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EPISÓDIO # 67 - OUVINDO ESTRELAS

  • Foto do escritor: Carlos A. Biella
    Carlos A. Biella
  • 17 de jul.
  • 10 min de leitura

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Ouvindo estrelas.


No livro The Lost World of the Kalahari, Laurens van der Post descreve sua experiência de vida entre os bosquímanos do deserto de Kalahari, e como eles ficaram chocados por ele não conseguir ouvir as estrelas. Para eles, Laurens deveria estar muito doente e expressaram grande tristeza por isso. E você, consegue ouvir as estrelas? Sejam todos muito bem-vindos e aproveitem.

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Saudação a todos. Este é o podcast Mundo Espiritual. Eu sou Carlos Biella e a produção, edição e a apresentação são minhas e a arte das capas dos episódios é feita pelo Hugo Biella.

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Laurens van der Post foi, entre outras coisas, escritor, jornalista, filósofo e explorador sul-africano, falecido em 1996 aos 90 anos de idade. Expressou grande interesse pelos bosquímanos do Kalahari, um grupo de caçadores-coletores que habitam extensa região da África Austral. Os bosquímanos são povos antigos que apresentam uma profunda conexão cultural e espiritual com o Deserto do Kalahari. 

A passagem sobre Laurens não conseguir ouvir as estrelas, aparece no texto The Silence of the Stars (O Silêncio das Estrelas) do escritor norte-americano David Wagoner, que se encontra em seu livro Traveling Light: Collected and New Poems.

 

Certa noite, no deserto de Kalahari, quando

Laurens van der Post disse aos bosquímanos

Que não conseguia ouvir as estrelas

Cantando, eles não acreditaram. Eles o olharam,

Meio sorridentes. Examinaram seu rosto

Para ver se ele não estava brincando

Ou enganando-os. Então dois daqueles homenzinhos

Que nada plantam, que quase

Nada têm para caçar, que vivem

De quase nada e não contam com ninguém

Além deles mesmos, o levaram para longe

Da crepitante fogueira de arbustos espinhosos,

Ficaram com ele sob o céu noturno

E escutaram. Um deles sussurrou:

Você as ouve agora?

E van der Post concentrou-se, não querendo

Duvidar, mas teve que responder:

Não. Eles o acompanharam lentamente,

Como um homem doente, até o pequeno círculo

Escuro da luz da fogueira e lhe disseram

Que sentiam muito,

E ele sentiu ainda mais pena

De si mesmo e culpou seus ancestrais

Pela estranha incapacidade auditiva deles,

Que era agora sua incapacidade também. Em certas noites claras,

Quando as casas vizinhas desligam suas TVs,

Quando o tráfego diminui, quando as ruas

Estão entre as sirenes e os jatos no céu

Entre as travessias, quando o vento

Se arrasta por entre os abetos,

E a Coruja-pequena no bosque vizinho,

Entre um chirriar e outro, encara a própria escuridão,

Eu volto a olhar para as estrelas como fiz pela primeira vez

Na escola para decorar os nomes das constelações

E me lembro de minha primeira percepção de sua terrível distância,

Ainda consigo ouvir o que eu pensava

À margem do silêncio onde o interior brincava

Com as batidas do meu coração, com meu tráfego arterial,

O Dó sobre Dó Maior do meu ouvido interno, e comigo mesmo

Cantando desafinadamente, mas agora sei o que são:

Minha justa parte da música das esferas

E aglomerados de antigas estrelas,

Das canções das gargantas de velhos deuses

Que ainda cuidam das surdas criaturas

Em seus exílios no deserto.

 

Então, será que é possível ouvir estrelas?

Isso não seria coisa de apaixonados?

 

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.

 

Este foi o grande ator e diretor paulista, Juca de Oliveira, declamando Ora (direis) ouvir estrelas, soneto número XIII da coleção de sonetos Via Láctea do escritor brasileiro Olavo Bilac, lançado em 1888. Os versos traduzem a paixão que o poeta teve pela poetisa Amélia de Oliveira, irmã do também poeta, Alberto de Oliveira.

São versos onde um sujeito, apaixonado, dialoga com as estrelas. Quem ouve, o acusa de devaneio, por isso... Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!

 

E Belchior, grande compositor brasileiro, compôs, em 1978, sua canção Divina comédia humana, utilizando a citação de Olavo Bilac. A canção foi lançada no álbum Todos os sentidos.

 

E aqui temos um projeto combinando RAP com poemas brasileiros. É o Parna Rappers , que combina letras originais de poetas como Olavo Bilac, Artur Azevedo e muitos outros, com áudio e vídeo feitos por ferramentas digitais e IA.

Com vocês, MC Olavo Bilac! (https://www.youtube.com/shorts/uOwHSI_E-G4)

Aqui você ouve de tudo!!

 

Ao olharmos para o céu noturno, num local sem iluminação, vemos um grande tapete repleto de estrelas brilhantes que fascina o ser humano há milênios. Apesar de parecerem silenciosas e distantes, as estrelas não são tão silenciosas quanto imaginamos.

Mas, como isso seria possível?

Para entendermos como as estrelas emitem som, primeiro é preciso entender a natureza do som, que é uma onda mecânica que se propaga através de um meio material, como o ar, a água ou o metal. Ao vibrar, um objeto cria ondas de pressão que se movem por um meio material e nossos ouvidos captam essas ondas como som.

 

Contudo, aprendemos que no espaço, não há ar ou outro meio material para transportar as ondas sonoras. Então, como as estrelas poderiam emitir som através do espaço?

Sabemos que as estrelas vibram e oscilam internamente. As estrelas pulsam!

Essas pulsações são causadas por vários processos físicos, como a convecção de gases quentes e a rotação da estrela. Existe até mesmo um campo da astrofísica que estuda essas oscilações das estrelas, é a asterossismologia.

Deste modo, mesmo as ondas sonoras não podendo viajar pelo espaço, as oscilações das estrelas causam flutuações na luz emitida pela estrela e cientistas conseguem converter essas flutuações em dados que permitem que se possa “ouvir” as estrelas.

 

Mas, trago aqui a contribuição de um físico, professor da Universidade Federal de Jataí, meu caro amigo Alessandro Martins...

 

No vasto cosmos, as estrelas não brilham apenas em silêncio. Elas "cantam" — não com vozes como as nossas, mas através de vibrações poderosas que revelam seus segredos mais profundos. Esse fenômeno é como uma sinfonia cósmica, onde cada oscilação conta uma história sobre a vida e a estrutura desses astros. No entanto, não é possível ouvir esses sons diretamente. O som precisa de um meio material, como ar ou água, para se propagar, e o espaço entre as estrelas é praticamente um vácuo, impedindo que o som viaje até nós. Assim como os terremotos revelam o interior da Terra, as estrelas também têm seus próprios "tremores". No seu núcleo, reações nucleares e movimentos turbulentos de plasma geram ondas sonoras que ecoam por suas camadas. Algumas dessas ondas permanecem presas dentro da estrela, enquanto outras chegam até a superfície, causando variações de temperatura e brilho, fenômeno percebido como o "cintilar" das estrelas Telescópios espaciais, fruto da inteligência humana, captam essas oscilações, transformando-as em dados que os cientistas traduzem em frequências audíveis. O Sol, por exemplo, emite um "zumbido" contínuo, com notas tão baixas que seriam impossíveis de ouvir no vácuo do espaço — mas quando adaptadas, soam como um eco misterioso. Cada estrela tem sua própria "assinatura" vibratória. Estrelas muito maiores que o nosso Sol, as Gigantes vermelhas, produzem tons graves, enquanto estrelas jovens quando comparadas com o Sol emitem frequências mais agudas. Algumas até apresentam padrões rítmicos, como se fossem batidas de um coração cósmico. Além de ser uma experiência fascinante, ouvir a “música das estrelas” ajuda os cientistas a compreenderem melhor a evolução das estrelas e do próprio Universo, revelando informações sobre eventos que aconteceram há muitos bilhões de anos atrás.

Que delícia de texto, não!

Obrigado meu amigo, por contribuir e abrilhantar, este nosso episódio.

 

Estamos ouvindo, ao fundo Estrela, estrela, do gaúcho Vitor Ramil, música de 1980, ele que é irmão da dupla Kleiton e Kledir (https://youtu.be/zW47IrX9sak).

 

Mesmo que não possamos ouvir diretamente os sons das estrelas, cientistas vêm buscando maneiras criativas para converter as oscilações estelares em frequências de som, criando, assim, representações sonoras das estrelas. Assim, o som das oscilações de uma estrela pode ser convertido em um som que pode lembrar um tom musical e, com isso, podemos “ouvir” o universo.

 

O estudo destas oscilações estelares, além de nos trazer o som das estrelas, traz muitos benefícios para os cientistas, pois podem revelar informações como idade e tamanho das estrelas, suas estruturas internas e como elas evoluem, possibilitando, assim, entender mais sobre o ciclo de vida do universo.

 

Através da ciência, descobriu-se que a pulsação das estrelas é muito parecida com o que os cientistas imaginavam, mas com algumas variações, que indicam que ainda é preciso refinar as teorias sobre evolução estelar. Não é uma tarefa fácil. Como disse o professor Ian Roxburgh, do Queen Mary College de Londres: "Não é fácil. É como ouvir o som de um instrumento musical e depois tentar reconstruir a forma do instrumento".

O som emitido pelas estrelas são ondas acústicas infra sonoras, ou seja, ondas cuja frequência está abaixo da capacidade audível humana. E essas ondas são aceleradas para que possamos ouvi-las.

O Starmus Festival é um festival que une ciência estelar e exploração espacial. Starmus é uma junção de star com music e é organizado pelo astrofísico Garik Israelian e pelo grande guitarrista do Queen, o astrofísico Brian May. Neste festival, foi apresentado o projeto StarSounds, uma composição criada pelo músico Brian Eno, em colaboração com Garik Israelian e o estúdio DNEG de efeitos visuais, criou o vídeo que nos permite ouvir e "ver" uma sinfonia estelar. Deixei o link na transcrição do episódio para quem quiser conferir (https://youtu.be/46IqZFjRIbg). Caso você queira mais informações, acesse www.starmus.com.

E StarSounds é o som que estamos ouvindo ao fundo.

O professor de Astrofísica da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, Bill Chaplin, explica que os corpos celestes têm um som natural. Segundo ele, isso ocorre na camada externa deles, e esse som fica preso, o que faz com que ele ressoe – como um instrumento musical.

De modo surpreendente, quanto maior a estrela, menor será a intensidade desse som.

O Sol apresenta, então, este som... https://youtu.be/QznRhVRgvDk

Já uma estrela que a missão Kepler, da Nasa, observou, que é duas vezes maior que o Sol, apresenta este som... https://youtu.be/QznRhVRgvDk

 

Assim, se temos uma estrela maior do que o Sol, ela vai inspirar e expirar mais lentamente e, assim, a intensidade de sua ressonância natural – e suas oscilações – é mais baixa, afirma Chaplin.

 

Em 2019, a Agência Espacial Federal Russa postou um vídeo com a "música" emitida por pulsares, que são estrelas de nêutrons em rotação rápida, que emitem radiação muito intensa em intervalos curtos e regulares. Essas radiações foram convertidas em ondas sonoras e, assim, foi possível ouvir o som de alguns pulsares (https://youtu.be/UUhrduevDOs).

E o que acontece quando convertemos luz em som? Como seria o som das galáxias?

Usando imagens do Telescópio Espacial Hubble, tanto a cor quanto o brilho das galáxias foram usados ​​para atribuir os diferentes tons sonoros. Quanto mais brilhante a luz, mais agudo e mais alto seria o som. Deste modo, atribuindo sons a cada um dos três canais de cores usados ​​para processar as  imagens, ou seja, vermelho representando tons mais baixos,  verde em tons médios e azul em tons altos, cientistas conseguiram nos apresentar os sons de algumas galáxias (https://youtu.be/xh9_0_CNOvM), como estamos ouvindo ao fundo.

 

Entrando um pouco na questão espiritual, o filósofo e pensador francês Léon Denis, no livro O Espiritismo na Arte, livro que reúne uma série de artigos publicados em 1922 na Revista Espírita, diz o seguinte, na Parte IX, Terceira lição, intitulada “As vibrações sonoras nos espaços etéreos”: A música celeste não é produzida por fricções de arco sobre cordas: tudo é fluídico, tudo é espiritual, tudo é inspirado pelo pensamento de Deus.

Volto aqui, ao texto do físico e professor Alessandro Martins, que finaliza sua contribuição neste episódio dizendo...

 

O universo não é silencioso. Ele vibra, pulsa, canta — ainda que nossos ouvidos físicos não percebam. A Doutrina Espírita nos convida a perceber o universo como uma obra viva e sonora de Deus. A música das estrelas não é apenas poesia — é ciência, é espiritualidade, é revelação. Cada estrela que vibra no espaço é como uma nota da partitura cósmica, regida por uma inteligência suprema.

 

Então, da próxima vez que olhar para o céu estrelado, lembre-se: aquelas estrelas distantes podem estar “cantando”, e graças à ciência, podemos ouvir suas melodias.

Basta que olhemos para um céu estrelado, com o coração e mentes abertos, buscando ouvir a canção do Universo, como deve ter feito Flávio Venturini ao criar uma das mais belas músicas brasileiras: Céu de Santo Amaro.

 

Caso queira saber um pouco mais sobre esta linda música, fiz um episódio sobre ela. É o Música da Alma # 11 – Céu de Santo Amaro, que você encontra nas plataformas de podcast ou no link que deixei na transcrição deste episódio  (https://www.podcastmundoespiritual.com.br/post/m%C3%BAsica-da-alma-11-c%C3%A9u-de-santo-amaro).

Viram só. Ouvir estrelas é possível, como já diziam os bosquímanos do Kalahari.

Agora, espero que todos nós possamos ouvir o que as estrelas têm para nos dizer.

E é assim, embalados pelo som das estrelas, que vamos ficando por aqui.

Este é o podcast Mundo Espiritual e a produção, edição e a apresentação são minhas, Carlos Biella e o Hugo Biella é que faz a arte das capas dos episódios.

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Caso se interesse, tenho minhas palestras e outros vídeos em meu canal no YouTube. Procure por Carlos Biella, inscreva-se no canal e nos acompanhe. O link está na transcrição do episódio (https://www.youtube.com/channel/UCMpcMSh6nbb9LtujlgfabOA).

Busquemos ouvir as estrelas, pois elas devem ter muita coisa para nos dizer.

Alguém pode até questionar: ora, ouvir estrelas! Certo perdeste o senso...Então, que possamos dizer, como disse Olavo Bilac... Amai para entendê-las! Pois, só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas.

Deixo vocês com Kid Abelha e a música “Ouvir estrelas”, lançada no álbum Autolove, de 1988 (https://youtu.be/s2RnjzP5zvU).

Um grande abraço para o professor Alessandro Martins que contribuiu com este episódio.

Fiquem todos em paz, procurem ouvir mais as estrelas e até nosso próximo episódio.


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