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EPISÓDIO # 63 - AINDA SOBRE O TEMPO...

  • Foto do escritor: Carlos A. Biella
    Carlos A. Biella
  • 14 de nov. de 2024
  • 14 min de leitura

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Ainda sobre o tempo...


O tempo é uma das dimensões mais difíceis de se entender e mais ainda de se explicar, por isso, este é mais um episódio sobre o tema. Sejam todos muito bem-vindos e aproveitem.


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Saudação a todos. Este é o podcast Mundo Espiritual. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas e a arte das capas dos episódios é feita pelo Hugo Biella.

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Eu já fiz dois episódios sobre o tempo, o 54 (Será que o tempo cura tudo?) e o 55 (O tempo não se mede, se vive). Quem não ouviu, procure nas plataformas de podcast ou no nosso site.

Mas, existe muita coisa para se falar sobre o tempo.

Filosoficamente, o tempo é um conceito complexo e tem sido objeto de debate e reflexão ao longo da história. Alguns filósofos veem o tempo como uma sequência de eventos em um contínuo linear, enquanto outros argumentam que o tempo é uma ilusão e que apenas o presente existe verdadeiramente. Há também discussões sobre a relação entre tempo e eternidade, e se o tempo é absoluto ou relativo

E eu começo o episódio com a música Sobre o Tempo com a banda mineira Pato Fu. Sobre o tempo é de John Ulhoa e foi lançada no álbum Gol de Quem? em 1995.

(https://youtu.be/Fh0vvDWtX2s).

Platão, filósofo da Grécia Antiga, disse que o tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel.

Segundo um artigo publicado na Enciclopédia de Filosofia de Stanford, em 2002, Platão concebe o tempo como um receptáculo vazio onde as coisas e os eventos são colocados, sendo, assim, uma proposta de um tempo absoluto, independente dos eventos que ocorrem no mundo.

Já a revista Byzantion Nea Hellas, da Universidade do Chile, em um artigo de 2015, traz a definição de outro filosofo grego. Aristóteles define o tempo como a quantidade de movimento de acordo com antes e depois. Para Aristóteles o presente não pode ser considerado como se existisse no tempo, uma vez que está em movimento contínuo.

Pois então, tudo o que fazemos no presente é imediatamente transformado em passado. Deste modo, o passado é na medida em que já aconteceu e o futuro ainda será, mesmo que não seja agora. Essa é a perspectiva do tempo conhecida como relativismo.

Você pode até dizer que, ora, é óbvio que o tempo existe! No entanto, as coisas não são tão simples assim. O físico e filósofo francês, Etienne Klein, no livro Existe o tempo? lançado em 2002, argumenta a favor da existência das três fases do tempo: passado, presente e futuro.

Segundo ele, o passado existe porque existem vestígios dele no presente, no agora. Nós somos o exemplo disso, uma vez que, nosso eu adulto, resulta de nosso eu passado, trazendo consigo vestígios de nós mesmos.

O presente, segundo ele, seria considerado o tempo mais real, onde ocorre nossa vida atual. Porém, do ponto de vista filosófico, pode apresentar diferenças e incomensurabilidades em relação ao passado e ao futuro.

Já o futuro pode ser entendido como não real porque ainda não propriamente é.

Ah, só para lembrar, Klein é o cientista que postou, em 2022, uma imagem que dizia ser da estrela mais próxima do Sol capturada pelas lentes do poderoso telescópio James Webb. Na verdade, era uma piada e a foto era de uma fatia de salame, com um fundo preto. Klein disse que foi uma forma de questionar a credibilidade que vozes de especialistas têm nas redes sociais e ao que considera uma frágil verificação de conteúdo.

Pois é, né, não dá pra acreditar em tudo o que encontramos na internet...

O ser humano não consegue viver sem a marcação do tempo e o correto registro do tempo é de tamanha importância para nossa sociedade globalizada moderna que sistemas altamente precisos foram sendo desenvolvidos visando fornecer um padrão global para a medida de tempo. Dois destes sistemas serão aqui descritos.

Temos o Tempo Atômico Internacional (TAI), um padrão de tempo para fins científicos. É uma contagem contínua de segundos determinada através de vários relógios atômicos espalhados pelo planeta.

Já o Tempo Universal Coordenado (UTC) é a base de tempo que usamos normalmente. Desde 1972, ele foi definido de forma síncrona ao Tempo Atômico Internacional, diferindo deste sempre por um número exato de segundos, cujo valor é regularmente ajustado, normalmente, uma vez ao ano, em 30 de junho ou 31 de dezembro, devido ao acréscimo dos chamados segundos bissextos. Tanto o Tempo Atômico Internacional quanto o Tempo Universal Coordenado, utilizam a definição de segundo baseada na radiação do césio 133.

Você já ouviu falar do relógio circadiano? Circadiano vem do latim circa, que se traduz como “aproximadamente” ou “cerca de”, e diem, “dia”, ou seja, cerca de um dia. Seria o relógio biologicamente estabelecido pelos processos que ocorrem em nosso corpo em períodos de aproximadamente 24 horas, sincronizados por estímulos ambientais diurnos ou iluminados e noturnos ou de escuridão, que se sucedem diariamente. Referem-se à nossa vontade de dormir ou acordar e ao funcionamento completo de órgãos e sistemas, como o digestivo e o urinário, que muitas vezes tem seu funcionamento suprimido durante a noite.

O chamado ritmo ou ciclo circadiano é a variação nas funções biológicas de diversos seres vivos, que se repete regularmente a cada 24 horas, aproximadamente. Esse ciclo é encontrado nos padrões de atividade dos animais, nos movimentos foliares de algumas plantas, na organização das colônias de insetos sociais, na taxa de crescimento de fungos, entre outros processos recorrentes a aproximadamente cada 24 horas. Esses ciclos circadianos são modificados e ajustados diariamente pelo ambiente, influenciados basicamente pela variação diária nas condições de iluminação e temperatura, além de ventos e das marés.

Olha só que coisa mais gostosa! Essa é Tempo feliz, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, que compuseram a música em 1965, especialmente para o cantor e compositor Ciro Monteiro. Como diz a música: Feliz o tempo que passou, passou/ Tempo tão cheio de recordações/ Tantas canções ele deixou, deixou/ Trazendo paz a tantos corações... https://youtu.be/fG8a-uOWwxk 

O filósofo alemão Martin Heidegger, no livro Ser e Tempo, publicado em 1927, dizia ser o tempo uma sucessão contínua de “agoras”, uma sequência constante do presente. É o ser humano quem sente que o tempo passa e não para, sendo que, para Heidegger, o indivíduo é quem experimenta a passagem do tempo. Interessante é que, deste modo, considerando a condição mortal do indivíduo, a passagem do tempo tem seus efeitos sobre o homem e o resultado é a morte.

Mas, nós vemos os ponteiros do relógio avançarem, não é? Isso não seria uma forma de perceber o tempo?

Pois é, nós percebemos a passagem do tempo, mas não vemos, tocamos ou cheiramos o tempo. O tempo, apenas passa!

A Enciclopédia de Filosofia de Stanford, em um artigo de 2015, destaca que nós percebemos a duração do tempo e a maneira que isso ocorre, associa-se à memória, desde que passado e futuro estejam em nossa mente. Ou seja, somente temos memórias do passado e ideias possíveis para o futuro.

Para outro filosofo alemão, Immanuel Kant, nossa percepção do tempo é uma condição subjetiva do indivíduo, sendo a temporalidade, uma forma pura da sensibilidade. Pura, porque ela não teria qualquer experiência anterior com o mundo externo, pertencendo ao sujeito e não as coisas, sendo, assim, o tempo é uma estrutura da razão humana.

Assim, existe um tempo para tudo em nossas vidas.

No episódio 55, citei uma frase do livro Eclesiastes, do Velho Testamento, livro este atribuído ao rei Salomão: Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu.

Eu acho um dos mais belos textos do Antigo Testamento. Trago, agora a sequência dessa frase, que se encontra no capítulo 3 do livro, intitulado Tempo e adoração:

Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz.

São sábias palavras, atribuídas a Salomão pela tradição rabínica, mesmo que o autor do livro Eclesiastes tenha se identificado como Coélet, que seria algo como “aquele que fala” ou “o pregador”. Neste belo texto, vemos que dispomos somente do tempo presente para agir, havendo um tempo determinado para as coisas acontecerem.

Essa é O tempo, com o Preto no Branco e Lorena Chaves, música de Clóvis Pinho. Preto no Branco é uma banda brasileira de black music, soul music e música cristã contemporânea formada em 2015 na cidade de Belo Horizonte. https://youtu.be/zxcVKpl8gWo

Pois é, para tudo há uma ocasião e para tudo há um tempo.

Mas, agora eu vou apelar. Vou buscar a abordagem de tempo no filme Interestelar, filme de 2014, dirigido por Christopher Nolan, com roteiro dele e de seu irmão Jonathan Nolan.

O filme mostra que o tempo passa de modo diferente no espaço e na Terra. Enquanto que, na Terra, temos o tempo seguindo as leis da física, no espaço, o tempo corre mais devagar.

Na Terra, vivemos num sistema newtoniano, onde valem as leis propostas por Newton.

Existem outros sistemas, como o relativístico, que passa a vigorar quando um corpo celeste ou uma nave espacial, por exemplo, atinge uma determinada porcentagem da velocidade da luz.

No filme Interestelar, existem planetas orbitando um buraco negro, orbitando, portanto, numa grande porcentagem da velocidade da luz, estando, então, sob um sistema relativístico, onde o tempo se comporta de modo diferente, passando de forma mais devagar.

O filme traz a teoria da relatividade, criada por Albert Einstein, mostrando que o tempo não se comporta de maneira uniforme em todos os pontos do universo. A passagem do tempo é relativa, sendo dependente das condições físicas onde estamos e, também, de como se encontra a relação espaço-tempo ao nosso redor.

O espaço-tempo é a maneira como o universo se comporta em relação às distâncias e à passagem do tempo. Condições específicas como a atuação de campos gravitacionais ou velocidades próximas à da luz, influenciam de modo direto nossa percepção temporal.

Em Interestelar, quando a nave se aproxima de um planeta localizado próximo a um buraco negro, isso gera uma deformação profunda no espaço-tempo, com o tempo passando de modo mais lento, em relação a alguém que se encontre distante dessa região.

Ainda sobre o filme, os personagens decidem explorar o planeta de Miller, um dos três planetas que orbitam o buraco negro Gargantua. Enquanto um dos tripulantes permanece na nave, em órbita, outros se deslocam até a superfície do planeta. 

Neste planeta, a dilatação do tempo é muito grande, devido à proximidade do buraco negro.  Segundo a teoria da relatividade geral de Einstein, massa e energia causam uma deformidade, ou provocam uma dobradura no tecido espaço-tempo e isso ocorre pela gravidade. Assim, como o tempo é diretamente afetado pela gravidade, segundo Einstein, a passagem do tempo é relativamente diferente em regiões com campos gravitacionais diferentes. Num planeta mais próximo de um forte campo gravitacional, como o de um buraco negro massivo, o tempo passa mais devagar em comparação com o que ocorre em um planeta com uma atração gravitacional mais fraca, como a Terra.

No filme, para cada hora passada no planeta de Miller, corresponderiam a sete anos na Terra. Como os personagens ficaram pouco mais de três horas no planeta, na Terra, passaram-se pouco mais de vinte e três anos.

Mesmo em comparação ao tempo percebido pelo tripulante que ficou em órbita, o tempo passou diferente, com ele envelhecendo em relação aos que desceram até o planeta.

Uma das grandes sacadas do filme é a trilha sonora utilizada nesta sequência. Prestem atenção a este pequeno trecho do filme e percebam a trilha sonora...

A trilha sonora composta pelo grande Hans Zimmer, apresenta a música Mountains, que estamos ouvindo ao fundo (https://youtu.be/arNkB9vxS3Q?list=OLAK5uy_mDWtgeNF9LzujhjNi5DFcX-Lld0_ZMr_s) , durante a sequência no planeta Miller. Percebe-se um som constante ao fundo, como uma marcação de um relógio. Ao que parece, a cada clique ouvido, representaria a passagem de um dia na Terra.

Bem, podemos tirar duas conclusões do filme: quanto mais rápido você se move pelo espaço, mais lento você se move através do tempo e, quanto mais próximo de um campo gravitacional muito denso, mais lento corre o tempo.

E assim vamos seguindo nosso caminho, cada qual no seu devido tempo.

Esse entendimento do tempo e, principalmente, como sentimos o passar do tempo é algo muito complexo para nossa compreensão.

Para a Doutrina Espírita, o conceito de tempo no chamado plano espiritual, é bastante diferente do que estamos acostumados na vida material. Ele é percebido de maneira diferente, pois os espíritos não estão sujeitos às mesmas limitações físicas que nós. Assim, a sensação de tempo pode variar de acordo com o estado evolutivo e as atividades dos espíritos.

Deste modo, de acordo com o Espiritismo, durante a vida material, os espíritos possuem o livre arbítrio para fazer escolhas que influenciam seu próprio progresso espiritual. O uso do tempo na Terra é visto como uma oportunidade valiosa para o crescimento e a evolução.

Numa perspectiva filosófica, para o Espiritismo, o tempo é considerado uma estrutura de possibilidades e uma ordem mensurável do movimento, influenciada pelas leis divinas e pela vontade de Deus.

Veja a questão 130 de O livro dos espíritos. Nesta questão, Allan Kardec pergunta: Sendo errônea a opinião dos que admitem a existência de seres criados perfeitos e superiores a todas as outras criaturas, como se explica que essa crença esteja na tradição de quase todos os povos? 

Lembrando que para o Espiritismo, todos somos espíritos criados por Deus simples e ignorantes e vamos buscando nos aprimorar a cada nova experiência encarnatória. 

A resposta à pergunta foi: Fica sabendo que o mundo onde te achas não existe de toda a eternidade e que, muito tempo antes que ele existisse, já havia Espíritos que tinham atingido o grau supremo. Acreditaram os homens que eles eram assim desde todos os tempos.

Em uma nota, referenciada na questão 189, Kardec fala sobre a evocação de um Espírito que desencarnara havia alguns anos. Este Espírito informou que estava encarnado em mundo cujo nome nos é desconhecido. Ao ser interrogado sobre a idade que tinha nesse mundo, o Espírito disse que não se poderia avaliar, pois não contavam o tempo como nós contamos.

Ainda em O Livro dos Espíritos, na questão 240, Kardec fala que os Espíritos vivem fora do tempo como o compreendemos. A duração, para eles, deixa, por assim dizer, de existir. Os séculos, para nós tão longos, não passam, aos olhos deles, de instantes que se movem na eternidade, do mesmo modo que os relevos do solo se apagam e desaparecem para quem se eleva no espaço.

Assim, o entendimento do tempo, dependeria do grau de adiantamento evolutivo que nos encontramos.

Agora estamos ouvindo Marisa Monte com a música Quanto Tempo, dela, Pretinho da Serrinha e Pedro Baby, música lançada no álbum Portas, em 2021.

https://youtu.be/vrzUB8ZtvEg

Eu trago agora, Rubem Alves, que sempre passeia por aqui.

No livro Do Universo à jabuticaba, de 2010, trago o belo texto O tempo.

Há duas formas de marcar o tempo. Uma delas foi inventada por homens que amam a precisão dos números, matemáticos, astrônomos, cientistas, técnicos. Para marcar o tempo de forma precisa, eles fabricaram ampulhetas, relógios, cronômetros, calendários. Nesses artefatos técnicos, todos os pedaços do tempo – segundos, minutos, dias, anos – são feitos de uma mesma substância: números, entidades matemáticas. Não há inícios nem fins, apenas a indiferente sucessão de momentos, que nada dizem sobre alegrias e sofrimentos. Apenas um bolso vazio. Nele, a alma não encontra morada. Nas Olimpíadas, a performance dos corredores e nadadores é medida até os centésimos. Fico a me perguntar: “Como é que conseguem? Que diferença faz?”. A outra foi inventada por homens que sabem que a vida não pode ser medida com calendários e relógios. A vida só pode ser marcada com a vida. Os amantes do Cântico dos Cânticos marcavam o tempo do amor pelos frutos maduros que pendiam das árvores. Quando as folhas dos plátanos ficam amarelas sabemos que o outono chegou. Os ipês-rosas e amarelos anunciam o inverno. Qual a magia que informa os ipês, todos eles, em lugares muito diferentes, que é hora de perder as folhas e florescer? E sem misturar as cores. Primeiro os rosas, depois os amarelos e, finalmente, os brancos. Sugeri que algum compositor compusesse uma sinfonia ou uma brincadeira musical em três movimentos. Primeiro movimento, “Ipê-rosa”, andante tranquilo, em que os violoncelos cantam a paz e a segurança. Segundo movimento, “Ipê-amarelo”, rondo vivace, em que os metais, cores parecidas com a dos ipês, fazem soar a exuberância da vida. Terceiro movimento, “Ipê-branco”, moderato, em que o veludo dos oboés cantam a mansidão. Seria bom se nós, como os ipês, nos abríssemos para o amor no inverno. A precisão dos números marca o tempo das máquinas e do dinheiro. O tempo do amor se marca com o corpo. Um calendário é coisa precisa: anos, meses, dias, horas, que são marcados com números. Esses números medem o tempo. Mas os pedaços de tempo são bolsos vazios: nada há dentro deles. O bolso vazio do tempo se torna parte do nosso corpo quando o enchemos com vida. Aí o tempo não mais pode ser representado por números. O tempo aparece como um fruto que vai sendo comido: é belo, é colorido, é perfumado. E, à medida que vai sendo comido, vai acabando. Vem a tristeza. O tempo da vida se marca por alegrias e tristezas. Há inícios e há fins. Tempus fugit; o tempo foge. Portanto, carpe diem: colha o dia como um fruto que amanhã estará podre. Viver ao ritmo de alegrias e tristezas é ser sábio. “Sapio”, no latim, quer dizer, “eu saboreio”. O sábio é um degustador da vida. A vida não é para ser medida. Ela é para ser saboreada. Um texto bíblico diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos um coração sábio”. Acho que Jesus sorriria se eu acrescentasse ao “Pai-Nosso” outra súplica: “A fruta nossa de cada dia dá-nos hoje...”. Caqui, pitanga, morango à beira do abismo, melancia... Heráclito foi um filósofo grego fascinado pelo tempo. Contemplava o rio e via que tudo é rio. Percebeu que não é possível entrar duas vezes no mesmo rio; na segunda vez, as águas serão outras, o primeiro rio já não existirá. Tudo é água que flui: as montanhas, as casas, as pedras, as árvores, os animais, os filhos, o corpo... Assim é tudo, assim é a vida: tempo que flui sem parar. Daquilo que ele supostamente escreveu, restam apenas fragmentos enigmáticos. Dentre eles, um me encanta: “Tempo é criança brincando, jogando; da criança o reinado”. Para nós, o tempo é um velho, cada vez mais velho, sobre quem se acumulam os anos que passam e de quem a vida foge. Heráclito, ao contrário, diz que o tempo é criança, início permanente, movimento circular, o fim que volta sempre ao início, fonte de juventude eterna, possibilidade de novo começos. Tempo é criança? O que o filósofo queria dizer exatamente eu não sei. Mas sei que as crianças odeiam Chronos, o deus dos cronômetros, dos segundos, dos centésimos de segundos O relógio é o tempo do dever: corpo engaiolado.

Grande Rubem Alves. Seus textos são assim, simples e maravilhosos.

Pois então, o tempo, mesmo sendo essa dimensão tão complexa e difícil de ser explicada, pode, muito bem, ser sentido. Como na batida de um relógio, como na badalada de um sino, que pode, nos levar no turbilhão de sentimentos e emoções que existe em nós, para dentro de nós mesmos, fazendo com que sintamos mais longe o passado e a saudade mais perto...

Aqui ouvimos o poema Ó sino de minha aldeia, de Fernando Pessoa, com Maria Bethânia, gravado no álbum Imitação da Vida, de 1997 (https://youtu.be/b2zfvAywKL8).

Neste poema, o escritor português Fernando Pessoa nos leva, assim como o tempo, a passear pelo passado e é assim, passeando pelo tempo que nós vamos ficando por aqui...

Este é o podcast Mundo Espiritual e a produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e o Hugo Biella é que faz a arte das capas dos episódios.

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Caso se interesse, tenho minhas palestras e outros vídeos em meu canal no YouTube. Procure por Carlos Biella, inscreva-se no canal e nos acompanhe. O link está na transcrição do episódio (https://www.youtube.com/channel/UCMpcMSh6nbb9LtujlgfabOA).

Finalizo com mais Rubem Alves.

No livro Pimentas: para provocar um incêndio, não é preciso fogo, tem um poema intitulado Resta... e no último parágrafo, Rubem Alves diz: Resta quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só se ouve o tique-taque... Só posso dizer: “Carpe Diem”— colha o dia como um morango vermelho que cresce à beira do abismo. É o que tento fazer.

Deixo vocês com a música Se não fosse por ontem, do Francisco, el Hombre, banda brasileira formada em 2013, na cidade de Campinas, em São Paulo, por dois irmãos mexicanos que se naturalizaram brasileiros. Aproveite mais e melhor o seu tempo, pois, como diz a música, Toda noite o presente se transforma em passado. Aproveite para amar e ser amado. Não deixe pra amanhã porque nunca se sabe.

Fiquem todos em paz e até nosso próximo episódio.


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