EPISÓDIO # 62 - ANTES DE PARTIR
- Carlos A. Biella

- 11 de out. de 2024
- 11 min de leitura

Antes de partir.
Receber a notícia de que nos restam apenas poucos meses de vida, é assustador e nos traz um grande dilema: o que fazer antes de partir? É sobre isso que falaremos hoje. Sejam todos muito bem-vindos e aproveitem.
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Saudação a todos. Este é o podcast Mundo Espiritual. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas e a arte das capas dos episódios é feita pelo Hugo Biella.
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Em 2007 foi lançado o filme The Bucket List, que em português ganhou o título Antes de Partir.
O filme é estrelado por dois grandes atores, Morgan Freeman e Jack Nicholson e a história nos faz refletir sobre o que queremos de nossas vidas.
E eu começo este episódio exatamente com a música Antes de partir, da banda de pop rock de Santos, Zimbra. A música faz uma reflexão sobre a vida, as memórias e as despedidas que todos vivemos. (https://youtu.be/QmWH-lTHI4s?list=RDQmWH-lTHI4s)
No filme, Carter Chambers, interpretado por Morgan Freeman, é um mecânico, diagnosticado com câncer e que foi submetido a um tratamento experimental, estando internado em um hospital, onde passa a ter como companheiro de quarto Edward Cole, interpretado por Jack Nicholson, um rico empresário e dono do hospital.
Aqui existe um grande contraste entre os dois homens de meia idade, um humilde e muito inteligente trabalhador, casado e pai de três filhos e outro, um rico administrador, que queria ficar sozinho no quarto, mas foi ele mesmo quem criou a política de dois leitos por quarto no hospital, visando lucrar mais.
Aquele estranhamento inicial acaba se transformando em uma grande amizade. Ambos têm poucos meses de vida, e, creio eu, somente um doente terminal consegue entender o tipo de drama que eles vivenciam. É aí que surge a lista que dá nome ao filme.
Cole encontra no chão do quarto, uma lista, redigida por Carter, de coisas que ele queria fazer em sua vida. Segundo Carter, esta lista seria uma atividade que seu antigo professor de filosofia havia passado, sobre planejar o futuro, atividade esta que se chamava The Bucket List. Uma lista de coisas que queremos fazer antes de morrer.
Aqui cabe uma explicação sobre esta bucket list. Trata-se de uma lista de aspirações e realizações que pretendemos viver ou alcançar, ao longo da vida, buscando maximizar as experiências vividas.
Só que essa expressão não surgiu com o filme. É possível que ela faça referência às execuções por enforcamento durante a Idade Média. O condenado era colocado sobre um balde virado de boca para baixo e ao receber a ordem de execução, o carrasco, literalmente, chutava o balde onde o condenado apoiava os pés e sua própria vida. Em inglês, o termo “chutar o balde” é “kick the bucket”. Deste modo, uma bucket list seria uma lista de metas a serem cumpridas antes de termos o nosso “balde chutado”, ou seja, antes de partirmos ou morrermos.
Ao pegar a lista que Carter havia feito no hospital, Cole começa a modifica-la e pergunta a Carter: você não quer morrer com alguma ousadia, sair detonando, se divertir um pouco?
E assim eles partem, juntos, em busca de ousadia e diversão.
Então, se temos pouco tempo de vida, por que não aproveitar este tempo com coisas que queremos fazer? Assim fizeram os dois personagens da história. Eles seguiram as indicações da lista de coisas a serem feitas antes de sua morte e partiram para buscar realizar cada um dos itens. E assim foi...saltar de paraquedas, pilotar um Mustang Shelby em alta velocidade, admirar as pirâmides do Egito, andar de moto na Muralha da China, fazer um safári, visitar o Himalaia e o Taj Mahal...e assim, os itens da lista foram sendo executados.
Ambos descobriram a alegria em viver, antes que fosse tarde demais.
O filme é dirigido por Rob Reiner e os dois atores, Freeman e Nicholson, nos entregam uma atuação brilhante, neste filme que é uma verdadeira saudação à vida, nos mostrando que o melhor momento para se viver é o agora.
Bem, é preciso viver intensamente e é isso que os dois descobrem quando partem para cumprir a lista de desejos e sonhos. Ah, antes que alguém questione, quem bancou tudo, as viagens e loucuras, foi o empresário e milionário Edward Cole.
Carter e Edward acabam criando um belo laço de amizade, e mesmo o pouco tempo juntos foi o suficiente para ambos perceberem que a amizade não depende de longevidade, mas, sim, de verdade e comprometimento mútuo.
A cada tarefa realizada, ambos se transformam. Mesmo o relacionamento conjugal de Carter com sua esposa, que dava sinais de deterioramento, se modificou após completarem grande parte da lista. Como disse a esposa de Carter a certa altura do filme, “ele partiu como um estranho e voltou como um marido”.
Existem muitas lições inseridas na história, com passagens que nos levam a pensar sobre nossos valores, sobre como vivemos em família e acima de tudo, o que fazemos com o tempo que nos resta.
Uma das lições que o filme nos deixa é sobre os bens materiais. Edward Cole é um homem rico, realizado e admirado por muitos, mas, de que vale tudo isso, de que valem todas as riquezas quando vivemos em solidão? Compartilhar bons momentos com um amigo é algo maravilhoso.
Um dos itens da lista de Carter era “chorar de tanto rir” e ele faz isso num momento hilário, apesar de estar deitado numa cama de hospital.
Carter pergunta ao excêntrico Cole, que foi visita-lo, se ele ainda toma o café sofisticado que ele sempre fala e lhe entrega um folheto sobre o Kopi Luwak, um dos cafés mais caros do mundo, produzido na Indonésia e que Cole aprecia. Ouçam a conversa entre os dois.
E por falar em rir, ao fundo temos a música Meu abrigo, do Melim, um trio formado pelos irmãos Diogo, Rodrigo e Gabriela Melim, de Niterói. Como diz a música, rir à toa é bom demais...
(https://youtu.be/gUpGTRR4Tt4?list=PLX1dpJgI0wrgg9SVNdkFF0JioQDltaVid)
O filme nos mostra muito mais que a incerteza da morte ou os prazeres da vida, ele fala essencialmente da amizade, nos fazendo rir e chorar.
Não chega a ser nenhuma obra-prima, mas traz uma história humana, sobre a essência da vida, que pode estar em algumas linhas manuscritas numa folha de papel. Fala sobre o que encontramos nas entrelinhas da lista de nossos sonhos e desejos e do que conseguimos ao simplesmente, nos deixamos levar em busca de sua concretização.
A história nos mostra a necessidade de termos sentido em nossa vida, já que ela, a vida, é muito curta para que não a valorizemos. Deste modo, o filme nos mostra a necessidade de buscarmos razão em estar vivo.
Como disse Viktor Frankl: dizer sim à vida, apesar de tudo.
Viktor Frankl, foi um psiquiatra austríaco, que passou mais de três anos em campos de concentração durante a Segunda Guerra e relatou todo seu sofrimento e descobertas sobre ter sentido na vida, no livro Em busca de sentido, lançado em 1946.
Assim como o filme, Frankl nos ensinou a necessidade de nos transformarmos quando não podemos mudar as circunstâncias ao nosso redor. Ou seja, encontrando sentido na vida!
E todos nós estamos em busca de sentido para a vida e em busca da felicidade, por que não? No entanto, muitos de nós, se não a maioria, somente percebemos que a felicidade estava em coisas que deixamos para trás quando nos aproximamos da morte.
Bronnie Ware, uma enfermeira australiana que trabalhou com cuidados paliativos, ficou tão impactada ao acompanhar pacientes nas últimas semanas de vida que decidiu compartilhar as reflexões feitas por eles.
Nascia, assim, o livro The Top Five Regrets of the Dying, (Os cinco principais arrependimentos dos que estão morrendo), que em português ganhou o título Antes de partir, mas que não tem nada a ver com o filme que citei anteriormente. O livro traz insights profundos sobre como podemos transformar nossas vidas ouvindo pessoas que refletem sobre seus últimos dias de vida. Ware revela os arrependimentos mais comuns expressos por seus pacientes, entre os quais estão viver uma vida não autêntica, negligenciar amizades, não expressar sentimentos e não passar tempo suficiente com a família.
A principal mensagem do livro é a importância de viver uma vida verdadeira, consigo mesmo e com os outros, valorizando as relações pessoais. Em resumo, não deixar para depois o que é importante para nós.
Bronnie Ware percebeu que a maioria das pessoas chegam no final da vida com arrependimentos semelhantes e aqui estão os cinco arrependimentos mais relatados pelos pacientes terminais assistidos por ela.
1º arrependimento: Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim.
Esse foi o arrependimento mais frequente relatado, o remorso de não haver vivido uma vida verdadeira para si mesmo. Era também aquele que causava a maior frustração. Vivenciar isso depende de se ter coragem de ser você mesmo e viver do jeito que deseja, independentemente do que os outros digam e esperam de você.
Segundo Bronnie Ware, “quando as pessoas percebem que sua vida está quase no fim e olham para trás com clareza, é fácil ver quantos sonhos não foram realizados. A maioria das pessoas não honrou nem metade dos seus sonhos e teve que morrer sabendo que isso se devia a escolhas que fizeram”.
Portanto, lembre-se sempre que sua vida é somente sua.
2º arrependimento: Gostaria de não ter trabalhado tanto
Este arrependimento ligado ao excesso de trabalho durante a vida também foi um relato frequente.
Não há nada de errado em amar o trabalho que você faz, mas devemos procurar equilíbrio para que o trabalho não seja o foco total de nossa vida.
Todos nós temos um propósito, e trabalhar rumo a esse propósito contribui para o bem de todos. O valor verdadeiro não está no que você possui, mas no que você é. Pessoas que vão morrer sabem disso. Seus pertences não têm utilidade de espécie alguma no fim.
3º arrependimento: Gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos
De acordo com a autora, muitas pessoas reprimiram seus sentimentos para manter a paz com os outros, se contentando com uma existência medíocre. Muitos desenvolveram doenças relacionadas à amargura e ao ressentimento que carregavam como resultado dessa escolha.
Por qual motivo temos tanto medo de expressar nossos sentimentos? Talvez seja para evitar a dor como consequência de nossa honestidade. No entanto, isso também provoca dor, nos impedindo de mostrar quem realmente somos.
É necessário coragem para expressar nossos sentimentos e quanto mais praticamos e partilhamos esses sentimentos, melhores se tornam as coisas.
4º arrependimento: Gostaria de ter mantido contato com meus amigos
Apenas no final da vida é que muitos pacientes percebiam a falta que os amigos faziam.
Nós imaginamos que nossos amigos sempre estarão por perto. Contudo, a vida muda e de repente você está sem ninguém que lhe entenda ou saiba qualquer coisa sobre você.
Todos temos muitos conhecidos, no entanto, quando precisamos de alguém para ficar do nosso lado nos momentos mais difíceis, contamos com muito poucos e aqueles que fazem isso são os verdadeiros amigos.
Como disse um dos pacientes de Bronnie: “Não perca contato com os amigos que você mais valoriza. Aqueles que aceitam você como você é, e que te conhecem muito bem… Eles valem mais do que tudo no fim”.
A beleza da amizade é que os amigos nos aceitam como somos e não como os outros querem que sejamos.
5º arrependimento: Gostaria de ter me permitido ser mais feliz
Esse é um arrependimento comum. Muitos percebem apenas no final da vida que permaneceram presos a velhos hábitos e padrões e que não se permitiram fazer o que de fato os deixava feliz.
A felicidade é uma escolha que temos que fazer o tempo todo, porém, em alguns momentos, não conseguiremos. Todos passamos por dificuldades na vida, mas, isso não impede que busquemos viver a vida com mais felicidade.
A felicidade é um processo e precisamos apreciar cada passo dado ao longo do caminho. Afinal, a maioria de nós nos importamos demais com os resultados e esquecemos de ser feliz ao longo do caminho!
Ao fundo ouvimos o que esses arrependimentos todos nos mostram, que é preciso saber viver. A música é de Roberto e Erasmo Carlos, mas ficou mais conhecida através dos Titãs. Aqui temos a versão acústica, gravada no álbum Trio Acústico, em 2020, com Branco Mello, Tony Belloto e Sergio Brito. (https://youtu.be/q2lk7l1H74k)
Tanto o livro quanto o filme, citados, nos trazem uma reflexão sobre a vida que estamos vivendo. Todos temos a certeza de que vamos morrer, mas corremos o risco de morrermos sabendo que passamos a vida toda procurando a felicidade e não a encontrando.
A vida passa muito rápido. Fecho meus olhos hoje e não parece que já vivi todo o tempo que tenho de vida. Por isso é preciso viver da melhor forma possível, buscando ser feliz a maior parte do tempo, para não chegarmos ao fim cheios de remorsos e arrependimentos.
E isso, depende somente de nossas escolhas.
A felicidade está ao nosso alcance.
Como disse Rajneesh Chandra Mohan Jain, mais conhecido como Osho, guru indiano que viveu no século XX: a felicidade não é um destino, é uma viagem.
A felicidade não é amanhã, é agora. A felicidade não é uma dependência, é uma decisão. A felicidade é o que você é, não o que você tem.
Essa nossa reflexão de hoje buscou abordar a conexão entre a finitude e a existência. No filme, mesmo com o grande obstáculo do tempo escasso e o inevitável fim, Carter e Cole buscam desfrutar esse pouco tempo que lhes resta dedicando-se aos desejos e sonhos reprimidos e escondidos no fundo de seus corações e mentes.
Essa tensão entre as possibilidades de crescimento e a finitude da vida, definem nossa existência humana. Em outras palavras: a morte não tem como ficar distante da vida.
Para a psiquiatra suíça, Elizabeth Kübler-Ross, a morte é um tema muitas vezes tratado com uma "conspiração do silêncio", refletindo o medo do sofrimento, da degeneração, da solidão e do abandono. Por isso é um tema frequentemente evitado em nossas conversas cotidianas.
Pois bem, todos nós deveríamos, antes de partirmos, perceber que, mesmo ante a inevitabilidade da morte, podemos encontrar um significado mais profundo na vida, refletindo sobre o passado, nos reconciliando com nossos entes queridos e buscando a realização de nossos desejos pessoais.
Busquemos, então, viver a vida da melhor maneira possível, buscando sempre a felicidade e buscando realizar nossa lista de sonhos e desejos, para que, ao partirmos, as pessoas possam dizer, como dito no final do filme: “Sei que ele morreu de olhos fechados e coração aberto”.
Carpe diem, aproveite o dia, como disse o poeta e filósofo romano Horácio, que viveu décadas ante de Cristo. No livro I de Odes, no poema número 11, Horácio escreve: Dum loquimur, fugerit invida aetas: carpe diem, quam minimum credula postero. Enquanto falamos, terá fugido o invejoso tempo. Colhe a flor do dia, pouco depositando do que depois vier a suceder.
Numa das últimas vezes que visitei o Rio de Janeiro, cidade que adoro, por sinal, estava sentado na Rodoviária do Rio, esperando um ônibus para ir até Petrópolis, quando observei uma frase pichada na viga de um viaduto: “ocasião especial é cada dia que se vive”.
Então, é preciso viver e da melhor maneira possível, cada dia como se fosse o último. Devemos buscar viver o hoje, só hoje!
Essa é Só hoje, com o Jota Quest, música de Rogério Flausino e Fernanda Mello, lançada em 2020 no álbum Discotecagem Pop Variada. (https://youtu.be/5XsM-MC_0U8).
E é assim, vivendo o hoje da melhor maneira e correndo atrás de meus sonhos que vou ficando por aqui.
Este é o podcast Mundo Espiritual e a produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e o Hugo Biella é que faz a arte das capas dos episódios.
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E hoje falei a respeito do filme Antes de Partir e também dos maiores arrependimentos que pacientes terminais relataram num livro escrito pela enfermeira Bronnie Ware.
Tudo isso serve para nos mostrar como a felicidade pode ser encontrada nas coisas simples da vida e que devemos correr atrás de nossos sonhos e desejos, buscando realiza-los, antes de partirmos...
Para terminar, uma frase atribuída ao psicólogo suíço Carl Gustav Jung: sua visão se tornará clara somente quando você olhar para dentro do seu coração. Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda.
Deixo vocês com a música Viva a Vida, do cantor e compostor goiano Felipe Duran. A música faz parte do álbum Guerra ao Desamor e, como diz a letra: Antes de morrer, viva a vida. (https://youtu.be/L4T4j8J5sUY)
Fiquem todos em paz, procurando realizar seus sonhos e desejos e até o nosso próximo episódio.





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