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EPISÓDIO # 57 - O QUE REALMENTE NOS É ESSENCIAL?

  • Foto do escritor: Carlos A. Biella
    Carlos A. Biella
  • 29 de fev. de 2024
  • 1 min de leitura

Atualizado: 23 de mai. de 2024


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O que realmente nos é essencial?


Assisti a um documentário que me fez refletir sobre nossas prioridades. Imagine comprar um par de botas pagando com batatas. Afinal, o que nos é essencial? Sejam todos muito bem-vindos e aproveitem.


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Saudações a todos. Este é o podcast Mundo Espiritual. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas e a arte das capas dos episódios é feita pelo Hugo Biella.

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E estamos de volta. Este é o primeiro episódio desta nossa quinta temporada. Agradeço a todos aqueles que tem contribuído com seus comentários e sugestões.

E vamos em frente...

No episódio # 49 (Necessário e supérfluo), falei a respeito da diferença entre aquilo que nos é necessário e o que seria supérfluo. Finalizei aquele episódio com um trecho da Carta de Paulo aos Filipenses. E começo este episódio, trazendo uma outra leitura daquele trecho, agora numa mescla que fiz de várias traduções: aprendi a contentar-me com o que tenho, a adaptar-me às necessidades. Sei viver modestamente e sei também viver na abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído; viver saciado e passar fome, tanto a ter abundância, como a padecer necessidade.

E você, sabe viver na abundância e também na necessidade?

Parece que não é tão simples assim, viver sem muitos dos confortos que temos hoje em dia.

Não dá para abrir mão, por exemplo, de nossos smartphones, da eletricidade, da internet, da água tratada, entre muitas outras coisas.

Mas, você consegue se imaginar vivendo num mundo onde o dinheiro praticamente não existe?

Viver de um modo simples, porém, rude. Todo dia, vendo o sol nascer e se por, sem muitas expectativas

Essa é a música Canto do povo de um lugar, de Caetano Veloso, lançada no álbum Joia, em 1975. Aqui com um achado que encontrei na internet. Essa é a cantora e compositora brasileira de origem judaica, Fortuna, com a canção que foi gravada no álbum Acalanto com Fortuna, de 2021. (https://youtu.be/CmP8Doca93U).

Trago aqui a sinopse que se encontra no streaming Netflix, a respeito do documentário O Mercador: Um comerciante viajante mostra a vida no interior da República da Geórgia, onde batatas são moeda e a pobreza esmaga qualquer ambição.

E foi nesse documentário que vi que, em pleno século XXI, é capaz de existirem comunidades onde nem mesmo dinheiro é necessário para se obter o que é essencial para viver.

E foi após assistir ao documentário, que resolvi elaborar o roteiro deste nosso episódio.

Com o título original Sovdagari, O Mercador, da documentarista Tamta Gabrichidze, de 2017, é um exemplo de filme onde nos colocamos como observadores, acompanhando um comerciante vendendo produtos, muitos deles de segunda mão, pela área rural da Geórgia, onde as batatas funcionam como dinheiro.

O Mercador é o tipo de documentário onde não há encenações, com muitas cenas longas, trazendo uma sensação de naturalidade para que as assiste. Não existe uma narrativa e, na maior parte do tempo, o que se ouve são sons naturais e conversas, além do silêncio, presente em muitas cenas. São somente 23 minutos de documentário, que, para alguns como eu, deixa um buraco na alma.

Mostrando a dura vida de agricultores da zona rural da Georgia, O Mercador nos mostra a desigualdade existente entre a cidade e o campo, entre o supérfluo e o necessário, mas, acima de tudo, nos mostra o que é essencial.

No documentário, acompanhamos a atividade de um mercador, Gela Kolochovi, que percorre o interior rural da Geórgia em uma van, oferecendo vários produtos como roupas usadas, bolsas, brinquedos de plástico, cosméticos, esponjas, utensílios diversos, botas... e caquis. O que mais nos chama a atenção é o fato de o pagamento dos produtos não ser realizado em lári, a moeda local. Os camponeses pagam suas compras em batatas, com o mercador taxando os produtos em quilos de batatas.

“São 5 quilos de batatas”, responde o mercador para uma mulher que lhe pergunta sobre uma echarpe. Já as botas sairiam por 25 quilos de batatas.

Então, vale lembrar aqui, um pouco da história da Geórgia.

A Geórgia é um pequeno país localizado na Europa Oriental, quase do tamanho do estado da Paraíba. Tem uma população total de pouco mais de 4 milhões de habitantes e sua capital é Tbilisi. Fica na região do Cáucaso, bem no limite entre a Europa e a Ásia, uma região denominada Eurásia.

Sua história remonta há mais de 2.500 anos e desde o século I até o século XVIII, grande parte de seu território foi disputado por persas, romanos, bizantinos, árabes, mongóis e turcos. No início do século XIX, o império russo começou um gradual processo de anexação do território georgiano. A República Independente da Geórgia surgiu em 1918, graças a crise gerada pelo fim do Império Russo. Em 1921 a república é suprimida e a Geórgia passa a fazer parte da chamada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Em 1924 após a morte de Lênin, assume a liderança soviética, o georgiano, nascido na cidade de Gori, Josef Stalin, que mudou a história da União Soviética, implantando o voto universal, erradicando o analfabetismo e várias doenças, promovendo a industrialização.

Após a Segunda Guerra, o povo soviético buscou reconstruir suas terras e entre os anos de 1945 a 1953, a União Soviética se encontrava em pleno desenvolvimento econômico. Mas, após a morte de Stalin, na segunda metade do século XX, as coisas começaram a mudar e a Geórgia começou a empobrecer, principalmente durante o governo de Leonid Brejnev que acabou beneficiando algumas repúblicas do Báltico, em detrimento das repúblicas do Cáucaso e da Ásia Central, que acabaram por focar na produção de bens primários. Foi o que aconteceu com a Georgia que nos anos seguintes, graças a uma grave crise econômica, tornou-se um país onde batatas cultivadas por camponeses, são trocadas por roupas e calçados usados e uma série de quinquilharias.

Bem, para aproveitar a ocasião, ouvimos ao fundo o hino da URSS (https://youtu.be/qigIYJWsyWE).

Mas, volto agora ao documentário.

Na parte final, parece que o mercador seria, na realidade, um aproveitador, um intermediário entre os camponeses e um tipo de mercado central em Tbilisi, onde ele recarrega seu estoque com roupas de segunda mão para futuras trocas, ao mesmo tempo que vende as batatas recebidas.

Mas, a intenção não parece ser a de retratar o mercador em si mesmo, como um monstro. Acho que existe, sim, a intenção de mostrá-lo como alguém que está inserido na realidade atual da Geórgia, tanto quanto os outros e que ele faz o que pode para sua sobrevivência.

Ao longo dos poucos minutos, vemos o contraste entre belas paisagens e moradias precárias, muitas vezes, numa atmosfera melancólica, mostrando pessoas em condições de vida, muito diferente da maioria de nós.

Percebe-se que celulares, televisores e até mesmo o dinheiro são coisas que parecem não estar presentes na realidade dos moradores daquela comunidade. Há uma outra forma de encarar o dia a dia, o tempo e tudo que está a sua volta.

As crianças brincam na rua e se admiram com bolhas de sabão. Inclusive, nesta parte do documentário, fiquei muito impactado com o olhar das crianças para as bolhas de sabão. Um olhar de admiração e de alegria. Fiquei imaginando essas crianças vivendo num mundo com mais recursos. Será que teriam esse mesmo olhar para uma simples bolha de sabão?

As plantações de batata são cultivadas manualmente. Parece não haver uma agricultura mecanizada, não há, tampouco resposta quando a documentarista pergunta a um menino “o que você quer ser quando crescer?”.

Neste momento do documentário, quando a pergunta é feita, duas crianças se encontram em uma casa, com o menino brincando com um pequeno gato e ao fundo se ouve a música Dashni com o rapper albanês Majk. Isso não tem a menor importância, é apenas para aqueles que, como eu, são curiosos.

E Dashni é essa música que estamos ouvindo agora (https://youtu.be/KT5DgDtvFas).

Após a pergunta sobre o que quer ser quando crescer, o menino não consegue responder. A pausa enquanto a resposta do menino não vem, é dramática e mostra toda a expectativa de vida daquelas crianças. Ou seja, não há nada a esperar, a não ser continuar vivendo como seus pais vivem e viveram ao longo do tempo.

Não vemos nenhuma televisão naquele ambiente. Só a música ao fundo, possivelmente vinda de um rádio.

Na cena seguinte, vemos o menino levando o gado pela estrada.

É, como diz a sinopse no documentário: a pobreza esmaga qualquer ambição.

E segue o documentário, mostrando o mesmo menino, agora com outro, talvez um pouco mais novo, vendo as quinquilharias na van do mercador. Os dois se maravilham com os produtos que o mercador lhes apresenta.

O olhar dos meninos para os produtos, bate lá no fundo da alma. Um caderno, um ralador, uma carteira, uma simples esponja... seus olhos não param, em meio a tantas coisas, maravilhosas para eles e tão banais para nossas crianças.

Assim é a vida desta gente humilde.

Essa é a música Gente humilde, de Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque, que foi lançada no disco Chico Buarque de Hollanda Volume 4, em 1969. Aqui temos o músico português António Zambujo e o violonista brasileiro Yamandu Costa, ao vivo, em 2022, em Lisboa.

(https://youtu.be/zPs1zJFM90k).

O documentário faz o papel de representar muito bem essa distinção entre dois mundos. O mercador é o capital, é a cidade, o intermediário. As pessoas que vão até a van para comprar ou simplesmente admirar os produtos são representantes de uma vida sem tudo isso que muitos consideram essencial.

Em um determinado momento, uma senhora, já idosa, sem dinheiro, sem batatas, queria e dizia ser essencial para sua sobrevivência um ralador. Mas não tinha como comprar. Ela implorou para que o mercador lhe desse de presente, pois era velha, sozinha, sem dinheiro e sem batatas. Acabou baixando os olhos e se retirando sem levar o ralador. Neste momento, confesso que algumas lágrimas deixaram meus olhos e escorreram em meu rosto.

Outras cenas, também marcam. A admiração das crianças com uma esponja de pia. Uma mulher trocando um saco de batatas por um par de botas.

Assim, esse documentário nos faz questionar o que realmente é essencial.

O que realmente é essencial para nós? É algo para se pensar, não é mesmo?

Podemos resumir o que é essencial para alguns de nós e supérfluos para aquelas pessoas mostradas no documentário, quando alguns homens estão falando a respeito de um batom. Um deles diz que aquilo é coisa para mulher. Outro diz que daria de presente.

Interessante é que, na cena seguinte, uma das mulheres que aparecem, diz que a beleza é importante para as mulheres. Mas, ela completa dizendo que mulheres devem ter a beleza natural, não pintadas com maquiagem. Viram? Beleza natural é essencial, maquiagem, não. Principalmente se você não tem condições de compra-la.

Em outra cena, a documentarista faz uma pergunta a um senhor, com a pele e as mãos marcadas pelo trabalho pesado e pelas durezas de sua vida. Em sua resposta, temos o resumo do que é viver naquela situação: meu sonho de infância era estudar. Eu queria me formar na faculdade, mas não pude, pois não tive a oportunidade.

E agora, qual seu sonho, pergunta a documentarista: Meu sonho, agora? Só quero uma boa colheita, ter um trabalho e não ficar em casa sem fazer nada. Mais nada.

Mais a frente, esse mesmo senhor, conversa com outro morador e diz que gostaria de ir embora dali. Diz que, se fosse jovem, iria embora. Teria uma BMW e mulheres bonitas.

Mas, encarando sua realidade, ele diz: Bem, esse tempo já passou!

Então, o que vem a ser o essencial?

Água é essencial, sem ela, nosso corpo não consegue sobreviver. Água gelada pode ser necessária em alguns momentos, mas, em sua ausência, podemos nos virar com água sem gelo. Agora, pagar cerca de R$ 2.100,00 por uma garrafa de água Kona Nigari, do Japão, é totalmente supérfluo. Já acho um absurdo pagar cerca de R$ 80,00 por uma garrafa de 800 ml da norueguesa Voss, vendida aqui no Brasil.

Antoine de Saint-Exupéry, no lindo livro O Pequeno Príncipe, lançado em 1943, diz, quando se refere ao local onde o príncipe teria nascido:

Tenho sérias razões para supor que o planeta de onde vinha o príncipe era o asteroide B 612. Esse asteroide só foi visto uma vez ao telescópio, em 1909, por um astrônomo turco. Ele fizera na época uma grande demonstração da sua descoberta num Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém lhe dera crédito, por causa das roupas que usava. As pessoas grandes são assim. Felizmente para a reputação do asteroide B 612, um ditador turco obrigou o povo, sob pena de morte, a vestir-se à moda europeia. O astrônomo repetiu sua demonstração em 1920, numa elegante casaca. Então, dessa vez, todo o mundo se convenceu.

Se lhes dou esses detalhes sobre o asteroide B 612 e lhes confio o seu número, é por causa das pessoas grandes. As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: "Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que ele coleciona borboletas?" Mas perguntam: "Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?" Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: "Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado. . . " elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma ideia da casa. É preciso dizer-lhes: "Vi uma casa que vale cem mil francos". Então elas exclamam: "Que beleza de casa!"

Perceberam o que é o essencial?

E para aqueles que nunca leram essa maravilha de livro, aqui vai o que a raposa fala ao principezinho, quando os dois se despedem: É apenas com o coração que se pode ver com clareza, pois o essencial é invisível aos olhos.

Aqui temos a música O essencial é invisível, de Miria Kolling, na interpretação de Marion Camargo. Uma canção católica, aqui em nosso podcast? Porque não?

(https://youtu.be/U6adAP5cyi0).

Talvez o que a raposa tenha tentado passar para o Pequeno Príncipe é que deveríamos colocar mais nosso coração para que possamos ver a vida.

Então, coloque seu coração a frente, quando for observar sua vida.

Pense bem, com quantas pessoas você já se relacionou hoje? Com quantas delas você deixou seu coração ver, primeiro?

O documentário O Mercador, nos mostra como algumas pessoas vivem uma vida mais simples, com prioridade para aquilo que é necessário, essencial. Mas, existem muitas outras pessoas que buscam no consumo de supérfluos, uma maneira de expressão pessoal, uma busca por prazer e satisfação.

E assim a vida vai seguindo em frente, mas este episódio vai ficando por aqui.

Este é o podcast Mundo Espiritual e a produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e o Hugo Biella é que faz a arte das capas dos episódios.

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Antes de finalizar, trago um trecho da crônica intitulada “O senhor compra um salgadinho para me ajudar?”, de Rubem Alves, que está no delicioso livro “Por uma educação romântica”, lançado em 2002.

De vez em quando eu dou uma olhada neste livro, é uns dos que mais gosto dele.

Na crônica, Rubem Alves diz que estava indo fazer uma palestra em uma localidade no Paraná. Quando desceu no aeroporto da cidade de Guarapuava, viu um menino louro, de uns 10 anos de idade, com uma caixa de isopor pendurada no pescoço.

“O senhor compra um salgadinho para me ajudar?” – ele disse, com voz baixa. “Compro” – eu disse. “Quanto custa?” – perguntei. “50 centavos”. Dei 1 real e disse pra ele guardar o troco. Ele sorriu. Aí comecei uma conversa. “O que é que você mais gosta de fazer”. Pensei que ele iria dizer brincar, jogar futebol, pescar. A resposta me surpreendeu. “O que eu mais gosto de fazer é vender esses salgadinhos que a minha mãe faz e estudar”.

Em seguida, foi com um táxi até o local onde faria a palestra.

No outro dia, de volta ao aeroporto, para regressar a São Paulo, lá estava o menino com sua caixa de isopor. Mesmo sorriso, mesma roupa, sandálias havaianas. “O senhor compra um salgadinho para me ajudar?”. “Claro!” – respondi. “Espera só um pouquinho. Vou despachar as malas”. Fui e voltei. “Que salgadinhos você tem?”. “Pastéis de carne. Minha mãe faz”. “Outros irmãos?”. “Três” – ele respondeu. “Pra cima ou pra baixo?”. “Pra baixo”. “E a mãe?” – perguntei. “Não pode trabalhar. Sofre do coração. Desmaia”. “E o pai?”. “Está desempregado” - ele respondeu com o mesmo sorriso, sem se lamentar.

Olhei para o menino e vi milhares de meninos como ele, com aquele sorriso onde brilha uma impossível esperança, perdidos por esse Brasil sem fim, e me veio vontade de chorar (como estou agora). Saí para o lado para ele não perceber.

Rubem Alves segue a crônica, dizendo que engoliu o nó no gargomi (nome que Rubem Alves se refere ao nó na garganta, quando temos vontade de chorar).

Pensei nele como uma criança que tem o direito de ser feliz. Que tem o direito de ver florescer as inteligências que moram nele como sementes. Pensei, como educador, nas inteligências perdidas – milhares, milhões de sementes que nunca serão plantadas, inteligências que nunca verão o mundo, que nunca brincarão com as coisas. E, no entanto, elas estão lá, nas crianças.

Depois de demonstrar sua raiva no sistema político brasileiro, ele segue a crônica.

Desatei o nó no gargomi. Voltei com fala macha. “Como é que você chama?”. “José Roberto Quadros”. Sorri para ele, para ele não ficar intimidado pela minha macheza.

“Escrevo para crianças. Vou lhe enviar um livrinho. Me dá o seu endereço...”. Eu me despedi e fui andando. Já longe, voltei para trás e o vi, magro e sorridente, sobre as sandálias havaianas. Imaginei que tinha o sonho de ter um par de tênis. “Qual o número do seu sapato?”. “38” – ele respondeu. “Vou lhe mandar um par de tênis”. Virei rápido para ele não me ver chorando.

Grande Rubem Alves.

E é assim que vou encerrando este episódio, com os olhos cheios de lágrimas principalmente pelas crianças, que não tem nem mesmo aquilo que seria o essencial na vida delas, como mostram o documentário e Rubem Alves em sua crônica: o direito de serem crianças e de terem esperança.

Deixo vocês com a música O essencial, com o Grupo Evangelizar é Amar, ao vivo no Teatro Bruno Kiefer, na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, lá em 2012.

(https://youtu.be/qwDroVRjofk).

Ah, procurem assistir O mercador.

Fiquem todos em paz e até nosso próximo episódio.



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