EPISÓDIO # 58 - AH, QUE FELICIDADE!
- Carlos A. Biella

- 21 de mar. de 2024
- 1 min de leitura

Ah, que felicidade!
A felicidade é um estado emocional traduzido por sentimentos de satisfação, contentamento e realização. E você, é feliz? Sejam todos muito bem-vindos e aproveitem.
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Saudação a todos. Este é o podcast Mundo Espiritual. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas e a arte das capas dos episódios é feita pelo Hugo Biella.
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Buscando material para este episódio, encontrei um artigo de três psiquiatras da USP, numa edição de 2007 da Revista de Psiquiatria Clínica. Segundo o artigo, felicidade é uma emoção básica caracterizada por um estado emocional positivo, com sentimentos de bem-estar e de prazer, associados à percepção de sucesso e à compreensão coerente e lúcida do mundo.
E foram muitos os artigos sobre felicidade, muitas entrevistas, enfim, muito assunto referente a esta emoção.
Em muitos trabalhos, são atribuídos à felicidade, especialmente dois elementos: o equilíbrio emocional e os níveis de satisfação. O primeiro refere-se à quantidade de emoções positivas vivenciadas por uma pessoa e o segundo diz respeito a satisfação desta pessoa com sua vida.
Ser feliz associa-se, também, com a percepção geral que a pessoa possui sobre a vida. As pessoas expressam felicidade quando se encontram de bem consigo mesmas, quando se recordam de bons momentos, quando estão com pessoas amadas ou ainda, quando fazem o que mais gostam.
Quanto mais otimista for a pessoa, provavelmente mais bons sentimentos e boas emoções serão gerados. Já para aqueles que são pessimistas, sua vida tende a ser repleta de emoções ruins. A infelicidade anda de mãos dadas com a raiva, a tristeza e a angústia. Então, ser quiser ser feliz, afaste-se destes sentimentos.
Ao fundo estamos ouvindo essa delícia. É o Samba Jazz Syndicate, tocando a música A Felicidade, composta pela grande parceria Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Essa apresentação eu encontrei na internet e foi gravada em 2012 (https://youtu.be/VtiFzpuzMfg).
Essa música vai nos acompanhar em boa parte deste episódio.
Podemos entender que a felicidade seja, predominantemente, subjetiva, com cada um de nós tendo a sensação de bem-estar que é conquistada através da sua experiência pessoal. E essa experiencia engloba os diversos elementos que compõem nossa vida, os relacionamentos e a vivência diária. Também auxilia quando temos um propósito em nossa vida, ou seja, encontrar sentido naquilo que fazemos.
As pessoas precisam ver sentido em seus relacionamentos, planos e comportamentos, mesmo que eles sejam simples.
Então, cada um de nós possui percepções diferentes sobre a felicidade. Para uns, é passear num local calmo e tranquilo. Para outros, viajar pode ser a razão principal para a felicidade. Já para alguns, ajudar os outros, trabalhar voluntariamente, traz felicidade.
E você, é feliz? Não sabe? Então faça, a si mesmo, estes três questionamentos:
Quais são as experiências, hábitos e relacionamentos que te fazem feliz?
O quão satisfeito você está com sua vida?
Você sente mais prazer e alegria ou mais tristeza, medo e raiva?
E então? Você é feliz?
Não existe uma receita pronta para sermos felizes. Lembre-se que a felicidade é subjetiva.
No entanto, algumas características são comuns às pessoas felizes.
O riso fácil e o sorriso constante, a facilidade em se relacionar com as pessoas e fazer amigos, ter amor-próprio, ter uma postura mais benevolente e sempre pronto para ajudar o outro. Ser resiliente é outra característica, assim como uma grande fé no futuro, paciência e otimismo.
Contudo, não é fácil sustentar a felicidade o tempo todo. Nem tampouco sempre encontrar motivos para sorrir, não é mesmo? Muitas vezes, essa grande dificuldade em ser feliz pode estar associada a algum problema psicológico, como a ansiedade e a depressão.
Assim, surge uma nova área da ciência que busca investigar os estados afetivos positivos, como a felicidade. É a psicologia positiva.
Segundo o psicólogo estadunidense Martin Selligman, um dos criadores da Psicologia Positiva, junto com Christopher Peterson, a felicidade pode ser medida, analisando o nível de satisfação que uma pessoa tem para com a vida. Quanto mais as pessoas estiverem satisfeitas com todos os aspectos de sua vida, maior será seu bem-estar psicológico.
De acordo com os pesquisadores, o melhor é olhar para aquilo que deu certo em nossas vidas e não focar no que deu errado. Essa positividade pode ser um caminho para a felicidade.
Mas, sabemos que a ausência de transtornos mentais não é o suficiente para se tenha uma existência feliz. A felicidade é uma condição que difere e muito da ausência de infelicidade, ou seja, não é porque não estou infeliz que estarei feliz.
Interessante é que o ser humano está sempre em busca da felicidade. Veja, por exemplo, a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, datada de 1776. Nela temos a seguinte observação: “Conservamos as verdades que falam por si; que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador com certos direitos Inalienáveis e que entre estes estão o da Vida, da Liberdade e da Busca da Felicidade”.
Pois é, não só os americanos, mas todos temos, por direito, a felicidade.
Mas, ao analisar muitos dos trabalhos científicos sobre o tema, percebe-se que boa parte deles, não utiliza o termo “felicidade”, mas sim refere-se a “bem-estar subjetivo”. Pelo jeito, é mais fácil mensurar o bem-estar subjetivo que a felicidade proporciona, do que a própria felicidade em si.
Existem diversos aspectos que interferem, subjetivamente, no bem-estar e, consequentemente na felicidade de um indivíduo.
Valores como riqueza e beleza física encontram-se entre os aspectos relacionados por muitas pessoas com a felicidade.
Nos estudos que pesquisei, foi possível perceber que, tanto para nações quanto para indivíduos, a felicidade se instala quando se vive em condições dignas, com moradia, alimento, água e saneamento básico, ou seja, o aumento do poder aquisitivo não traria um aumento significativo nos níveis de felicidade. Estudos mostram que pessoas com poder aquisitivo acima da média não são mais felizes do que a população geral. Normalmente essas pessoas tem maior preocupação, vivendo com mais tensão e dedicando menos tempo para as atividades consideradas prazerosas.
Outro aspecto interessante refere-se a idade. Estudos investigando a correlação entre idade e bem-estar, concluíram que praticamente não há muita alteração.
Agora, um fator que se associa, moderadamente a um aumento nos índices de felicidade é a questão da fé, seja através da religiosidade ou pela espiritualidade.
Resumidamente, religiosidade refere-se a um sistema organizado de crenças e rituais e espiritualidade consiste numa busca pelo significado da vida, através de uma relação com o sagrado e o transcendente, sem necessariamente, envolver aspectos religiosos. Pesquisas mostram que pessoas religiosas ou espiritualistas, apresentam maiores índices de felicidade e de satisfação com a vida.
Isto pode acontecer pelo fato de a espiritualidade fornecer um sentido e um propósito de vida para as pessoas, o que proporciona respostas a muitas dúvidas existenciais, relacionados à angústia e à infelicidade. Também se acredita que, com a religiosidade, as pessoas sentem-se menos solitárias, o que pode promover a felicidade.
Os pesquisadores brasileiros, Alexander Moreira-Almeida e Francisco Lotufo Neto, juntamente com o psiquiatra norte-americano Harold Koenig, em um artigo de 2006, revisaram mais de 800 pesquisas relacionando saúde mental e religiosidade e concluíram haver evidência suficiente de que o envolvimento religioso se associa à melhor saúde mental, o que foi medido através de indicadores de bem-estar psicológico, como satisfação com a vida, felicidade, afeto positivo e moral mais elevado. Também se associa a um menor índice de transtornos psiquiátricos, como depressão, ideação suicida e uso ou abuso de álcool e outras drogas.
E já que falei sobre espiritualidade, em O Livro dos Espíritos, um dos livros bases da Doutrina Espírita, lançado em 1857, composto de perguntas feitas por Allan Kardec e respondidas por Espíritos considerados Superiores, temos uma condição bem interessante.
Na questão 614, Kardec pergunta o que se deve entender por lei natural e obtém como resposta que “a lei natural é a Lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela se afasta.”
Viram só? Somos infelizes quando nos afastamos das leis naturais ou, para os que creem em Deus, das leis divinas, que seriam a mesma coisa.
O interessante é que na questão 621, Kardec questiona onde estariam escritas essas leis divinas e a resposta foi: “na consciência”.
Percebam que as leis divinas ou as leis naturais, não estão escritas, elas estão inscritas em nós mesmos. Então, somente seremos infelizes se nos afastarmos das leis divinas ou naturais, que estão em nossa consciência, ou seja, se nos afastarmos de nós mesmos.
Por isso a grande necessidade de interiorização que tantos apregoam.
O neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl, em muitos de seus livros, afirma que o ser humano tem o desejo de ser feliz, contudo, ele afirma que o homem não quer, necessariamente, ser feliz. No livro Em busca de sentido, ele diz: O ser humano não é alguém em busca da felicidade, mas sim, alguém em busca de uma razão para ser feliz. Assim, para o fundador da Logoterapia, a felicidade não pode ser buscada, deve-se ter uma razão para “ser feliz”.
Então, de acordo com grande parte dos estudos que pesquisei, a felicidade é de aspecto, predominantemente subjetivo, sendo mais subordinada a aspectos de temperamento e de postura diante da vida, ou seja, “sou feliz porque me sinto de bem com a vida e comigo mesmo”.
Assim, entendendo que a felicidade se coloca como algo totalmente subjetivo, entendemos a razão de ser mais comumente usado o termo "bem-estar subjetivo", especialmente pelos estudiosos, em especial na psicologia, quando se referem a esse estado emocional.
Existem dois elementos chaves para a felicidade, ou para o bem-estar subjetivo: o equilíbrio das emoções e a satisfação com a vida.
Todos nós experimentamos sentimentos e emoções, tanto positivos, quanto negativos e a felicidade normalmente se liga a maior experiencia de sentimentos positivos.
Já em relação à satisfação com a vida, pense bem, o quão satisfeito você está com sua vida? Em seus relacionamentos, no seu trabalho, em suas conquistas e em várias outras coisas que você considera como sendo importantes? Como anda sua satisfação?
Pense bem e responda a si mesmo: você se considera feliz?
Sócrates, filósofo grego, já defendia, séculos antes de Cristo, que buscar ser feliz seria uma tarefa de responsabilidade do indivíduo. Outro filósofo grego, Aristóteles dizia ser a felicidade, o único desejo humano, sendo todos os outros desejos humanos, como a beleza, a riqueza, a saúde e o poder, meios de se atingir essa felicidade.
Robert Waldinger, psiquiatra e psicanalista, professor de psiquiatria na Harvard Medical School, dirige o Estudo sobre Desenvolvimento Adulto de Harvard, um dos estudos mais completos sobre a vida adulta já realizados. Iniciado em 1938, o estudo tem acompanhado a vida de mais de setecentas pessoas, realizando questionários a cada dois anos sobre suas vidas, incluindo a qualidade de seus casamentos, satisfação no trabalho e atividades sociais, bem como avaliando a saúde física.
Essa longa pesquisa descobriu que são os relacionamentos que nos mantém felizes e saudáveis. Quanto mais próximas de suas famílias e amigos, maiores índices de felicidade eram encontrados, em relação as pessoas mais solitárias. E outra coisa importante, seria a qualidade destes relacionamentos.
Para Waldinger, a solidão mata, uma vez que o estudo indica que os solitários vivem menos. Para ele, a solidão é tão poderosa quanto o tabagismo ou o alcoolismo.
Bem, seu o estudo vem demonstrando que as pessoas são mais felizes quando se relacionam entre si e que a felicidade dependeria da qualidade destes relacionamentos, então, podemos dizer, com toda certeza, que a felicidade se encontra ao nosso lado. Assim, diga para aquela pessoa que está a seu lado e te faz feliz: felicidade, é viver em sua companhia...
Esse é Seu Jorge, com a música Felicidade, lançada no álbum Música para churrasco, vol. II, de 2015. (https://youtu.be/gnl-DiE3_gw).
Bem, acho que você percebeu que a felicidade é algo muito próprio e que todos nós a buscamos. Bem, não sou expert em felicidade, mas, aqui vão algumas dicas para ser feliz:
Procure ter mais atitudes positivas.
Procure lutar contra os seus medos, contra tudo o que te faz perder a confiança e a vontade em arriscar e tentar coisas novas.
Busque compartilhar emoções.
Descanse mais e acorde para o novo.
Evite a rotina e experimente coisas novas. Renove-se e continue a viver.
Deixe de lado a procrastinação e não fique adiando as coisas que são importantes para você.
Cuide mais de si mesmo, pois ninguém gosta mais de você do que você mesmo.
Construa ambientes que te façam sentir bem, cuide da sua casa, do seu local de trabalho.
Seja mais grato, agradecendo mesmo aquelas pequenas coisas que te deixam feliz.
Procure terapia, se for necessário, pois existem profissionais capacitados e os psicólogos estão aí para te ajudar a ser mais feliz.
Encontrei uma tese de doutorado em psicologia, da USP de São Paulo, de Lilian Graziano, intitulado Felicidade Revisitada: um estudo sobre bem-estar subjetivo na visão da psicologia positiva. (https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-23052006-164724/publico/doutoradoIntegral.pdf).
Baseando-se numa pesquisa com mais de 100 universitários, o estudo demonstrou que o bem-estar subjetivo, a felicidade como denominam os psicólogos, se correlaciona com o locus de controle interno, ou seja, com o controle da própria vida.
Para aqueles que acreditam que a felicidade é dada por predestinação, ou em outras palavras, somente são felizes aqueles que nasceram com a b.... virada pra lua, a pesquisa descartou essa ideia, que subestima a capacidade de uma pessoa conquistar sua própria felicidade. Aqueles que acreditam controlar sua vida, também acreditam na felicidade como resultante de seus esforços, dedicando-se, assim, muito mais a conquista-la.
Achei outro artigo em uma revista científica da área da psicologia, que faz uma associação bem interessante. O artigo tem como título, “Geração de pílulas azuis: a intensa busca pela felicidade na contemporaneidade” (https://revista.unifaema.edu.br/index.php/Revista-FAEMA/article/view/562). Neste artigo, os autores fazem uma alusão à série de filmes Matrix, onde em dado momento, o personagem Neo tem que escolher entre tomar uma pílula vermelha ou uma azul, entregues pelo personagem Morpheus. A pílula azul garantiria que Neo acordasse em sua casa e lhe garantiria conforto, felicidade e uma vida comum. Já a pílula vermelha lhe mostraria a verdade sobre a vida, trazendo, com isso, um grande desconforto, por mostrar a verdade: nossa vida não é toda feita de momentos felizes.
A partir disso, pergunto a vocês: a nossa sociedade atual estaria vivendo às custas das pílulas azuis? Será que fazemos parte de uma geração que prefere camuflar as dificuldades? Será que estamos vivendo uma geração que leva uma vida tida como normal pela sociedade? Trabalhando, se relacionando, viajando, enfim, vivendo a vida com um sorriso no rosto?
Pois é, e caso seja difícil sorrir, sempre haverá uma pílula para ajudar, não é mesmo?
Por isso temos tantos de nós buscando nas pílulas, sejam elas azuis, verdes, amarelas, roxas, pretas...a felicidade que não encontramos naturalmente.
Fazemos parte de uma geração farmacologicamente dependentes para sermos felizes. Percebemos um aumento nos casos de depressão e pessoas deprimidas não são felizes. Para isso, muitos medicamentos são receitados, as vezes indiscriminadamente.
Em 1988 chegava ao mercado o Prozac, cujo princípio ativo é a fluoxetina, medicamento este que revolucionou o tratamento da depressão. Com o passar do tempo, muitos outros antidepressivos foram sendo usados para tratar transtornos como depressão, ansiedade, distúrbios do sono, entre outros. Surgiram a amitriptilina, clomipramina, sertralina, bupromiona, e vários outros medicamentos que se tornaram amigos inseparáveis de muitos de nós.
Esses medicamentos agem para normalizar o fluxo de neurotransmissores, as moléculas responsáveis por encaminhar o impulso nervoso de um neurônio para o outro.
Mas, os antidepressivos não são “pílulas da felicidade”.
Busque outras alternativas, não busque medicamentos para ser feliz. A vida nos dá motivos suficientes até mesmo para que fiquemos rindo à toa.
Essa é Rindo à toa, com o Falamansa, banda de forró formada em 1998, na cidade de São Paulo.
A música foi lançada no álbum Deixa entrar, no ano 2000. (https://youtu.be/JBxOtLyz1kA).
Então, não perca tempo procurando a felicidade, principalmente em medicamentos, mas busque reconhecer e valorizar os momentos felizes de sua vida. Busque encontrar sentido para ser feliz, nas pequenas coisas que acontecem no seu dia-a-dia e valorize esses momentos.
Se você começar a fazer isso, “você vai rir, sem perceber. Felicidade é só questão de ser. Quando chover, deixar molhar. Pra receber o sol quando voltar”.
Marcelo Jeneci é um cantor e compositor paulista e essa música, Felicidade, dele e de Chico Cesar, foi lançada em seu álbum de estreia, Feito pra Acabar, em 2010. Aqui temos Marcelo Jeneci cantando com Laura Lavieri. (https://youtu.be/4PSqwdUo_sc).
Trago agora Felicidade, um texto de alguém que de vez em quando, aparece por aqui, Sônia Zaghetto (https://soniazaghetto.com/2024/03/17/felicidade/comment-page-1/#respond)
Haverá desejo mais profundamente humano do que a busca pela felicidade? Esse ideal incerto, com seus resultados frágeis e impermanentes, semelhantes às delicadas flores de cerejeira que flutuam ao sabor do vento, nos chama das profundezas de nossos corações sonhadores, impulsionando-nos ao longo da existência. Cada ação que tomamos, cada passo que damos, é um avanço em direção a esse objetivo abstrato e profundamente pessoal que chamamos de felicidade. O sonho muda de acordo com o estágio da vida, único para cada indivíduo, parecendo sempre além do alcance. Uma busca antiga como o tempo, perpetuamente renovada.
Alguns a buscam em posses materiais, em relacionamentos, sucesso e riqueza. Outros a procuram em emoções passageiras, enquanto os mais sábios entre nós se esforçam para encontrá-la dentro de si mesmos.
Há milênios, a humanidade tem sido impulsionada por sonhos de felicidade, mas nossa existência moderna é assolada por uma avalanche de desejos, expectativas e ambições. A vida na Terra tornou-se cacofônica, inundada não apenas pelo clamor da realidade física, mas também pelo tumulto incessante do mundo virtual. Estamos submersos em um dilúvio de informações, cada notificação gerando ansiedade, cada momento consumido por distrações triviais. Passamos horas contemplando vidas alheias, assistindo a vídeos e lendo mensagens das quais não nos recordaremos. Boa parte desse caleidoscópio é convertida em desejos efêmeros: de ser, de ter, de poder. À parte, segue a vida real, outra incessante fonte de obrigações e expectativas. Os dias escorrem, ligeiros, e entre pressa e vertigem nos vemos exaustos, com as mentes agitadas pela falsa necessidade de tudo saber, de opinar, de acompanhar os detalhes de situações desimportantes.
Em meio a esse turbilhão, corremos o risco de perder o contato com os ritmos do mundo natural que uma vez nos definiram. Esquecida está nossa conexão inata com a terra e seus ciclos de renovação, uma perda profundamente sentida enquanto navegamos pelas complexidades da vida moderna.
Nos momentos de ruído urbano avassalador, busco conforto nos simples presentes oferecidos pela natureza – uma flor desabrochando, uma criaturinha em sua rotina diária, o céu pintado de rosa ao amanhecer. Nesse abraço gentil, a alma encontra alívio e o coração alcança alguma paz. É como retornar ao útero materno, uma alegria além dos prazeres passageiros, enraizada na tranquilidade do pensamento e no contentamento mais singelo.
Bem sei, entretanto, que a natureza por si só não pode aliviar as inquietudes que carrego. Assim, no caos da vida cotidiana, reservo tempo para ouvir o suave chamado da felicidade simples e possível. Silencio o ruído externo e visito o santuário da tranquilidade interior.
Há quase dois milênios, o imperador-filósofo Marco Aurelio escreveu uma de minhas frases favoritas: “A felicidade de sua vida depende da qualidade de seus pensamentos.” Suas palavras ressoam profundamente em mim, lembrando-me de não sucumbir ao desespero, nem permitir que circunstâncias externas ditem o curso da minha felicidade. Em vez disso, elas me instigam a cultivar autocontrole, coragem e resiliência a fim de superar os desafios da vida.
O contato com a filosofia aumentou minha consciência da natureza transitória da existência humana. A morte pode estar a um passo. Hoje, já me desfaço dos excessos e me preparo para minha partida – não com morbidez ou tristeza, mas com praticidade e serenidade. Quando minha caminhada chegar ao fim, espero recebê-la com a mesma doce calma com que alguém retorna para o colo amoroso de onde veio. Devolverei o corpo que me serviu bem, grata pelas lições aprendidas. Sem rancores, sem lamentar coisa alguma. Mesmo nas profundezas da dor, as experiências me tornaram mais humana e ciente de minhas muitas limitações.
Até que esse dia chegue, sigo buscando em mim mesma e na natureza o bálsamo que preciso. Talvez exista um anseio ancestral, um sentimento de conexão que transcende a existência individual, lembrando-nos de nosso lugar no vasto cosmos, parentes que somos das estrelas e dos pássaros. Nesse sentimento reside minha felicidade – não um objetivo distante, mas uma realidade presente, tecida na trama da minha jornada, nas experiências que vivo, no amor que ofereço e na cadência suave da minha respiração. É o suficiente.
Que maravilha de texto, não? Mais uma vez, Sonia nos encantando.
Então, é assim, cheio de felicidade que vamos chegando ao final deste episódio.
Este é o podcast Mundo Espiritual e a produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e o Hugo Biella é que faz a arte das capas dos episódios.
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Caso se interesse, tenho minhas palestras e outros vídeos em meu canal no YouTube. Procure por Carlos Biella, inscreva-se no canal e nos acompanhe. O link está na transcrição do episódio (https://www.youtube.com/channel/UCMpcMSh6nbb9LtujlgfabOA).
Para finalizar, trago o grande Rubem Alves, com a crônica O que é uma pessoa feliz? que está no livro A grande arte de ser feliz, lançado em 2014. Rubem Alves nos fala de duas condições para que haja felicidade: primeiro, é preciso que a gente tenha alegria no que está fazendo; segundo, é preciso que a gente ame e seja amado. E finaliza a crônica dizendo que “a felicidade não acontece no final, depois da transa, depois do casamento, depois do filho, depois da formatura, depois de construída a casa, depois da riqueza, depois da viagem. A felicidade acontece no dia a dia. Felicidade é fruto na beira do abismo. É preciso colhê-lo e degustá-lo agora. Amanhã, ou ele já caiu, ou você já caiu”.
Deixo vocês com a música Menina, Amanhã de Manhã, de Perna e Tom Zé, que foi lançada em 1976 por Tom Zé no álbum Estudando o samba. Aqui com a magnifica Mônica Salmaso que a gravou no álbum IaIá, em 2004 (https://youtu.be/CfY2T8ILdg4).
Fiquem todos em paz e até o nosso próximo episódio.





Como se diz: A felicidade é o caminho. Adorei o texto da Sônia Zaghetto