MÚSICA DA ALMA # 13 - HOJE
- Carlos A. Biella
- 21 de fev.
- 6 min de leitura

Hoje.
Você conhece alguma música de Taiguara? Tem muita gente que nunca ouviu falar dele. Mas, ele foi um dos grandes compositores brasileiros e trago aqui uma das suas mais belas músicas, Hoje. Quer saber mais? Então, vem comigo.
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Sejam todos muito bem-vindos, este é o podcast Música da alma. Um podcast dentro do universo Mundo Espiritual.
Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e apresentação são minhas e a parte gráfica fica por conta do Hugo Biella.
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Nascido em Montevidéu, no Uruguai, em 1945, filho do músico e maestro Ubirajara Silva e da cantora Olga Chalar, o cantor e compositor Taiguara Chalar da Silva, ou simplesmente Taiguara, foi um dos melhores compositores da MPB. Também é considerado um dos grandes símbolos da resistência à ditadura militar, com dezenas de músicas vetadas pela censura. Talvez ele tenha sido o mais censurado compositor brasileiro daquele período militar.
Taiguara, que tinha uma declarada postura de esquerda, fez muito sucesso no final dos anos 1960 e começo dos anos 1970. Durante o período militar, acabou por deixar o país, vivendo na Inglaterra, Espanha, França e Tanzânia, voltando ao Brasil no final dos anos 80.
Suas músicas embalaram muitos romances daquela geração ditadura.
Infelizmente, muitos jovens e mesmo adultos de hoje, não conhecem o maravilhoso trabalho musical deste brilhante compositor que é menos lembrado e conhecido do que realmente deveria.
Taiguara começou a tocar e cantar aos 17 anos, em São Paulo, no João Sebastião Bar, um dos pontos de encontro de artistas na década de 60, próximo ao Mackenzie, onde estudava Direito. Nesta época ele já mostrava sua preocupação com as injustiças sociais.
Em 1965, no Rio de Janeiro, lança seu primeiro álbum, Taiguara!, trazendo uma forte influência da Bossa Nova.
Através de sua música, Taiguara, muitas vezes, levantou sua voz, falando alto contra a opressão, principalmente no final dos anos 1960 e início de 1970.
Desta época, temos músicas como Teu sonho não acabou, de 1972.
(https://youtu.be/MNhpVjLZHLM)
De 1973, temos a canção Que as crianças cantem livres. (https://youtu.be/CMStxJvw53E)
Talvez uma de suas músicas mais conhecidas, concorreu no V FIC, em 1970 e, mesmo sendo uma das favoritas do público, acabou ficando em 8º lugar: Universo no teu corpo.
(https://youtu.be/9VBxSgb2xe4)
As músicas de Taiguara refletem sentimentos difusos, como podemos perceber nesta canção, que foi gravada em 1968, Hoje, que é o tema deste nosso episódio.
A letra da música Hoje foi inicialmente censurada, com alegação de que fazia alusão à tortura, numa parte que diz “trago em meu corpo, as marcas do meu tempo” e também sob alegação que a música insinuava que a sociedade brasileira era infeliz durante o governo militar. Será?
Após a música ser liberada, ela foi gravada no disco Hoje, em 1969.
Segundo uma dissertação de Mestrado em História da UnB, de Maria Abília de Andrade Pacheco, de 2013, intitulada Taiguara: A volta do pássaro ameríndio (1980 - 1996), em 1966, ao lado de Claudette Soares e Jongo Trio, Taiguara apresenta o espetáculo Primeiro Tempo 5 X 0, no Rio de Janeiro, ficando em cartaz por três anos. Foi durante esse espetáculo que Taiguara teria composto a música Hoje.
Aqui temos um pouco de Claudette Soares e Orquestra Jovem Tom Jobim, numa apresentação no Memorial da América Latina, em 2013. https://youtu.be/yUm7DwJwo6Q
Taiguara compôs uma letra carregada de otimismo, onde o sujeito expressa uma vontade de transformação, com a crença de que as mudanças são possíveis.
Percebe-se a urgência e a importância do momento presente, com a repetição da palavra "hoje" ao longo da música, sugerindo que é agora, hoje, que se deve agir na construção de um futuro melhor.
A música, que combina elementos da MPB com outros gêneros musicais, apresenta uma sonoridade envolvente, complementando a mensagem de esperança.
A voz marcante de Taiguara, carregada de emoção, intensifica a conexão com quem ouve a música, o que faz a experiência musical ainda mais impactante.
Hoje é uma canção que reflete um sentimento de esperança, de resistência e de renovação, sendo lançada num Brasil que vivia em meio a um caos político e social.
Sem dúvida, é uma canção que fala de esperança no futuro e de viver intensamente o presente, o hoje!
Hoje/Trago em meu corpo as marcas do meu tempo/Meu desespero, a vida num momento/A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo...
A música é carregada de emoção e reflexão sobre a condição humana e fala das adversidades enfrentadas pelo indivíduo em seu tempo, com elementos que refletem uma época de incertezas e desilusões. Lembrando que foi feita durante os chamados “anos de chumbo” no Brasil.
Hoje/Trago no olhar imagens distorcidas/Cores, viagens, mãos desconhecidas/Trazem a lua, a rua às minhas mãos...
Vemos aqui elementos que remetem às experiências vividas e as alterações na percepção da realidade, provavelmente motivadas pelas dificuldades encontradas naquele momento específico da história brasileira.
As mãos desconhecidas, trazendo a lua e a rua, podem refletir uma busca por conexão e compreensão num mundo que começava a se mostrar cada vez mais estranho e inacessível.
Mas hoje/As minhas mãos enfraquecidas e vazias/Procuram nuas pelas luas, pelas ruas/Na solidão das noites frias por você...
Aqui a música fala da solidão e da busca do ser amado, talvez se referindo a alguém que possa ter sido preso, exilado ou tenha desaparecido, ou, simplesmente, um amor que não mais existe.
Notem que no verso anterior, ele diz que mãos desconhecidas, trazem a lua, a rua às minhas mãos..., no entanto, neste verso, em contraponto, as mãos agora, enfraquecidas e vazias, procuram nuas pelas luas, pelas ruas, na solidão das noites frias por você...
Hoje/Homens sem medo aportam no futuro/Eu tenho medo acordo e te procuro/Meu quarto escuro é inerte como a morte...
Hoje/Homens de aço esperam da ciência/Eu desespero e abraço a tua ausência/Que é o que me resta, vivo em minha sorte...
Aqui, a contraposição entre homens sem medo que aportam no futuro e o sujeito que acorda com medo e procura pela pessoa amada, destaca a vulnerabilidade do ser humano e o desespero em face ao avanço impessoal da ciência e da tecnologia.
Ah, sorte/Eu não queria a juventude assim perdida/Eu não queria andar morrendo pela vida/Eu não queria amar assim como eu te amei...
A música fala de a juventude estar se perdendo, o que estava acontecendo naqueles duros anos da ditadura militar e se coloca como um lamento por essa juventude e pelo amor que se foi, numa relação sobre a vida e o tempo que vai passando.
Hoje é uma música que expressa uma melancolia, expondo a essência da dor e da busca por significado num mundo, muitas vezes cruel e indiferente.
Taiguara concedeu uma breve entrevista à TV Poços durante uma temporada de shows em 1990, quando já se reaproximava de seu lado romântico, porém nunca deixando de lado o senso crítico presente em grande parte de suas composições. https://youtu.be/n3jjB-J3FrI
Em 1994, no programa Ensaio, da TV Cultura, Taiguara cantou sua música Hoje, num arranjo maravilhoso! https://youtu.be/wtcMkf-QHqY
Apesar de cantar músicas que celebram a vida, Taiguara não viveu muito tempo, pois sua história terminou em São Paulo, em 1996, aos 50 anos de idade, vítima de um câncer na bexiga que tirou a vida deste grande compositor brasileiro, que foi autor desta maravilha de canção, tema deste nosso episódio, Hoje.
Este é o podcast Música da Alma e eu sou Carlos Biella e a produção, edição e apresentação são minhas e a parte gráfica fica por conta do Hugo Biella.
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E Hoje é a música de abertura e encerramento do filme Aquarius, do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, lançado em 2016. Aquarius enaltece a resistência e os valores morais e éticos, assim como o fez Taiguara com suas canções.
Hoje é uma canção que nos convida à reflexão sobre nossas ações e a importância de vivermos, de maneira plena, o momento presente. O hoje!
Eu vou ficando por aqui.
Fiquem todos em paz e até nosso próximo episódio.
Fantástico