), inclusive, dedicou uma Sura ou Surata, um capítulo, à Maria, (Mariam), a única Sura de todo o Alcorão que é dedicada exclusivamente a uma mulher. Nem Ahmina, mãe de Mohammad, nem Agar, que pode ser considerada a matriarca da religião islâmica, receberam tal homenagem. Lucas, aquele que foi incumbido por Paulo de Tarso a escrever um evangelho, é quem mais fala sobre Maria nos textos considerados canônicos. Provavelmente escrito entre os anos 55 a 61 d. C., o Evangelho de Lucas mostra-se como uma obra histórica, colocada em ordem cronológica, uma história seletiva, com riqueza de detalhes e mencionando acontecimentos históricos, uma verdadeira biografia de Jesus. Pois bem, para escrever esta biografia, Lucas lançou mão de métodos investigativos, indo à campo e entrevistando pessoas, testemunhas da história que escrevia. Portanto, podemos dizer que Lucas, ao descrever Maria e os acontecimentos que a mãe de Jesus presenciou, esteve pessoalmente com ela, indagando-a e ouvindo seus relatos. Ao analisarmos a obra de Lucas, percebemos que ele nos mostra quatro características principais sobre a figura de Maria: uma coragem extrema, uma sofisticada capacidade de reflexão, uma habilidade de raciocinar de maneira sintética e uma autoestima extraordinária. Assim era Maria. É provável que a maior referência à vida de Maria, em termos evangélicos, seja o Proto Evangelho de Tiago. Trata-se de um texto considerado apócrifo, que significa oculto e designa aqueles textos que não deveriam ser lidos em assembleia pública de culto, mas reservado à leitura particular. Apócrifo opõe-se ao canónico, pois canônico era o livro lido no culto público, como os quatros evangelhos do Novo Testamento. O Proto Evangelho de Tiago é também chamado de “Natividade de Maria” e não se tem certeza de quem seja seu autor, apesar de levar o nome de Tiago. O texto inicia com o nascimento de Maria, cita seus pais, Joaquim e Ana; fala de sua consagração no Templo; seu casamento com José; a anunciação do Arcanjo Gabriel; da visita de Maria a sua prima Isabel; do nascimento de Jesus; fala da visita dos Magos e da matança de crianças a mando de Herodes. O texto narra que, aos três anos, Maria é oferecida ao Templo, onde viveu até seus 12 anos. Aqui é importante que ressaltemos a condição de Maria como sendo alguém que tinha conhecimento das leis, uma vez que seria uma iniciada no Templo, como também relata o Espírito Miramez no livro Maria de Nazaré, onde narra que Maria havia sido iniciada nas questões da lei, colocando-a como alguém que teria uma condição de receber aquele que seria seu filho, aquele a quem ela ensinaria as coisas do cotidiano, mas de quem aprenderia as coisas da vida. Segundo a tradição, quando a mulher estivesse no período menstrual, ela era considerada impura e tudo aquilo que tocasse, também seria considerado impuro. Com receio que Maria pudesse macular o Templo, quando ela tinha cerca de 12 anos, os sacerdotes decidiram que ela deveria ser retirada dali. Então, Zacarias, o sumo sacerdote, buscou uma orientação divina. Eis que um anjo do Senhor lhe apareceu e disse: ¨Zacarias! Sai e chama todos os viúvos do povoado; que cada um traga um bastão e a quem o Senhor mostrar um sinal, este será o esposo de Maria”. Então os mensageiros percorreram toda a Judéia conclamando os viúvos a se apresentarem no Templo. José separou seu bastão e se reuniu aos demais viúvos. O sumo sacerdote pegou todos os bastões e, adentrando ao Templo, pôs-se a orar. Concluindo suas orações, pegou os bastões e devolveu-os aos seus respectivos donos. Quando José pegou o seu bastão, uma pomba saiu dele e pôs-se a voar sobre sua cabeça. Então o sacerdote disse que a ele caberia receber Maria como esposa. Passa-se o tempo e um certo dia, como relatam os textos evangélicos, tanto canônicos como apócrifos, Maria recebe uma visita incomum. Um anjo, um espírito enviado de Deus, lhe apareceu e se apresentou como sendo Gabriel (nome que significa “mensageiro de Deus”), que a cumprimenta de uma forma especial: Ave, Maria ou Salve, Maria. Ele a saúda, de uma maneira que indica que reconhece a grandeza daquela que ali estava. E diz: tu és cheia de graça e o Senhor é convosco; bendita és tu entre todas as mulheres. E o anjo lhe diz que ela dará à luz um filho a quem dará o nome de Jesus, e este será grande, e será chamado filho de Deus. Maria, então, não questiona e simplesmente diz: eis aqui a serva do Senhor. Cumpra-se em mim, segundo a tua palavra. Neste momento, Maria demonstra todo seu voluntariado, colocando-se disponível para tudo o que viesse em seu caminho. Gabriel anuncia, também, que Isabel, sua prima, já estaria no sexto mês de gravidez. Interessante notar que os textos dizem que este mesmo anjo Gabriel anunciou a gravidez de Isabel e o nascimento de João a seu pai, Zacarias. Assim, temos que o nascimento de João foi feito a seu pai e o nascimento de Jesus foi feito à sua mãe. Vejam a grandeza deste espírito que constituía Maria, numa sociedade patriarcal. Zacarias duvida e questiona o anjo, mas Maria, não questiona e se coloca disponível para a missão que lhe cabia. Relatam os textos que Maria, já grávida, vai visitar Isabel, sua prima, que também estava grávida e, ao se aproximar dela, Isabel a saúda dizendo: “Bendito é o fruto que trazes em teu ventre. Pois, quando tua saudação chegou até mim, a criança que carrego em meu ventre, pulou de alegria”. Maria, então, percebe a grandeza daquele que ela trazia em seu ventre e, em resposta a Isabel, ela recita o Magnificat, conforme nos narra o Evangelho de Lucas (1:46-55). E aqui temos o Magnificat com Mayara Gonçalves, cantora católica, de João Pessoa, na Paraíba, música que está no álbum Leva-me, de 2018. https://youtu.be/1TCn2DBKOZY Importante perceber na narrativa de Lucas (2:8-12), quando a anunciação do nascimento do Cristo é feita pelo anjo aos pastores que dormiam próximos do local no nascimento. Segundo a narrativa, o anjo disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo. Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Percebamos que foi dito vos nasceu e não simplesmente nasceu! O que indica que o Cristo havia nascido para o povo, colocando Maria como mãe, mas que teria que partilhar seu filho com o mundo. Após o nascimento de Jesus, conforme narra o Evangelho de Lucas, seguindo a lei judaica, Jesus é levado ao Templo, no oitavo dia após seu nascimento. Ele é apresentado à Simeão, que, ao tomar o menino em seus braços disse: Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos viram a tua salvação. Simeão havia recebido uma revelação, que ele não morreria antes de ter visto o Salvador. Maria se maravilhou com essas palavras, mas, Simeão olhando para ela lhe disse: uma espada de dor transpassará também a tua própria alma. Estava anunciada a grandiosa obra que Jesus viria a construir e a dor pela qual Maria passaria. Constam nas narrativas evangélicas que três magos, ou estudiosos, provavelmente dos astros, visitaram o menino recém-nascido e lhe ofereceram presentes. É bom observarmos que a presença destes estudiosos dos astros denota que estava ocorrendo ali, algo de grande importância. Os três ofereceram como presente, ouro, incenso e mirra, o que também tem toda uma simbologia. O ouro denotava a nobreza daquele que havia nascido. O incenso, usado nos rituais religiosos, indicando que aquele ser que havia nascido, simbolizava o sagrado. E, também, lhe foi dada a mirra, uma substância utilizada na unção dos que morriam, sendo usada em rituais funerários. Mais uma vez, o coração de mãe se aperta entre a felicidade e a temeridade do que viria no futuro. Humberto de Campos no livro Boa Nova narra o encontro entre Maria e sua prima Isabel, que vem visita-la, trazendo seu pequeno filho João a esse encontro. As duas mães conversam sobre suas crianças, cujo nascimento fora antecipado por acontecimentos singulares. Ao cair da tarde, Maria e Isabel procuram por seus filhos e os encontram, sentados, lado a lado, observando o horizonte e Jesus, com seu pequeno dedo indicador mostrava a João as paisagens a distância, como um grande general que desse a conhecer os pormenores dos seus planos a um soldado de confiança. A figura da mãe em Maria sobressai quando, na narrativa de Lucas, ela e José percebem, na volta de Jerusalém para Galileia, que Jesus não estava presente entre eles, e voltam a Jerusalém onde encontram o menino no Templo, debatendo com os doutores da lei e Maria lhe diz: Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu ansiosos te procurávamos. Ou seja, Maria, como mãe preocupada, adverte Jesus, dizendo “seu pai e eu estávamos aflitos”. Ali estava a figura da mãe, falando mais alto. Essa figura da mãe, falando mais alto em Maria, também pode ser vista no episódio conhecido como as bodas de Caná, narrada no Evangelho de João (1:1-11). Jesus encontra-se em uma festa de casamento, junto com seus discípulos e também com sua mãe. Quando Maria percebe que o vinho estava acabando, e que isso seria um constrangimento para os pais dos noivos, chega até Jesus e diz: filho, acabou o vinho. Jesus lhe responde: Mulher, que tenho eu com isso? Ainda não é chegada a minha hora. Ao se referir a sua mãe com o termo “mulher”, Jesus não a estava desrespeitando; era a forma da época de se dizer o que hoje dizemos, com respeito, “senhora”. Maria, simplesmente chama os servidores e diz, fazei tudo quanto ele vos disser. Ou seja, a figura da mãe falando mais alto. Em outras palavras: Não quero saber o que você pode ou não fazer. Se vira! Faça o que eu estou mandando! A mãe se fazendo obedecer e o filho obedecendo. Mais um exemplo de que o Cristo honrou seu pai e sua mãe. Mãe, missão tão sublime e tão bem exercida por Maria. Tantas alegrias seu filho lhe dera. Mas, no final da missão terrestre de seu filho, Maria entendeu, do modo mais doloroso possível, as palavras ditas por Simeão quando da apresentação de Jesus ao Templo: uma espada de dor transpassará sua alma. Ao receber a notícia da prisão de seu filho, Maria pôs-se a pensar, que fizera Jesus por merecer tão amargas penas? Ele que sempre tivera carinho em seu coração. Desde os mais tenros anos, observava o carinho fraterno que dispensava a todas as criaturas. Com que enlevo recebia os hóspedes inesperados que suas mãos minúsculas conduziam à carpintaria de José! Desde pequenino cuidava dos desconhecidos, como se fossem seus irmãos. Seu coração de mãe rebentava em tempestades de lágrimas irreprimíveis; contudo, no santuário da consciência, repetia a sua afirmação com sincera humildade: “Faça em mim a vontade do Senhor!” Maria acompanha todo o suplício de seu amado filho. Tenta ajuda-lo em uma de suas quedas, mas é impedida. Depois, se coloca aos pés da cruz onde seu filho seria pregado. A história coloca Maria junto a outras duas Marias, a de Magdala e a de Clopas. As três Marias que a tradição assim as chamou e que, posteriormente, denominou uma formação de três estrelas na base do cinturão de Orion. Ali, aos pés da cruz, a mãe de Jesus recebe dele, seu último pedido. Observando que João, seu discípulo ali também se encontrava, o único, por sinal, e que, sozinha sua mãe não poderia ficar, diz a João, “filho, eis aí tua mãe” e para Maria, “Mulher, eis aí teu filho”. Colocando, assim, Maria sob os cuidados de João, mas, também, neste momento, Maria deixa de ser a mãe de Jesus e passa a ser a mãe de todos nós. Impossível imaginar a dor de Maria ao receber em seus braços, o corpo inerte de seu filho, retirado da cruz. Imagem tão bem retratada em mármore, na escultura, Pietá, de Michelangelo, feita no final do século XV, que se encontra na Basílica de São Pedro, no Vaticano. A profecia de Simeão se fazia acontecer, pois, parecia haver uma espada de dor transpassando seu coração. E, posteriormente, Jesus reaparece, não diretamente à Maria e ela nada reclama. No livro Lázaro Redivivo temos que os companheiros, aprendizes e seguidores, solicitaram a cooperação dos sentidos físicos para sentir a presença do Cristo Ressuscitado. Maria, no entanto, dispensou todos os toques e associações mentais, vozes e visões. Seu Filho Bem-Amado vivia eternamente, no infinito mundo de seu coração. Seu olhar contemplava-o, através de todas as estrelas do Céu e encontrava-lhe o hálito perfumado em todas as flores da Terra. A voz d’Êle vibrava em sua alma e para compreender-lhe a sobrevivência, bastava penetrar o iluminado santuário de si mesma. Maria seguiu com João para a cidade de Éfeso, onde em sua pequena casa, recebia a todos que a procuravam, realizando o dialogo fraterno que tantos procuram em nossas Casas Espíritas na atualidade. Essa casa passou a ser conhecida como “Casa da Santíssima”, a partir da visita de um miserável leproso, que, depois de aliviado em suas chagas, lhe beijou as mãos, reconhecidamente murmurando: “Senhora, sois a mãe de nosso Mestre e nossa Mãe Santíssima!”, como nos mostra Humberto de Campos em Boa Nova. Importante dizer que isso não foi uma criação da igreja católica, como muitos pensam. Isso, também faz parte da tradição. O termo foi dado por aqueles que nela encontraram alento quando a procuraram. Muitos espíritas não gostam de se referir a Maria por este termo, alegando tratar-se de uma criação da igreja, o que não é verdade. A própria oração à Maria, conhecida como Ave Maria, é renegada por muitos espíritas, e eu não entendo a razão disso. O tempo passa e Maria atendeu a todos que a procuraram, até um dia, como descrito no livro Boa Nova, quando um pedinte se aproximou de sua casa e lhe disse coisas do céu e do Reino de Deus. E esse pedinte se mostrou como sendo seu amado filho que ali se lhe apresentava, mostrando-lhe suas chagas. Num ímpeto de amor, Maria fez um movimento para se ajoelhar. Queria abraçar-se aos pés do seu filho e beijá-los com ternura. Cristo, porém, levantando-a, se lhe ajoelhou aos pés e, beijando-lhe as mãos, disse carinhosamente: “Sim, minha mãe, sou eu!... Venho buscar-te, pois meu Pai quer que sejas, no meu reino a Rainha dos Anjos”. Após esse encontro, Maria fica por alguns dias paralisada, na cama, mas com o semblante feliz. Ali, na pequena casa, ela desencarna e é recebida pelos anjos. No entanto, Maria se lembrou dos discípulos perseguidos pela crueldade do mundo e desejou abraçar os que ficariam no vale das sombras, à espera das claridades definitivas do Reino de Deus. Solicitou, então que fosse levada até o Circo Máximo, em Roma, onde seriam sacrificados. Já eram chamados cristãos aqueles que seguiam os ensinamentos de seu amado filho e que, por isso, seriam mortos. Maria, com o coração de mãe, aproxima-se de uma jovem e sussurra em seu ouvido: “Canta, minha filha! Tenhamos bom ânimo!... Convertamos as nossas dores da Terra em alegrias para o Céu!” Daí a instantes, seu canto melodioso era acompanhado pelas centenas de vozes dos que choravam no cárcere, aguardando o sacrifício. Maria, no mundo espiritual, continuou seu trabalho em favor dos mais necessitados, em especial daqueles que se encontram nos vales dos desesperados, como narrou Ivone do Amaral Pereira no livro Memória de um suicida. Surgiu, então, no mundo espiritual, a Legião dos Servos de Maria e o Hospital Maria de Nazaré. Neste mesmo livro, temos a descrição da chamada Hora do Ângelus, que se instala no mundo espiritual, às dezoito horas, quando se fazem saudações à Maria de Nazaré. Portanto, para aqueles que não cultuam Maria, dizendo ser essa tradição uma criação terrena, da igreja católica, Ivone do Amaral Pereira nos mostra que no mundo espiritual isso acontece e que nós, aqui no plano terrestre, a copiamos. Para encerrar este episódio, trago agora mais um texto da querida jornalista e escritora Sônia Zaghetto. O texto chama-se Mater Dolorosa e foi publicado em seu blog no dia 16 de abril deste ano de 2022 (https://soniazaghetto.com/2022/04/16/mater-dolorosa/). Silêncio, silêncio. Nada digas, meu filho. Já vai alta a tarde e vejo nos teus olhos que o fio da vida se esgarça. Silêncio, meu filhinho, eu sei o que se passa no teu coração. Vejo teus lábios se movendo, em meio à agonia. O que pedes? Água? Piedade? Não, meu filho, meu amor. Pedes que alguém tome o teu lugar na minha vida. Teus olhos fixos nos meus, entretanto, dizem o que nós dois sabemos: teu lugar não pode ser ocupado. Há algo errado no mundo, meu filho. Daqui a alguns anos, quando todos os meus cabelos estivessem brancos, serias tu a me segurares as mãos quando eu cruzasse os portais de um universo desconhecido. O que existe após essa vida é mistério. Talvez haja luz, talvez apenas silêncio. Ingênua eu fui. Imaginei que aos poucos a minha pele se tornaria fino pergaminho e tu me carregarias nos braços. Eu seria então a tua criança. Meu corpo frágil, minha mente se apagando aos poucos, meus passos trôpegos receberiam de ti os mesmos cuidados que te dispensei ao chegares. Mas os sonhos humanos são bolhas de sabão. Mesmo esses, tão simples. O mundo os desfaz. Mal te vejo agora. Um véu líquido se colocou entre mim e todas as coisas. Tudo está molhado, tudo tão triste. Do teu peito escapou um suspiro leve, eu o ouvi. Ruach. Com ele algo também fugiu de mim. Estremeço, meu filho. Algo se rasga de cima a baixo. Um estrondo, uma dor que as palavras não traduzem. Ainda há cor nos teus lábios e eu já sinto o abismo da tua ausência. Já não sou inteira. Alguém me oferece uma taça cheia de fel. Eu a recuso. Travo os dentes, cerro os lábios, mas a mão implacável pressiona as minhas bochechas e despeja todo o fel garganta abaixo. Ergo os olhos para o sol que se põe e penso em coisas belas a desaparecer. Carícias nos teus cabelos, doçuras na minha voz, os risos nas nossas horas. Onde estão agora os meus tesouros pequeninos? Onde estás, meu filho, meu amor? Recebo o teu corpo ferido pela crueldade dos homens. Abraço-te com cuidado e passo teus braços em torno do meu pescoço. Eles caem. Afundo o rosto nos teus cabelos. Teu cheiro, meu filho, meu amor. Um dia, eu sei, daqui a muito tempo, estarei na cozinha. Um aroma de pão assando me lembrará de ti, sentado no chão, com uns olhos enormes a me fitar, e aquele encantamento com que todas as crianças olham as mães. O dia em que um passarinho pousou nos teus ombros. Sorrirei à lembrança. Irei devagar até a janela e olharei o céu sem nuvens. Os dias terão se passado entre amanheceres esplêndidos e ocasos espetaculares. A natureza seguirá seu ritmo, indiferente à tua partida. Sentirei uma brisa fresca a me soprar os cabelos. Logo virão as chuvas. De repente, ouvirei um ruído leve. Bater de asas? O vento a passar entre as folhas da velha árvore? Não, não. Vou apurar o ouvido. No meu coração, no exato local em que habitas, uma voz canta suave melodia. Uma cantiga para ninar adultos. Então ouvirei a minha própria voz murmurando: Eu escuto, meu filhinho, meu amor. Este é o podcast Mundo Espiritual. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas. E o Gustavo Crispim é que faz a arte das capas dos episódios. Ouça ou baixe o podcast, confira o conteúdo do episódio e entre em contato conosco (https://podcastmundoespiritual.blogspot.com/ e http://mundoespiritual.podcloud.site/). Estamos também no Facebook (https://www.facebook.com/podcastmundoespiritual), e Instagram (https://www.instagram.com/podcastmundoespiritual/). Procure por podcast Mundo Espiritual nas diversas plataformas players de podcast. Deixo vocês com a música Ave, de Gladston Lage e Tim, com os irmãos Tim e Vanessa, música que está no álbum Verbos, lançado em 2003. https://youtu.be/nVvmWMhVgcc Um grande abraço para todas as mães e um beijo especial para minha querida e saudosa d. Laila, para quem dedico o episódio de hoje. Receba o carinho deste seu filho, onde quer que se encontre, minha mãe! Fiquem todos em paz e até nosso próximo episódio.





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